Reportagem: Live Low + Fujako

Reportagem: Live Low + Fujako

| Fevereiro 2, 2015 9:56 pm

Reportagem: Live Low + Fujako

| Fevereiro 2, 2015 9:56 pm
Live Low é o novo projecto de Pedro Augusto. Até então conhecido pelos trabalhos desenvolvidos sobre o pseudónimo Ghuna X — o seu alter-ego dedicado à exploração das sonoridades mais puras e ruidosas do hip hop — e por alguns projectos realizados na área das bandas sonoras e das instalações, Live Low é o mais recente escape criativo de Pedro Augusto. O lançamento da sua K7 pela prestigiada Tesla Tapes dá o mote a uma tour de apresentação de Live Low pelo nosso país.
Foi no Passos Manuel que a Threshold teve oportunidade de assistir de perto a este projecto, bem como aos Fujako, um dos side-projects de Jonathan Saldanha no qual faz dupla com Nicolas Esterle (RIPIT para os amigos da música).

Falemos primeiro da actuação dos Live Low, na qual Pedro Augusto se fez acompanhar do guitarrista Luis K. que colabora na K7. Apesar da sua só constar na faixa “Evil Money” da K7, Luis K. participou por inteiro no concerto do Passos Manuel, apontando e complementando as faixas com os seus riffs, aumentando a fasquia da complexidade da paisagem sonora construída por Live Low. Complexidade é um termo que sempre andou de mãos dadas com as sonoridades de Pedro Augusto. No entanto, é notável a organização na cartografia destes novos territórios sonoros. O som encontra-se mais limpo, mais introspectivo — a presença da guitarra na interpretação das faixas ao vivo ajuda neste ponto. Conforme afirmou na sua entrevista ao Público, o espírito de solidariedade para com as causas ecológicas foi o mote para este trabalho. Esta preocupação está patente, inclusive na organização dos samples dentro das faixas. As músicas oferecem espaços para pensar, espaços esses maiores que aqueles permitidos pela estética de Ghuna X.
A imersão no caos era uma das assinaturas de Ghuna X. Agora em Live Low, Pedro Augusto encontrou um equilíbrio entre o seu eu introspectivo e o seu alter-ego caótico e ruidoso.


Além das actuações de DJ Lynce e Phantasma, o outro destaque da noite recai inevitavelmente para a dupla Fujako. Jonathan Saldanha é um dos vultos do underground musical português. Comanda — em conjunto com Filipe Silva — o colectivo/label SOOPA, é figura de proa dos HHY & The Macumbas, participa em muitos outros projectos sonoros e é ainda metade dos Fujako, dupla na qual faz parelha com o produtor Nicolas Esterle AKA RIPIT. O concerto de abertura da noite pertenceu aos Fujako, que se estrearam ao público português na sequência da edição do mini-álbum EXOBELL.


O MC Sensational, que ocasionalmente acompanha os Fujako nos seus concertos e é presença assídua nas suas faixas, esteve ausente neste concerto. No entanto, MC Sensational fez-se sentir e ouvir na cave do Passos Manuel pela presença dos seus samples vocais, complementando liricamente algumas faixas. Se somarmos a estes apontamentos de dub, algum drone, muito hip hop, noise, distorção e, esporadicamente, alguns apontamentos 8-bit à mistura e beats monolíticos, começamos a pintar um quadro bastante ilustrativo da estética dos Fujako. Um quadro algo complexo, indubitavelmente. Afinal de contas, retratar com exactidão algo que faça justiça a todas estas características é uma tarefa complexa, mas é este o grau de complexidade do som dos Fujako. A própria descrição da sonoridade de Fujako é uma tarefa complicada, dada a falta de vocabulário adequada para fazermos uma tradução do mesmo. Notável também é que, no seio deste projecto, está uma aldeia no centro do rural Portugal, chamada Fujaco. Foi lá, na plena simplicidade do campo que os Fujako extraíram a essência da sua sonoridade. Leiam mais  sobre este assunto aqui, nesta entrevista que o Jonathan deu ao Bodyspace. Um pouco como os Live Low, também os Fujako subtraíram de uma paisagem simples a complexidade sonora composta por várias camadas. No entanto, se tivesse que classificar a sonoridade dos Fujako, diria que era hip hop, do bom. 

A digressão dos Live Low continua sem os Fujako.
As datas restantes da tour ficam abaixo.

14/02, Braga – Juno Café
06/03, Barcelos – Casa Azul 
07/03, Esposende – Avesso
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