JE T’AIME
Je T’Aime

| Julho 22, 2019 1:08 pm

Je T’aime | Icy Cold Records (LP) / Manic Depression (CD) | maio de 2019
8.0/10

Há um disco que chegou às prateleiras este ano com um potencial enorme para incendiar as pistas de dança mais arrojadas e que se esconde por trás de um nome tão cliché como Je T’aime. A história deste Je T’aime – o disco de estreia do trio francês que utiliza a mesma designação para se identificar – começou a ser escrita em março de 2018 quando Tall BastArd, Crazy Z e Dany Boy formaram a banda em Paris. Uns meses mais tarde a veia post-punk underground do panorama musical francês recebia uma nova droga, “The Sound”, o tema que marcava a estreia da banda JE T’AIME e que fazia tecer expectativas positivas relativamente a futuros trabalhos. Com algum fogo que pegou pela capital francesa com este lançamento, os JE T’AIME foram mais além, tendo escolhido um lugar isolado na costa da Bretanha para se concentrarem na criação de onze novos temas que incorporam o mais recente longa-duração de estreia da banda. 




Fãs dos ambientes do post-punk dos anos 80? Aqui encontram uma pequena bomba para vos pôr a dançar. Através da intercalação entre as batidas monocromáticas e repetitivas da estética que dominou os anos 80 com uma vibe industrial e uma voz que comunica, na maior parte das vezes, em tons de revolta e/ou imposição, os JE T’AIME criam ao longo de onze canções um disco que se apresenta bastante convincente. Composto e gravado no período recorde situado entre abril e novembro de 2018 nos The Attic Studio e Studio Fontaine, os JE T’AIME arranjaram uma fórmula para o sucesso num disco que, sem grandes traços inventivos, consegue indubitavelmente captar a atenção do ouvinte. 

Num esforço conciso entre sintetizadores, guitarra e um baixo ritmado, torna-se óbvio com a audição desta estreia que os JE T’AIME não são fãs das luzes do amanhecer (especialmente se nos focarmos em temas como “Dance” e “A Million Suns”). E se as cavernas soturnas se apresentam como um lugar de segurança para o trio, também descobrimos neste primeiro LP que os mesmos espaços obscuros aportam experiências decadentes e depressivas. Tudo isto apresentado em onze faixas maquilhadas por uma sonoridade alegre e uma aura contagiante. Temas como “The Flying Dutchman” – enriquecido em malhas de sintetizadores abrasivos e ritmos alternados; “A Million Suns” – a fazer lembrar as auras paisagísticas de nomes como The Cure; “C ++” – a desafiar o ouvinte a entrar em constante estado de adrenalina; o provocante “Satan’s Bitch”; “Hide & Seek” – em formato balada; o super proliferativo “Merry-go-round”; o synthwave-inspired “Spyglass” e, para finalizar, a balada que revisita o melhor do período da dream-wave com os seus característicos traços de nostalgia, “Watch Out!”. 




Apesar do caracter entertainer e altamente aditivo do disco, há um ponto onde Je T’Aime se apresenta como um disco menos forte: as letras das canções. É certo que este é um disco para reproduzir e dançar sem pensar muito no assunto, mas as letras das músicas refletem, de certo modo, um clima altamente focado na autodestruição e decadência do ser e no lifestyle de músico: sex, drugs & rock’n’roll. Começamos logo com “Dance” (“So we are in a fucking rage to party / Forget everything and get screwed“), prosseguimos com “Fuck Me” (“Tonight is just another drinking night in my life / Who the fuck knows what flows in my veins / Who the fuck knows which girl I fucked but not mine“); “Satan’s Bitch” (“I’ll live in paradise / Seventy two virgins / Will fall into my arms / seventy two virgins / One of them is your daughter“) até chegarmos a “Watch Out!” (“I never found the keys of the house/ And I can’t even find my child / I may have lost her at the party / Just as I lost my dignity“). 


Propositado ou não e, independentemente das letras usadas, a verdade é que ouvir este disco de estreia dos JE T’AIME faz qualquer ouvinte sentir-se um badass, o que faz todo o sentido se tomarmos em atenção a comunicação onde se ergue o primordial trabalho da banda e a imagem visual que os delineia. Je T’Aime é um excelente pontapé de partida para arrasar concertos e fazer suar pistas de dança: é cru, sujo, controverso, mas altamente aditivo e incrível, tal como o amor. E claro, sempre negro e realista: “Je t’aime mais je te quitte“, tal como a vida. Uma viagem ao underground parisiense a descobrir  na íntegra, abaixo.




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