Reportagem: ENTREMURALHAS 2016 [Castelo de Leiria] – 3º dia
Reportagem: ENTREMURALHAS 2016 [Castelo de Leiria] – 3º dia
Reportagem: ENTREMURALHAS 2016 [Castelo de Leiria] – 3º dia
Ao terceiro dia e último dia do festival Entremuralhas (sábado, 27 de agosto) já as saudades começavam a apertar. Apesar de ter sido uma edição mais fraca, em termos de cartaz, face à edição anterior, as expectativas para o último dia estavam altíssimas. Havia Corpo-Mente para ver em estreia nacional, sendo também o primeiro concerto da banda francesa ao vivo. Mais uma vez, o dia da despedida do Entremuralhas, foi um dia esgotado com 737 pessoas a passearam pelo Castelo de Leiria. O público, esse, continuava incrível e a saber estar num concerto.
Era o derradeiro dia de encerrar palcos e, além de Corpo-Mente, ainda havia Vive La Fête, Kite, IANVA, Har Belex e Geometric Vision para meter no campo de visão.
Relativamente ao ambiente, a merchadising da marca ENTREMURALHAS aumentou este ano, havendo ofertas como sacos de ombro e canecas para comprar. A t-shirt da sétima edição também era toda gira e ainda havia a possibilidade de adquirir a versão em formato cavas, para as mulheres. Uma edição marcada pela inovação na comunicação da marca e mais um ano cheio de emoções e concertos memoráveis.
Har Belex
Era um dos concertos mais aguardados para os fãs de folk, também por ser o único dedicado exclusivamente ao neofolk. Na bagagem traziam Chandelle(2014) e Camino de Brea, o segundo disco de estúdio da banda, editado este ano.
Os Har Belex abriram o concerto na Igreja da Pena com “A Ray of Moon”, numa atitude muito carinhosa que teceu os primeiros sorrisos nos rostos dos que viam o concerto na dentro e fora das paredes da monumental Igreja da Pena.
Os Har Belex ao vivo são tremendos e no palco que lhes foi dedicado souberam construir um espetáculo bastante intimista. “Freedom”, a revisitar o EP Time Does Not Forgive, foi um momento de intensa percussão, junto a uma voz grave e de pinceladas negras, que envolveu todos aqueles que os ouviam.
Os Harb Belex deram um pulo até Chandelle e o público ouviu ainda “Six A.M.”, “Der Akerbeltz”, “Annual” (que finalizou com Salva Maine a apresentar os quatro músicos em palco), “Springtime” e “Pathways”. Após um agradecimento em português o vocalista afirmou ter sido um prazer tocar no Entremuralhas, aproveitando a deixa para agradecer à organização. A finalizar o concerto a banda tocou “Gernika”, onde todos os músicos tocaram de pé.
O concerto teve fim às 19h13 com os Har Belex a abraçarem-se e fazer uma vénia ao público. Muito bonito.
De forma sucinta e curta os Geometric Vision conseguiram uma das performances mais aborrecidas do festival ao lado dos monótonos Dark Door.
Depois de uma performance envolvente da banda que tinha tocado anteriormente no mesmo palco, o público esperava por algo melhor e os Geometric Vision não conseguiram surpreender. O concerto teve uma duração demasiado extensa (dado o atraso de 50 minutos), e a encurtada hora de jantar também não ajudou à festa.
A abrir com “Black Heaven”, os Geometric Vision vão chegando a palco cada uma nas suas calmas, para um concerto em que Ago Giordano não olha nunca para o público. À medida que o concerto avança o vocalista/teclista vai fazendo uns gestos, que de alguma forma, se relacionam com a morte (em “Think” simulava cortar o pescoço com uma faca). No fundo são tudo coisas e insignificantes e em termos de evolução do espetáculo não há muito a reportar. O concerto ficou muito chato logo no início e isso notou-se nas pessoas que iam abandonando o recinto do palco com o avanço do tempo.
Uma absoluta desilusão.
