Acid Mothers Temple: com eles, o ruído é um portal para a transcendência máxima

Acid Mothers Temple: com eles, o ruído é um portal para a transcendência máxima

| Maio 8, 2025 10:16 am

Acid Mothers Temple: com eles, o ruído é um portal para a transcendência máxima

| Maio 8, 2025 10:16 am

Foi na passada quarta-feira (30 de abril) que os japoneses Acid Mothers Temple voltaram ao Porto para duas sessões, no mesmo dia e no mesmo local, de um rock psicadélico surrealmente intenso e deliciosamente esotérico –  “trip” marada que fez a mente alucinar e a alma rejubilar.

Logo na primeira destas duas sessões – marcada de modo a permitir que todos os que não arranjaram bilhete para a data original pudessem ver a banda -, fomos brindados com uma atuação monumental, o volume implacável e ensurdecedor a arrepiar-nos cada canto da alma enquanto “engolia” a sala num buraco negro de pujança sonora. Era como se tivéssemos entrado noutra dimensão, extasiados – mas também algo intimidados – que estávamos com esta parede de som que se ia erguendo de forma magistral para nos conduzir a uma catarse libertadora.

Não haja dúvidas – isto foi completamente avassalador, arrepiante até e comparável, a nível de volume, à passagem do The Bug pelo Milhões de Festa, em 2015, ou até a um concerto dos Sunn O)). E a verdade é que as próprias músicas do grupo nipónico – este ano a comemorar três décadas de atividade desde que foi originalmente criado pelo guitarrista Kawabata Makoto – parecem ganhar ainda mais vida e ânimo quando volume está assim “descontrolado”, no limiar da loucura, porque passamos de um “simples” concerto bom para algo que mais parece uma experiência religiosa. E o melhor é que a experienciamos no clima bem intimista do espaço da Lovers – uma espécie de garagem “artsy” e despojada, mas com estilo, onde a banda, bem no centro, toca para o público que a rodeia, sempre bem próximo.

De certa forma, acaba-se por desconstruir aqui o conceito de barreiras, e houve mesmo alturas em que banda e audiência ocupavam praticamente o mesmo espaço enquanto ambos cantavam à capela, num dos momentos do concerto em que o ruído deu lugar à contemplação vivida em comunidade. De resto, houve guitarradas ferozes decoradas com tons psicadélicos, teclados mirabolantes, explorações frenéticas de bateria, e toda uma transcendência que tanto nos soava selvagem como espiritual – como se o barulho fosse um meio de nos reaproximarmos da nossa essência.

Quando tudo acabou, subimos as escadas em direção à zona da cozinha/bar comunitário (não é assim que se chama, claro, mas é assim que é vivido) e comentámos que até estávamos prontos para mais uma dose. Não nos foi possível obtê-la, já que a sessão estava mesmo esgotada, mas ficou claro que tão cedo não nos esqueceremos desta tarde.

 

Texto: Jorge Alves

Fotografia: Carolina Ribeiro

 

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