Boogarins
Sombrou Dvida

| Maio 11, 2019 1:57 am

Sombrou Dúvida | LAB 344 | maio de 2019
7.5/10

Os Boogarins são actualmente Benke Ferraz (samples, guitarra), “Dinho” Almeida (guitarra e vocals), Raphael Vaz (baixo e sintetizador) e Ynaiã Benthroldo (percussão), sendo que do alinhamento original apenas foi substituído Hans Castro na bateria. 

Seis anos volvidos desde a gravação do primeiro EP, o Plantas que Curam – trabalho que constitui a base sonora do primeiro LP dos brasileiros e que partilha do mesmo nome que o EP– e eis que os Boogarins se tornaram num dos maiores nomes do neopsicadelismo atual. Já há muito transcenderam as fronteiras do seu Brasil natal, somando actuações em palcos tão privilegiados como o Primavera Sound Barcelona, o SXSW, a estação de rádio KEXP, entre outros. Para este facto têm contribuído em grande medida a proficuidade e disciplina deste coletivo no que toca à gravação de discos. Desde 2013 que a cada dois anos, os Boogarins infalivelmente lançam um novo álbum. Em 2015 lançaram Manual, em 2017 Lá Vem a Morte, e esta semana lançaram Sombrou Dúvida, o seu quarto longa-duração. 

À imagem dos seus discos anteriores, os Boogarins continuam a deixar-se inspirar largamente pela estética do rock psicadélico. Porém, é particularmente notório que neste trabalho eles foram influenciados não só pelo lado subversivo e anti-sistema do movimento do tropicalismo — a expressão de um convite ao pensamento crítico nos temas “Sombra ou Dúvida” e “Invenção” com a repetição do refrão Existe um desgaste do novo / Se repete e dá nojo / E isso você não quer ver / Existe um deslumbre dos bobos / Fajuto e grandioso / E isso já engole você — mas também por uma certa melancolia, característica do período pós-tropicalismo — Eu resto escondido na dor / E a vista daqui diz que eu posso me juntar / Ser quem eu sou / Um belo horror, sem o dever de agradar


Entre estes dois estados de espírito diametralmente opostos, não só existe espaço para nos momentos mais líricos do disco apreciar a proximidade da sonoridade dos Boogarins com o Clube da Esquina e dos arranjos do mítico álbum Tropicália ou Panis et Circencis, mas também nos permite que nos momentos de deriva exploratória por entre camadas de ruído, distorção e dissonância, nos apercebamos do quão perto estas trips estão das expedições ácidas levadas a cabo pelos Pink Floyd por planos extra-terrestres. Tudo isto leva-me a afirmar que o processo de gradual maturação da sonoridade dos Boogarins assume com Sombrou Dúvida o seu estado mais avançado, tendo com este disco o quarteto atingido a sua forma de expressão mais complexa enquanto banda. Porém, o encapsular de tantas influências faz também com que este disco se encontre no plano da indefinição. E é precisamente nessa complexa indefinição que reside o busílis deste disco. 

Este é, até à data, o disco mais exploratório dos Boogarins, no bom e no mau sentido. Se estão à espera de encontrar em Sombrou Dúvida singles orelhudos e trips fáceis, aconselho-vos a voltarem para os Tame Impala porque correm o risco de saírem daqui defraudados. 

Mas se estão dispostos a experimentar algo de mais substancial, pode ser que encontrem em Sombrou Dúvida a catarse introspectiva que tanto procuram.

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