Bizarra Locomotiva
Morturio

| Abril 2, 2015 12:51 am

Mortuário // Rastilho Records // Fevereiro de 2015
8.6/10

Bizarra: Característica do que é estranho, grotesco ou incomum. 
Locomotiva: Máquina a vapor, elétrica, de motor a diesel, de ar comprimido etc., montada sobre rodas e destinada a rebocar um comboio de carros ou de vagões sobre trilhos. 
É na junção destas duas palavras, de significados distintos, que reside uma das mais importantes bandas do panorama Industrial português. Com mais de vinte anos de carreira, e já sem ter nada a provar, esta locomotiva mostra que nem sempre velhice é sinónimo de desleixo/relaxamento e apresenta-nos um dos discos mais fortes da sua carreira (se é que há algum fraco). 

Mortuário, o sexto álbum de Bizarra Locomotiva, é portador de uma violência enorme (!) tanto no seu conteúdo lírico como na potência dos riffs de guitarra (de Miguel Fonseca) combinados com os vocais de Rui Sidónio. Na “Febre De Ícaro”, primeiro tema do disco, vemos isso mesmo: uma sonoridade crua e densa capaz de meter qualquer um a fazer headbang (a intro tambem ajuda). “Hecatombe” é canção para constar num qualquer thriller made in Portugal… estamos prontos para gritar “Orai! Orai!” juntamente com Rui Sidónio, aquando da descida da “estrela de cinco pontas invertidas” para não lhe chamarmos outra coisa. 

“Sudário de Escamas” arrepia logo à audição dos primeiros guturais. Estes, conjugados com o hiper-groove de guitarra, os sintetizadores a fazerem de orgão de igreja e a maquinaria imparável no background tornam esta música numa das melhores do disco. O break aos 3:08 acompanhado dos típicos sussurros de Sidónio tornam este tema em algo do outro mundo… ou do submundo, podemos mesmo dizer. À quinta música chegamos a “Intruso”, que é talvez o melhor cover de Peter Gabriel que já ouvi na vida. O clima que já era sombrio, nos anos 70, transforma-se numa densa umbra, em 2015, penetrando-nos peito adentro e deixando-nos com calafrios. Uma espécie de remake bom do Massacre no Texas: o suspense é aumentado mas a história mantem-se fiel à original, mudando-se apenas o estritamente necessário. Só com a música traduzida para o Português é que percebemos o quão assustadora ela é… 

“Na Ferida Um Verme” mostra-se como sendo a música mais rápida e mais susceptível a que acontecam mosh pits, ao vivo. Um verdadeiro hino! 
A electrónica vem ao de cima no tema seguinte: “Foges-me em Chamas”. É a malha mais calma de todo o disco… calma mas não calminha… a ambientalidade negra desvanece-se por completo, chegada a altura do refrão, ganhando tonalidades quase de Death Metal. (“Foges-me em chamas, resgato-te os ossos”).

Em suma, este Mortuário é, possivelmente, o disco mais coeso que os Bizarra Locomotiva lançaram em toda a sua carreira, não havendo uma única música que possamos dizer que seja “menos boa”. Assustador, negro, demolidor, claustrofóbico… são muitos os adjectivos que se podem aplicar a este trabalho. Uma verdadeira obra-prima da música portuguesa e um dos álbuns a ter em conta para as listas de melhores do ano (pelo menos para quem as faz). A Locomotiva demorou 6 anos a chegar à sua nova paragem mas chegou bem e melhor que nunca… afinal “Devagar se vai ao longe”.

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