Silent Whale Becomes A Dream
Requiem

| Dezembro 6, 2017 10:41 am

Requiem // Elusive Sound // novembro de 2017 
8.0/10 

Os Silent Whale Becomes Aº Dream estão de volta e trazem consigo uma das surpresas de 2017. Formado em 2004, o conjunto francês editou a sua primeira demo em 2006, seguindo-se o seu primeiro disco, Canopy, em 2009. Os quatro temas presentes em Canopy abordam uma vertente do post-rock instrumental com claras influências de música clássica e ambiente, tal como executado por grupos como os Mono e os Yndi Halda, mas acabaram por não ter a devida atenção aquando do seu lançamento. Ainda assim, rapidamente se desenvolveu um certo culto pela banda, tendo Canopy sido reeditado em 2011 pela Arbouse Recordings e novamente em 2013, numa colaboração entre a Arbouse Recordings e a Music Fear Satan. Os anos passaram e a banda apenas tinha dado sinais de vida em 2014 com o lançamento do tema “Architeuthis”, até que em fevereiro deste ano anunciaram que tinham assinado com a Elusive Sound. Em setembro passado, o conjunto confirmou que o seu segundo disco, intitulado de Requiem, teria edição digital já em novembro deste ano, seguindo-se uma edição em vinil em 2018.



Novamente composto por 4 temas, Requiem continua a explorar os mesmos recantos do post-rock já abordados em Canopy mas com uma maior maturidade e uma produção notavelmente superior. As composições voltam todas a ter uma longa duração que se revela fundamental para que estas cresçam naturalmente, dando maior fluidez às transições entre as secções mais ambiente e as passagens intensas, algo expectável após os franceses terem anunciado Requiem como sendo “an ode to slowness and to the art of feeling the world, a tribute to rare things, to things that need time to be“. 

Os títulos de todos os temas do disco parecem ter sido retirados do canto gregoriano “Dies Iræ” (Dia de Ira), que era habitualmente parte da tradicional missa católica dos mortos e que aborda o julgamento dos nossos pecados e a misericórdia após a morte. Esta temática pode ser transposta para a sonoridade explorada ao longo dos quatro temas, que nos transporta para um estado de introspecção profundo. Similarmente, a fantástica capa do disco também nos leva a relembrar o passado com nostalgia.



Logo a abrir temos “Dies Iræ, Dies Illa”, tema anteriormente revelado e que estabelece adequadamente a paisagem transcendental a ser navegada durante a próxima hora, ainda que não traga nada de novo à palete de sons usada pelo grupo. Segue-se “Cor Contritum Quasi Cinis” com um ritmo lento, quase fúnebre, bem ditado pela percussão e um ambiente mais sombrio muito bem conseguido pela secção de cordas. Em “Recordàre” temos o tema mais facilmente comparável ao trabalho dos Mono, com um ambiente etéreo e cinemático, mas com maior foco nas secções ambiente quando comparado com as composições do grupo japonês. Após o momento de reflexão final chega o julgamento, através de “Lacrymósa Dies Illa”, com um ritmo ligeiramente mais acelerado e que, com a sua parte final intensa e épica, nos indica que a nossa viagem está a terminar, pois há mais do que apenas relembrar o passado. 

Ainda que não quebre fronteiras dentro do post-rock, Requiem é um disco sólido e ambicioso, que certamente evocará emoções diferentes em cada ouvinte e que é sem dúvida capaz de transmitir a ideia de grandiosidade a que os Silent Whale Becomes A° Dream se tinham proposto neste regresso: “We want to tell you minimalist and deep stories. Stories about the infinite sky over your head, about the harsh ground under your feet. As promising and frightening as the vast ocean right in front of you“.



Texto por: João Barata


FacebookTwitter