O cocktail alucinante dos Green Milk from The Planet Orange, ou como um manifesto de ecletismo inconformista varreu o Maus Hábitos
O cocktail alucinante dos Green Milk from The Planet Orange, ou como um manifesto de ecletismo inconformista varreu o Maus Hábitos
O cocktail alucinante dos Green Milk from The Planet Orange, ou como um manifesto de ecletismo inconformista varreu o Maus Hábitos
Num dia de intensa chuva, houve um concerto que foi também uma autêntica tempestade: falamos, portanto, da estreia no nosso país dos Green Milk From The Planet Orange, banda japonesa cuja sonoridade é uma panóplia de influências “cuspidas” com uma adrenalina fulminante, numa demonstração de ecletismo sem fronteiras, onde a energia incendiária, quase incontrolável, com que as composições eram debitadas deixou-nos completamente arrasados. Alma punk, explorações psych e estruturas prog/math a conviver pacificamente numa das sonoridades mais irrequietas e admiravelmente dinâmicas – ora abraçada à melodia etérea, ora entregue ao ruído surreal – que alguma vez escutámos. Na verdade, mais do que um concerto, isto foi uma bomba sensorial disparada sem tréguas, um grito de libertação e autodeterminação artística a transbordar de garra e criatividade desenfreada.
O próprio cenário, com os elementos da banda a atuar no meio da sala rodeados pelo público, sentados em cadeiras que ocasionalmente usavam para se pôr de pé, criou um ambiente de intimidade ímpar – as barreiras tinham sido derrubadas e só restava a enorme proximidade com que absorvíamos aquelas malhas a um volume ensurdecedor, com o Maus Hábitos transformado numa espécie de ringue sonoro onde a punição era catarse. O mais impressionante é que não só de pujança vive o grupo, pois todos eles são músicos exímios capazes de interpretar músicas com uma precisão estupenda, tão visceral quanto a explosão de energia que desencadeiam. Entre um virtuosismo que nunca soava a mera exibição, uma criatividade aparentemente inesgotável e uma entrega absolutamente arrebatadora, assinaram um dos mais fabulosos concertos (e com direito a encore, a cereja no topo do bolo) que este espaço – e o Porto inteiro, honestamente – alguma vez recebeu. Montanha-russa emocional e musical, a alma agradece e o corpo não esquece.
Texto: Jorge Alves