Reportagem: ANOHNI [Coliseu do Porto – Porto]
Reportagem: ANOHNI [Coliseu do Porto – Porto]
Reportagem: ANOHNI [Coliseu do Porto – Porto]
Dia 21 de junho, o dia a seguir ao dia “mais longo do ano”, foi provavelmente o dia “mais quente do ano” e também o dia em que ANOHNI tocou no Coliseu do Porto para apresentar o primeiro disco em que assume a sua figura feminina, Hopelessness. Por volta das 21:20, ainda com bastante luz natural eram muitos os que ainda assistiam ao cativante Croácia – Espanha no ecrã gigante da praça de D. João I. Eram muitos também os que subiam a rua de Passos Manuel em direcção ao Coliseu.
Tudo ficou escuro, viram-se Daniel Lopatin (ou Oneohtrix Point Never, que colaborou na composição de Hopelessness) e Christopher Elms, que se instalaram dos lados do palco. Apareceu uma outra mulher no ecrã, começaram as primeiras batidas e entrou a voz arrepiante de ANOHNI com a canção homónima do disco. No fim desta primeira música a cantora entrou em palco vestida com uma túnica com capuz e um véu negro que lhe tapava a cara. Seguiu-se “4 Degrees”, o primeiro single da artista, e uma mulher diferente apareceu no ecrã, os seus lábios moviam-se como se ela estivesse a cantar a música. Demonstrava vários sentimentos e estados de desespero, todas as canções tiveram este acompanhamento visual com mulheres diferentes.
Pelas vestes e acompanhamento da música podemos pensar em ANOHNI como uma “mensageira”, com a cara tapada pois não é o foco, da história de todas as mulheres que iam aparecendo (e de muitas outras por todo o mundo). Ouvindo com atenção as letras percebemos a dimensão denunciadora e política do seu conteúdo. Isto também explica o porquê da cantora não ter dirigido uma única palavra ao público. Não era um mero concerto em que a banda é congratulada pela criação de execução das músicas. As músicas foram todas tocadas e cantadas de forma arrepiante e perfeita, mas não foram criadas para serem aplaudidas, foram criadas para incitar a acção.
Durante cerca de 1 hora e 10 minutos Hopelessness foi tocado na integra e apresentados temas que, infelizmente não fizeram parte deste registo, “Paradise”, “Ricochet”, “Jesus Will Kill You”, “Indian Girls” e “In My Dreams”, a única vez que foi possível ver a cara da artista no ecrã. “Drone Bomb Me” foi o ultimo tema tocado e onde voltamos a ver Naomi Campbell, agora em lágrimas. Apagaram-se as luzes e ouvimos um discurso de Ngalangka Nola Taylor intitulado “What Are We Doing With The Earth?”. Quando as luzes se ligaram o palco tinha sido completamente abandonado e todos os presentes se levantaram para um longo e merecido aplauso.
O concerto de ANOHNI foi, provavelmente, o melhor a que assisti, não só pela sua poderosíssima voz (que me deixou completamente arrepiado o tempo todo) mas também por todo o simbolismo. “What Are We Doing With The Earth?”.