Tame Impala
Currents

| Julho 20, 2015 8:34 pm

Currents // Interscope Records // Julho de 2015
6.4/10

Como qualquer outro clichet indie, depois de um grande álbum, segue-se um sucessor um pouco mais aquém das expectativas. Vimo-lo acontecer com vários artistas como Mac Demarco The Growlers e o novo dos Tame Impala não é excepção mas também não é propriamente o que faz a regra. Para já temos que ter em conta que Lonerism, o antecessor, foi a versão melhorada de tudo o que Innerspeaker tinha para nos oferecer; um álbum maciço que pavimentou a estrada do psych-pop e psych-rock moderno com um baixo que serviu de debulhadora para outros do mesmo género. Para ultrapassar um álbum destes, Kevin Parker tinha que fazer o impossível, mas ele é humano e Currents surgiu.

Para se ouvir Currents e apreciar o que ali foi feito, é precisa uma grande capacidade de adaptação, não só porque perdemos o santo baixo mas porque todo o álbum é construído à base de sintetizadores e riffs de guitarra repetitivos mas cativantes. Os singles não representam, de todo, o que o álbum é, e lembro-me muito bem até de comparar músicas como “Yes, I’m Changing” e “‘Cause I’m A Man” (singles terrivelmente mal escolhidos) a uma versão low budget do que os The Holydrug Couple tinham feito com Moonlust, álbum editado este ano. Mas tirando essas duas faixas e mais uma ou duas, o álbum não é mau. É diferente, o próprio Kevin diz que está a mudar, e o interessante no álbum é que ele tem uma grande coesão entre as faixas, como se se encaixassem como peças de um puzzle. “Let It Happen”, por exemplo, é um óptimo primeiro single, apesar de ser pretensiosamente extensa sem um grande propósito, é quase uma cassete que fica encravada a meio e depois retoma ao seu curso normal, que se encaixa na perfeição com a faixa seguinte “Nangs”, uma faixa bastante etérea deitada numa nuvem de synths. Em sequência temos então “The Moment” que parece uma música que foi feita para saltitar num bosque feito de doces, é muito dreamy, até me atrevo a comparar com uns cheiros a The Turtles. E o álbum vai sempre seguindo esta nova estética que, embora mais difícil de engolir, é bastante apreciável no certo humor e disposição. Uma faixa que também se deve dar alguma ênfase em Currents é a faixa que fecha o álbum, “New Person, Same Old Mistakes” é uma música que tem toda uma certa misticidade nela, os sintetizadores vão num fluxo musical completamente diferente do resto do álbum sentindo-se uma carga melancólica muito mais pesada, e por isso se destaca do resto do álbum e ainda bem que se destaca.

Mas o meu grande problema com Currents, para além da má escolha de singles, é que as melhores faixas do álbum não têm mais do que dois minutos; “Nangs”, “Gossip” e “Disciples” são as estrelas neste álbum, e eu atrevo-me a capitalizar “Gossip”, uma faixa de apenas 55 segundos, e esta sim merecia a duração de “Let It Happen”; as melodias na música parecem todas unir-se numa escada pronta para dar um espaço para uns Tame Impala à antiga descerem e voltarem do céu porque, bem, estão mortos. Vi escrito em algum lado que Currents era um álbum que descansava à sombra dos vocais de Kevin Parker: um absurdo digo eu; durante toda a duração do álbum Kevin parece estar, não só, a arrastar-se para cantar como usa o falsetto em demasia como se fosse a única maneira que algo iria resultar. Finalizando, Currents precisa sim de algumas arestas limadas, mas dada a experiência, Innerspeaker também precisava e a banda conseguiu dar a volta à situação, portanto pensem neste novo álbum apenas como um protótipo para algo muito grande que virá suceder.