Reportagem: The Field + Xinobi [Musibox, Lisboa]

Reportagem: The Field + Xinobi [Musibox, Lisboa]

| Abril 4, 2017 9:12 pm

Reportagem: The Field + Xinobi [Musibox, Lisboa]

| Abril 4, 2017 9:12 pm



Chegados ao debaixo-da-ponte que é o Musicbox, primeiro foi a vez de Xinobi. Confesso: nunca vi Xinobi ao vivo, e apenas ouvi 1 ou 2 dos hits mais afamados deste sôtor do neo-electro-groove luso. Nunca ouvi muito dele porque o achei morninho – acho o seu som um pouco equivalente a pipocas de sábado à tarde (não sendo isto mau, apenas não é a minha praia). E podia ter feito os TPCs e ouvir coisas em casa, mas preferi a ideia oposta, entrar a seco no projecto de Bruno Cardoso. 


Portanto, sei que o concerto serviu para apresentação do seu novo álbum, On The Quiet, mas não me peçam opiniões sobre as novas músicas do Xinobi porque para mim foi tudo estreia. O que dizer então do concerto? Bem, entrei desconfiado mas saí persuadido. Não tinha noção da importância dada à guitarra por Xinobi ao vivo, foram desgarradas de cordas bem mais grandiosas que o que esperava. 


E se em casa bate-se o pezinho a ouvir o homem, ao vivo torna-se num pop-rock extremamente dançável (ajuda o facto de ter sido em formato banda com 4 indivíduos e não apenas um gajo com máquinas). E não quero desprezar o óptimo trabalho da Ana Miró como backup de voz e teclas, ou de Óscar Silva na guitarra e Vasco Cabeçada no baixo, mas o auge foi com a subida ao palco da Margarida Falcão, dos Vaarwell, para ajudar numa das melhores canções do set. Hei-de ouvir o novo álbum sem Musicbox, a ver se fico rendido a Xinobi.

Mas vamos ser sinceros, a malta não foi pelo Xinobi. THE FIELD, caramba. 

Se poderá haver quem diga que ele não passa de loops repetidos até níveis nauseabundos, então eu sou bulímico orgulhoso. Ninguém usa a repetição e acumulação com uma leveza e profundidade emocional como Axel Willner, que vem da Suécia fria e mete tanto calor nas suas músicas. E estava corroído em curiosidade em saber como iria ser ao vivo, se iria ser uma tradução literal das músicas editadas ou uma remistura criativa. Para além disso, ele viria apresentar The Follower, que a ser sincero é o menos imediato e impactante da sua carreira (mas ainda assim, muito bom), pelo que guardava também alguma apreensão. 

Axel cresceu, e nota-se na cor das capas dos álbuns: se a “fase branca” dos seus primeiros LPs parecia ser de música tão abençoada, a “fase preta” parece mais atormentada, de quem tem as suas crises de identidade e dores de crescimento (e até que ponto se quer isso para curtir a noite?). No entanto, a verdade é que qualquer coisa que se ouve deste DJ faz com que uma pessoa, para o bem ou para o mal, esteja grato por estar vivo – e eu teria apenas de confiar nele. Enfim, o concerto: começou com um crescendo a entranhar-se na música de fundo do Musicbox, e logo com “No. No…”, a minha música predilecta desta sua fase preta. 



Acabaram logo as minhas apreensões. A partir daí, foi uma viagem ondulante e totalmente hipnótica, e foi muito surpreendente como ele foi capaz de passar de uma faixa para a outra de formas tão subtis – aliás, como é toda a sua música, e onde reside a sua genialidade. Tenho pena que apenas tenha tocado uma ou duas músicas da fase branca, mas também soube escolher a dedo as melodias mais dançáveis dos últimos álbuns, como Monte Verita do seu último LP ou Cupid’s Head do álbum homónimo anterior. O corpo, esse apagou o tempo e o espaço à volta, estava em completo transe e submissão às nuances do shoegaze electrónico que enchia a sala e da multiplicidade de beats que iam aparecendo e desaparecendo, como que a derivar em alto mar. 

E o concerto acabou como começou: fade in, fade out. Cair em terra, a hipnose correu num segundo. O cliché diz que a felicidade é um instante que nos escapa pelos dedos: então, The Field ao vivo sem dúvida que lhe serve de metáfora apta.
Texto: Nuno Jordão
Fotografia: Rui Gameiro
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