Reportagem: Esmerine [Understage, Porto]

Reportagem: Esmerine [Understage, Porto]

| Março 25, 2018 4:09 pm

Reportagem: Esmerine [Understage, Porto]

| Março 25, 2018 4:09 pm

Foi no dia 23 que os Esmerine passaram pelo Porto para a sua estreia absoluta em palcos portugueses. Pela mão da Amplificasom, o coletivo canadiano apresentou-se no Undestage do Teatro Municipal Rivoli para uma noite chuvosa, mas incapaz de travar o público portuense de encher o espaço. 


Naturais de Montreal, os Esmerine integram o catálogo da sempre imparável Constellation Records, casa de toda uma comunidade prolífica e inesgotável de artistas e músicos como Godspeed You! Black Emperor e Silver Mt Zion. Foi, aliás, do cruzamento entre dois ex-membros dos referidos grupos que nasceram os Esmerine, aquando das sessões de gravação do primeiro disco dos Set Fire To The Flames, com Bruce Cawdron (GY!BE) e Rebecca Foon (Silver MT. Zion) na génese de um dos mais encantadores projetos da editora canadiana. 



Num palco onde se verificavam mais instrumentos que pessoas, os Esmerine subiram de modo discreto e ao som de “The Space Between”, tema que introduz o mais recente disco Mechanics of Dominion, de 2017, e que serviu de pano de apresentação para a tour europeia que contou ainda com uma data em Guimarães. Ouviam-se os primeiros acordes do tema e ainda o público não se tinha apercebido do seu começo, mas a paz e serenidade proporcionada pelo coletivo não tardaria a absorver a sala com as suas composições bem vincadas e estudadas, num alinhamento que não fugiu muito do que ouvimos em estúdio, mas que trouxe uma aura relaxante e, por vezes, xamânica de momentos equilibrados entre o silêncio e a tensão. 



Donos de um som eclético que vai para além dos géneros aos quais são frequentemente rotulados, os Esmerine proporcionaram um bonito festim de composições minimalistas e clássicas fortemente influenciadas pelas experiências dos seus membros. A sua música é multicultural e aplica instrumentos fora do espectro convencional como em “La Penombre”, aqui acompanhada por uma kora, uma espécie de alaúde tipicamente africano utilizado pelos povos do oeste. Os drones que produzem soam majestosos, todos eles gerados através de instrumentos acústicos e clássicos, com violoncelo e contrabaixo a proporcionar camadas aveludadas de graves que se aliam à percussão ritmada da marimba, e que atingem o pico através de um pequeno mas presente instrumento de sopro. “19/14”, do antecessor Lost Voices, trouxe o lado mais explosivo da banda, com um muito expressivo baterista a mostrar o seu poderio bruto e a soltar um entusiasmo considerável por parte do público. O ataque aos pratos regressaria já próximo do fim do concerto, com “Que Se Vaián Todos” a trazer uma abordagem furiosa e breve de ordem jazzística. 

“Barn Board Fire”, já no encore, trouxe ao palco as raízes turcas de Dalmak (disco que lhes valeu um Juno Award para Melhor Álbum Instrumental, em 2014). A música trouxe um ambiente mais animado e uptempo que as demais, convidando o público a mover-se ao som daquela que é, pela palavras do próprio Bruce Cawdron, uma “música para dançar”. Ao som da belíssima “Lullaby for Nolan”, os Esmerine encerraram uma performance rica, introspetiva e subtil , provando o carácter único de uma banda extremamente dotada e unida.

Esmerine

Texto: Filipe Costa
Fotografia: Eduardo Silva

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