A música dos Lebanon Hanover é repleta de composições simples à primeira audição, mas que se encontram mistificadas por uma filosofia de vida muito profunda e analítica no que toca ao eu e à sociedade vivenciada pelo eu. A melhor parte disto tudo é verificar que desde a edição de estreia The World Is Getting Colder (2012) até este Let Them Be Alien os Lebanon Hanover tornaram-se bons músicos integrando, além das sonoridades dos saudosos anos 80, elementos da synthwave contemporânea e do jazz (como mostraram em Into The Abyss (2015)). Além dos excelentes liristas – que sempre foram – Let Them Be Alien mostra um ponto de equilíbrio entre as sonoridades pré e pós Into The Abyss – definitivamente o álbum mais ambicioso da banda, ao explorar territórios que até então não tinham sido abordados. Depois de um disco como o anterior é aceitável que em Let Them Be Alien algum do público seguidor admita que este novo registo seja do tipo chiclete, ou seja, mais do mesmo, afinal de alguma forma os Lebanon Hanover voltaram a abrigar-se nos campos sonoros que nos apresentaram com as três primeiras edições.
No entanto é na lírica que este Let Them Be Alien se destaca. Lembram-se dos tempos em que a dupla cantava “why not just be normal”?. Seis anos mais tarde vêm dar resposta a isso com o tema “Alien”, um single que reflete mais que nunca a sua essência como banda (na lírica pode ler-se “And until then my desolation / Will be my trademark / Iʼll always remain alien“). Em “Petals”, o tema de encerramento e um dos mais magistrais singles deste disco, pode ouvir-se “The darkness never been so dark / Without you my sweetheart“, e a verdade é que estes três anos sem músicas novas dos Lebanon Hanover (além do single Babes of 80’s) foram mesmo escuros e vazios. Em “Kiss Me Until My Lips Fall Off” William Maybelline canta “I’ve tried everything to block out the pain / But it just seems to haunt me / In every possible way” – isto é o retrato da sociedade atual, da quantidade de coisas que são consumidas e/ou experienciadas para evitar a dor, mas no fundo, todos temos algum medo que nos assusta por muitas coisas que se coloquem em prática para o evitar. Em Let Them Be Alien isso torna-se evidente.
Os Lebanon Hanover conseguem com as suas letras dizer aquilo que muita gente sente e não consegue dizer alto, conseguem descrever os sentimentos de quando se entra num existencialismo niilista, de quando toda a existência humana é questionada e, consequentemente, todas as sensações que invadem a alma quando se entra neste ciclo de pensamentos. Os Lebanon Hanover são uma daquelas bandas que faz muitos acreditarem que não estão sós no mundo. Haverá coisa mais bela que pensar que o problema está na nossa própria existência e no fundo do poço estarem os Lebanon Hanover a cantarem “Alone here I will drown in ignorance / They try to, try to break me / Tear me down into pieces / With their thinking of low capacity“? E a música, por muito monótona ou pouco criativa que possa soar, não deixa de ser enriquecida pelo seu minimalismo estético e explicada pela monotonia da rotina que todos nós levamos diariamente.
Neste novo registo os Lebanon Hanover mantêm os seus vocais sombrios e emocionais, o baixo repetitivo e os teclados dramáticos, relembrando a época de ouro da música industrial e gótica, projetada nos tempos atuais. Acima de tudo, a banda volta a mostrar a coerência que criou desde o primeiro trabalho e que tem utilizado ao longo das edições, mantendo a sua genuinidade e poesia lírica ao conjugar o inglês com o alemão. Em suma e à semelhança das edições anteriores, Let Them Bem Alien é mais um registo muito bem conseguido na carreira dos Lebanon Hanover que soa ainda melhor quando ouvido naqueles dias mais negros.