Com seis elementos da banda em palco, o concerto teve início às 21h22 com “La Stagione Di Caino”, que funcionou como uma excelente escolha de início e atraiu mais espetadores ao seu redor. Com “Portatori Del Fuoco” iniciado, entra em palco o vocalista Mercy que é posteriormente intercalado por Stefania T. D’Alterio, em “Sul Mio Sangue”, música que converteu até os olhos mais longínquos ao palco. Ainda em apresentação de La Mano Di Gloria(2012) os italianos tocaram “Della Morte Me Ne Rido“.
O espetáculo dos IANVA estava a ser muito envolvente e “Luisa Ferida”, um dos singles mais marcantes em 13 anos de carreira, deixou qualquer um apaixonado pela sua performance em palco. A presença de Stefania D’Alterio em palco deixou muitos, dos não conhecedores da obra do octeto, completamente extasiados e outros com um sorriso estampado na cara. Os músicos Fabio Carfagna (guitarra), Francesco La Rosa (bateria), Fabio Gremo (guitarra), Azoth (baixo), Giuseppe Spanò (piano), Davide La Rosa (acordião/precussão) e Gianluca Virdis (trompete) foram igualmente incríveis e souberam dar um grande espetáculo. A mudança entre voz masculina e feminina também ocorreu de forma muito coordenada. Mais um concerto do Entremuralhas a deixar a alma aquecida.
A revisitar ainda o EP La Ballata Dell’Ardito(2005) e o disco Disobbedisco!(2006), os IANVA souberam intercalar em concerto os seus trabalhos mais antigos com as sonoridades mais recentes. “Tango Della Menade“, foi outro dos grandes momentos do concerto.
Em “Muri d’Assenzio” Mercy volta em destaque como vocalista, enquanto fuma um cigarro, para um concerto onde os restantes músicos se apresentam como estátuas.
A fechar o concerto os IANVA tocaram Dov’eri Tu Quel Giorno? com sete músicos em palco e dois percussionistas. Depois voltaram a palco para um “Boa noite Portugal”, em português, e uma banda maravilhada por ter tocado para um público tão belo.
Uma excelente abertura para aquele que viria a ser o grande concerto desta terceira edição: Corpo-Mente.
Já era de esperar, afinal nota-se um espírito de equipa gigante entre os dois membros da formação (Gautier Serre e Laure Le Prunenc) com os três músicos exímios que os acompanham atualmente – Nils Cheville na guitarra, Antony Miranda no baixo e Vincent Beaufort na bateria, tudo músicos profissionais que também contam com projetos paralelos. Portanto, de uma banda onde todos os elementos são extremamente ativos na cena musical era de se esperar um concerto à altura, mesmo sendo o primeiro. E claro está, foi mesmo. Genial.
Com concerto agendado para as 22h30, os Corpo-Mente já subiram a palco por volta das 23h00, pouco comunicativos, para iniciarem o espetáculo com “Scylla”, single de abertura do homónimo disco de estreia. No microfone também, o baixista Antony Miranda – que optou por colocar uma folha de papel envolta a este, a fim de colocar a sua voz em pano de fundo.
Embora “Ort” fosse muito desejada como música de encerramento do concerto, por ser um dos singles mais bem conseguidos do disco de estreia, a verdade é que os Corpo-Mente a escolheram como segundo single da setlist e comprovaram a todos que são uma banda relevante no panorama musical atual e que vieram para marcar a história da música dos anos 10 dos séc. XXI. Além da sonoridade inovadora os Corpo-Mente deram um concerto derradeiro e extremamente envolvente para uma estreia ao vivo.
Ainda em êxtase dos primeiros singles, a banda trazia na bagagem uma nova canção, “Lucil”, que viria como um bom acompanhamento do prato principal. De destacar ainda “Velandi” e a honrosa e conhecida “Fia”, que apesar do pequeno erro inicial, deu continuação a uma performance belíssima.
Em “Dulcin”, o guitarrista Nils Cheville mostra as suas qualidades de guitarrista geek e acrescenta um dedilhado de guitarra incrível que complementa a versão estúdio numa fórmula 100% harmoniosa. Quem lá esteve sabe do que se fala.
