Dream Weapon Ritual
The Uncanny Little Sparrows

| Fevereiro 13, 2018 2:25 am

The Uncanny Little Sparrows // Boring Machines // dezembro de 2017
8.5/10


Os Dream Weapon Ritual lançaram o novo The Uncanny Little Sparrows no final do passado ano e avance-se já que se trata de uma obra de mensagem forte e coesa e um disco que apesar de ter chegado tarde merece o seu destaque no campo da música electroacústica. Para os que estão pouco familiarizados com o nome, os Dream Weapon Ritual nasceram em novembro de 2006 e são um duo composto por Simon Balestrazzi – compositor electrónico/eletroacústico e artista sonoro ativo desde a década de 80 – e Monica Serra – uma atriz talentosa a atuar no campo da música desde 1999. Ambos são membros da banda de culto italiana T.A.C. (Tomografia Assiale Computerizzata). Este The Uncanny Little Sparrows chega três anos depois de Ebb&Flow (Boring Machines, 2014) num conjunto de 5 canções que abordam estilos que vão desde as paisagens sonoras construídas pela droning electronica às visões imaginárias da música folk


© Franco Casu

Embora The Uncanny Little Sparrows não apresente um tema de abertura facilmente digerível a qualquer ouvinte, pelo seu desenvolvimento relativamente lento, “Bird Mother” – o único single do Side A trata-se de um exercício sonoro extremamente competente e o primeiro a mostrar a voz nostálgica e obscura de Monica Serra pintada num quadro de feedback, percussão casual e uma electrónica fortemente monocromática. Por volta dos sete minutos, há uma clara evolução, num single que passa a apresentar um ritmo marcado e desafia o ouvinte a experienciar um panorama distópico mas igualmente relaxante e pacífico que, de uma certa forma, acaba por culminar num caos contido. “Bird Mother” apresenta os primeiros dezoito minutos de The Uncanny Little Sparrows e quem explorar estes momentos sem pausar está habilitado a um garantido deleite nos singles que o sucedem. 

Após o minimalismo conceptual de “Mating Call” há uma beleza ténue e extremamente tocante no segundo tema de avanço, “Two Little Sparrows Sitting On A Bough And Waiting For Enlightenment”. É após uma breve introdução aproximada a 45 segundos que os Dream Weapom Ritual afirmam a sua afinada essência para a composição musical com vários instrumentos a serem acrescentados à base sonora numa fórmula perfeita.



Já em “Tittle-Tattle Among Secret Devices” os Dream Weapon Ritual voltam a apostar numa introdução exploratória à resiliência do ouvinte e, numa atmosfera electrónica ligeira, a voz de Simon Balestrazzi começa a surgir (pela primeira vez neste LP) num timbre de toada gótica e post-punk-ish a trazer à memória uma mistura de Peter Murphy com Nick Wade. Resumindo: um ritual xamânico de ritmos tribais e construções de certo modo atípicas. Entretanto, já a chegar ao fim da jornada que é The Uncanny Little Sparrows, podemos ouvir “The One With The Iron Beak” tema de encerramento do disco que consegue trazer à memória uns The Knife (uma observação eventualmente motivada pela imagem dos Dream Weapon Ritual), mas num registo bastante arrastado e mais negro. 

The Uncanny Little Sparrows é, em suma, uma obra memorável de música avant-garde, extremamente artística e exploratória e um bilhete gratuito para uma viagem aos mais irreconhecíveis destinos. Sem dúvida um extremo deleite para qualquer melómano.