
Venga Venga na Socorro: um pezinho de dança pode ser também um passo de mudança
Venga Venga na Socorro: um pezinho de dança pode ser também um passo de mudança

Venga Venga na Socorro: um pezinho de dança pode ser também um passo de mudança
Os brasileiros Venga Venga, dupla de São Paulo a viver em Lisboa, regressaram ao Porto para apresentar os temas do mais recente EP Extraviados (e recordar uns quantos outros) com um concerto na cave da Socorro que, acima de tudo, foi um belíssimo manifesto em forma de ritmo, dança pura como reação ao ódio bafiento que polui os dias de hoje. Apostando numa eletrónica experimental bem corpulenta, de excecional sabor global mas fiel ao Brasil, que os viu nascer – as influências do nordeste brasileiro surgem, aliás, como cartas de amor vibrantes e coloridas, modernizadas com pujança na exploração do presente -, ofereceram uma explosão de ritmos contagiantes e mirabolantes, espécie de carnaval futurista, em que a festa calorosa constitui um grito pela igualdade – isto numa altura em que as forças políticas conservadoras se unem para travar os direitos destas mesmas pessoas (imigrantes e membros da comunidade LGBTQIA+, portanto) que aqui nos renovaram o corpo e a alma com a pureza da sua luz.
Contudo, não foi tanto de discursos incisivos que viveu a atuação da dupla (apesar de ter havido um momento dedicado a isso, fantástico, por sinal, em que comentaram que “não é fácil ser bicha contemporâneo em 2025”), mas antes do som – e sobretudo da celebração coletiva que a união melómana faz florescer – como instrumento transformador de inclusão. No fundo, a diversão em harmonia para combater a fobia, o estar com a comunidade para absorver, sem preconceitos e com o coração aberto, toda a beleza do seu mundo. E foi exatamente isso que aconteceu nesta matiné de sábado, maravilhosamente intimista, em que vimos o público a dançar com um sorriso na cara, a cantar com paixão quando a banda assim pedia, e a acolhê-la com o mesmo carinho com que esta se entregou a quem a quis ver. No final deste concerto, Ricardo Don e Denny Azevedo, o casal que faz Venga Venga acontecer, trocaram um beijinho entre eles; não é “encenação”, é a exibição afetuosa que resume toda a intenção do grupo: normalizar o amor e combater a intolerância, para que dessa utopia se construa uma nova realidade – igualitária, equitativa e deliciosamente livre.
Texto: Jorge Alves