Com “Saelli” a apresentar um fim poderoso, ouviu-se o público a pedir “Dorma”. Laure ouviu e esboçou um sorriso enquanto se hidratava com água. Ouviu-se então “Dorma”, o primeiro single oficial dos Corpo-Mente enquanto banda, e a última música conhecida de um concerto que duraria uma hora. Para finalizar o concerto o quinteto francês tocou a segunda nova música, que na setlist se descrevia sob o nome “Idee 08”, mostrando o seu profissionalismo e qualidade musical, enquanto banda. Estava fechado o Palco Alma, mas o público queria mais.
Entre palmas, gritos e muitos “play one more song”, conseguiu-se um regresso dos cinco elementos a palco. Que lindo.
Antony Miranda avisa que a música que vão tocar chama-se “Lucil”, Laure questiona, “Lucil?” e os Corpo-Mente voltaram a tocar a terceira música do concerto. Se foi bonito? Foi lindo e só se queria que o concerto perdurasse noite fora mesmo com as músicas repetidas.
Uma história para contar aos netos.
Com o arranque do concerto a apontar para as 00h20, o duo subiu ao palco para assumir as suas posições nos sintetizadores, era a hora de ouvir a Witchcraft synthpop dos Kite. Apesar da escolha pouco feliz de “Nocturne” para abertura do concerto, a dupla rapidamente conseguiu alterar as obscuras primeiras impressões com “I Can’t Stand”, que foi quando o concerto a sério começou.
À quarta música, “True Colors”, os Kite meteram o público do recinto do Palco Corpo a dançar, muitos outros a cantar e claro, muitos braços no ar. Com a performance de “Up For Life”, os Kite faziam lembrar uns Air – numa versão underground – mas igualmente belos. A voz de Nicklas Stenemo pode não ser das mais fáceis de absorver, mas ao vivo parece ser facilmente recebida e cantanda. O esquema de luzes também estava extremamente bem conjugado com a execução instrumental levando a uma atenção constante do público de início ao fim.
“Jonny Boy” foi o grande momento do concerto, apesar da sua pobre lírica. Que todos oiçam o single pelo menos uma vez. Ao vivo, arrepiou a espinha e deixou muitas saudades a apertar o coração: os Kite estavam para se despedir e o Entremuralhas para acabar. Sem qualquer pausa encerraram o concerto com “Dance Again”, do EP Kite V(2013).
Nove músicas parecia pouco para um concerto no Palco Corpo e os suecos regressariam a palco para um encore com “Castle of Sand”. Ficaram assim registadas dez músicas e um concerto surpreendente que finalizou às 01h13. Que voltem em breve.
Cheia de energia Els Pynoo e companhia iniciaram o concerto às 01h42 com o conhecido “Nuit Blanche” e um público de aura negra pronto para mostrar as suas danças também, de certa forma, características. Uma excelente escolha para a abertura.
Electropop e dance-punk a dar com um pau e ouviu-se “Schwarzkopf”, “Naïve” e “AC”. Viva a festa!
Os Vive La Fête fizeram parte da soundtrack dos filmes do cineasta Xavier Dolan e, portanto, “Exactment” e “Noir Désire” eram apontados como dois singles muito aguardados do concerto. O público pôde ouvir ambos e viajar até à adolescência. Como pano de fundo ainda se ouviu “Touch Pas”, “Jaloux” e “Maquillage”.
Depedida feita com “Noir Désire” e veio um encore mais oferecido que pedido, com mais três músicas: “Porque Te Vas”, “Vivre Sure Video” e “Popcorn”. Els Pynoo despediu-se do público, toda contente, e advertindo que não podiam tocar mais para que as pessoas de fora pudessem dormir descansadas.
No geral, e apesar da “responsabilidade” de fechar o Entremuralhas 2016, o concerto dos Vive La Fête acabou por ser razoável.
O Entremuralhas é sem dúvida um festival livre de preconceitos, para pessoas de mente aberta, que se realiza em pleno património cultural, no icónico Castelo de Leiria. Além dos concertos, muitos deles únicos e raros, é possível visitar um pedaço da história de Leiria e conhecer rostos já familiares. O Entremurulhas junta amor e dedicação de uma equipa, a FADE IN em parceria com a Câmara Municipal de Leiria, que é sentido na relação entidade-público, fazendo-nos sentir como uma presença importante a cada edição que passa. A contagem para a próxima edição já está iniciada. Para o ano há mais.
Lá estaremos.
Fotografia: Virgílio Santos