Reportagem: Fabrika Records Fest [Stereogun, Leiria]
Reportagem: Fabrika Records Fest [Stereogun, Leiria]
Dezembro 1, 2018 3:51 am
| Reportagem: Fabrika Records Fest [Stereogun, Leiria]
Dezembro 1, 2018 3:51 am
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O passado dia 16 de novembro garantiu mais uma das memoráveis noites alternativas do ano, com a aterragem do Fabrika Records Fest em Leiria que, nessa convidativa noite, trazia a palco nacional três grandes nomes dentro do revivalismo das ondas mais negras: She Past Away, Lebanon Hanover e Selofan. Numa Stereogun completamente esgotada, a Fade In garantiu que o último episódio relâmpago do Fade In Festival anunciado para 2018 se tornasse inesquecível, permanecendo nos nossos corações como uma das noites mais quentes deste outono.
Pelas 22h30 os Selofan (que é como quem diz, os big bosses da Fabrika Records) subiram a palco em apresentação do seu mais recente disco de estúdio Vitrioli (2018). A dupla grega regressava a Portugal, um ano após ter tocado na Igreja da Pena, para nos brindar com um espetáculo que trazia à mistura os habituais elementos cénicos pelo qual Joanna Pavlidou se faz acompanhar, além das sonoridades frias, monótonas, mas altamente dançáveis. Além dos temas mais vibrantes de Vitrioli, como “Black Box” – cujo fim foi utilizado para que Joanna Pavlidou agradecesse à maravilhosa audiência -, “Billie Was a Vampire” e “Give Me a Reason” os Selofan apresentaram uma setlist que foi repescar ainda os temas mais conhecidos como “Shadowmen” e “La Industria del Sexo” e as grandes pérolas como “Masoleum” e “In The Darkness”, para uma sala que aquecia a cada minuto que passava. Apesar de se terem notado algumas desafinações ao nível vocal, os Selofan apresentaram uma instrumentação bastante fiel àquela que ouvimos no conforto das nossas casas, mas que na Stereogun se proporcionou num ambiente muito mais apaixonante, altamente festivo e com incontáveis aplausos à mistura. Uma abertura bem à medida.
Com o relógio a marcar as 23h45 já podíamos visualizar “Lebanon Hanover” projetado no ecrã e visualizar a silhueta de Larissa Iceglass, vestida de um negro preto, juntamente com a luz irradiada pelo branco de William Maybelline, numa abertura com o mais recente tema “Alien”. Os Lebanon Hanover eram uma das bandas mais aguardadas nesta edição do Fabrika Records. Depois de terem feito a sua estreia no Entremuralhas 2013, a dupla chegou a anunciar dois concertos em Portugal, em maio de 2016, que foram tristemente cancelados. Cinco anos depois da estreia e, com uma história cada vez maior e relevante no panorama da minimal wave, os Lebanon Hanover regressavam a Leiria para apresentar a sua nostalgia poética apresentada em formato áudio. Já com “Die World II” a fazer escutar-se, rapidamente se percebe que os Lebanon Hanover até podem nem ser a melhor banda ao vivo, mas a mensagem que transmitem é completamente além de uma simples canção. É um antagonismo existencialista, uma cura para a depressão, uma luz ao fundo do poço. Presenciar a mesma sala que alguém que compreende as frustrações, a angústia, a acidez e o conforto da solidão de um ser racional é simplesmente algo magnífico que, mesmo que as tonalidades e os instrumentos ao vivo não tenham dado tréguas, ou inclusivé o resultado tenha diferido do idealizado, o sentimento é igualmente mágico.
Poetas revolucionários da nova geração, os Lebanon Hanover apresentaram em Leiria, e numa setlist bastante rica, as suas ondas de resistência. De Let Them Be Alien, ouvimos “Gravity Sucks”, “Favourite Black Cat” e a poderosa “Petals” – que gerou um surto de aplausos e gritos de felicidade após o seu fim. De Why Not Just Be Solo (2012) deu para relembrar “No One Holds Hands” – cujo fim serviu para que William dissesse um tímido “thank you” – e “Northern Lights”. De Tomb For Two (2013) os Lebanon Hanover tocaram “Hall Of Ice” e “Midnight Creature” e claro está, o hit da carreira “Gallowdance”, com a pista de dança completamente ao rubro. A cereja no topo do bolo foi mesmo “Totally Tot”, uma das primeiras malhas da carreira dos Lebanon Hanover que fechou em grande a performance dos nossos queridinhos. Uma voz industrial, um ritmo monocórdico, um palco em caus, um público em êxtase e muitos sonhos realizados por volta das 00h30 (obrigada Fade In!). Tudo preto no branco.
Cerca de 20 minutos para repor as emoções, depois de um concerto em que deu para chorar sem ninguém ver, foi por volta das 00h50 que entrou em palco a banda turca mais conhecida pelo habitual público das noites da Fade In, os She Past Away. A dupla composta por Volkan Caner e Doruk Ozturkcan regressava a Leiria quatro anos depois de ter tocado no Entremuralhas 2014 (e três depois do último concerto em Portugal) para fechar o Fabrika Records com bonitas recordações. Foi com “Belirdi Gece”, a fazer escutar-se bem alto para uma audiência de sorriso rasgado, seguido pelos bastante conhecidos “Sanrı” e “Katarsis” que a pista de dança da Stereogun se foi tornando cada vez mais quente e fugosa. Neste cenário, a banda aproveitou para nos dar um carinhoso “thank you“, antes de fazer soar as primeiras batidas dos temas que lhes deram o nome que têm dentro do revivalismo de géneros como o post-punk e dark wave: a energética “Asimilasyon”, a dançável “Rituel” e a rítmica “Kasvetli Kutlama”.
Com o concerto a aproximar-se a passos largos do fim (para infortúnio da audiência), os She Past Away moldavam naquela noite um concerto que certamente marcará a lista dos melhores do ano. Apresentando ainda temas como “RUH” e já em modo nostalgia do adeus, os She Past Away agradeceram novamente ao público, do qual se despediram com a energia contagiante com que entraram em palco. Sem margem para dúvidas, o melhor concerto desta edição do Fabrika Records em Portugal, que se deu por encerrada por volta das 01h40.
Pela noite fora ainda nos aguardava um rigoroso DJ set de Carlos Matos onde foi possível dançar ao som de Bragolin, Sextile, Rendez-Vous, TRAITRS, She Wants Revenge, ACTORS, Bauhaus, The Cure, Light Asylum, Shortparis, e vários outros nomes. O último episódio do Fade In Festival agendado para 2018 foi mesmo muito bonito e mais uma prova de que a Fade In está um passo à frente e a revolucionar a nova Leiria. Um bem-haja!
Texto: Sónia Felizardo
Fotografias: Miguel Silva