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Kikagaku Moyo © Luís Martins |
Foi na Galeria Zé dos Bois que os samurais do rock psicadélico se apresentaram pela primeira vez na capital, este sábado, trazendo consigo toda a misticidade a que se dá o nome de Kikagaku Moyo, as formas geométricas. Todo o ambiente da noite parecia estar a construir-se para um ritual nipónico, no céu brilhava uma lua em quarto crescente e a humidade estava exatamente certa para que cogumelos brotassem do ar frio que cobria a zona de convívio da ZDB, cogumelos nutridos de um cheiro colorido assoberbante que pairava por ali e só parecia intensificar-se, até que, às 22h15 começaram a ouvir-se uivos e assobios; os misteriosos mestres da cena psicadélica mastigada pelo space do Japão tinham subido ao palco e afinavam os instrumentos para construir uma floresta e fazer-nos lisboetas umas crianças perdidas.
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Kikagaku Moyo © Luís Martins |
Tudo ligado para a viagem com uma baixa luminosidade, os austronautas orientais começaram a desenvolver progressivamente umas escadinhas que paravam numas nuvens chamadas “Smoke and Mirrors” e gentilmente convidaram-nos a subir e a ver o que eles viam, acariciando-nos com lindos riffs de guitarra ora sobressaídos ora abafados pela sonoridade única da sitar de Ryu Kurosawa, levando tudo a um ritmo muito zen e nirvanesco e enquanto todos meditavam de olhos fechados no alto da nuvem, eles repentinamente mudaram o rumo das suas melodias desencadeando o cataclismo do Bairro Alto. Dentro da galeria não se viam cabeças paradas e quando se olhava para o palco só se enxergavam 5 homens com cabelos a esvoaçarem perdendo completamente a visão, mas não que precisassem dela, de olhos fechados pareciam tocar melhor do que de olhos abertos. Pausavam de 20 em 20 minutos, cada 20 uma faixa, para agradecer no seu inglês com carregado sotaque japonês e deixar o público respirar. Mas entre tanta malha há que se dar ênfase “Hem” e “Kodama” as que tiveram maior impacto no público e consequentemente as mais longas, inclusive uma das que teve a honra de receber um solo de bateria para a introduzir seguido depois de um duo com o baixo. Os japoneses foram fogo no ZDB transformando todas as suas faixas em organismos com o seu próprio ritmo de respiração e pondo-nos numa relação simbiótica com o som que ecoava, nós alimentávamo-nos e o som tinha uma casa aonde ficar. E depois de um bravo encore infelizmente tivemos que dizer o inevitável “Adeus, até à próxima!” e se fosse por quem ali estava, a próxima está mais próxima do que pensamos, e assim seja!
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Kikagaku Moyo © Luís Martins |