Diário de bordo: The Danse Society e Wildnorthe no Sabotage Club
Diário de bordo: The Danse Society e Wildnorthe no Sabotage Club
Novembro 8, 2019 2:32 am
| Diário de bordo: The Danse Society e Wildnorthe no Sabotage Club
Novembro 8, 2019 2:32 am
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É já quase um diário de bordo este meu périplo de um fim de semana super sónico. Sábado, 2 de Novembro, de novo no Sabotage. Há The Danse Society e na primeira parte, o projecto nacional Wildnorthe. A boa afluência do público confirma-se. A mística do nome The Danse
Society é um forte chamariz, este desejo de ver e ouvir pela primeira
vez ao vivo este nome e as suas canções (ouvidas vezes sem conta nas agora
velhas cassetes BASF), até porque com o passar dos anos estes continuam a fazer
parte da lendária colheita de nomes consagrados dos anos oitenta, alguns mais
do que outros, certamente, e continuam acesos nas almas sedentas de bons
concertos e que hoje, neste caso, se deslocaram ao Sabotage.
Society é um forte chamariz, este desejo de ver e ouvir pela primeira
vez ao vivo este nome e as suas canções (ouvidas vezes sem conta nas agora
velhas cassetes BASF), até porque com o passar dos anos estes continuam a fazer
parte da lendária colheita de nomes consagrados dos anos oitenta, alguns mais
do que outros, certamente, e continuam acesos nas almas sedentas de bons
concertos e que hoje, neste caso, se deslocaram ao Sabotage.
Tivemos uma actuação muito interessante dos Wildnorthe que ali foram apresentar o seu primeiro álbum Murmur, numa elaborada prestação e de uma concentração absoluta. Ao longo da intro que deu inicio ao concerto, um ritual diferente: de olhos fixos no horizonte, de foco centrado ao fundo da sala, e se o tecto fosse céu, era para ali que estariam a olhar. Sara Inglês e Pedro Ferreira, assim planaram numa energia sonora distinta e linear até ao ‘estouro’ da bateria forte de João Vairinhos. Impressionaram pela concentração demonstrada, o single “Howler”, exemplo perfeito da sonoridade do grupo: teclados fortes com ritmos industriais, guitarras subtis e, lá no fundo, uma amalgama de sons coerentemente desenhados para surpreender com as vozes de Sara Inglês e de Pedro Ferreira. “Sour” revelou uma sonoridade que porventura me fez lembrar a boa maneira de Siouxsie Sioux a cantar com a electrónica, e é nesse detalhe das prestações alternadas entre canções dos dois vocalistas que reside o charme deste grupo, certamente mais dinâmico e impactante com a bateria de João Vairinhos.
Depois de um concerto com novidades e a apresentação de um disco ainda desconhecido, acabado de sair, foi um bom momento de música ao vivo que certamente terá despertado a curiosidade e a vontade de ouvir este disco dos portugueses Wildnorthe, de quem se espera e deseja um futuro brilhante e que lhes traga, claro, muitos mais discos e concertos!
Deu-se a habitual azáfama da retirada de palco dos instrumentos, dos teclados, da pedalaria e dos restantes artefactos, a quantidade de coisas que rapidamente se mudam de um lado para o outro… a esforço porque o intervalo não convém ser demasiado longo. Num ápice, assim foi, entram em palco os The Danse Society, havia alguma ansiedade entre o público ávido de os ver e escutar ao vivo. Mas para quem não acompanhou a estória recente da banda, não saberá porventura que já não é Steve Rawlings o cantor, por indisponibilidade do mesmo. A voz dos The Danse Society há já alguns anos é agora assegurada, quer em novos discos, quer naturalmente ao vivo, pela cantora Maethelyiah, desde 2011. Assim, assistimos a uma reinterpretação do todo, a uma reinterpretação instrumental e claro, a uma vocalização diversa pelo registo naturalmente feminino do que ouvimos em disco dos The Danse Society de outrora.
Feitas as ‘pazes’ com esse facto e com os olhos no futuro, este grupo apresentou para além dos clássicos indispensáveis (faltaram alguns, é certo), os novos originais que deverão fazer parte de um novo registo da banda, isto para além de músicas como “Freak Show”, ou da versão de “White Rabbit” dos Jefferson Airplane, e outras canções que fazem parte dos discos já gravados na segunda vida da banda com a voz da cantora Maethelyiah. No que aos clássicos diz respeito, tivemos por exemplo “Heaven is Waiting” ou, “Danse/Move”, e claro, a famosa versão de “2000 Light Years From Home” dos The Rolling Stones. No final, sabendo ao que íamos não nos sentimos defraudados, para quem ainda não sabia do presente e futuro deste grupo poderá eventualmente ter ficado surpreendido com as mudanças, esperando ver a clássica formação reunida. Pelo que me resta constatar que são bons músicos. Vivem com um legado talvez demasiado pesado para estar sempre a fazer justiça ao nome, e fizeram-no à sua maneira. Nesta noite foram de alguma forma as novas canções que soaram melhor, talvez pela falta de expectativas ou imagem auditiva pré-concebida que não teríamos delas. Ou, como porventura acharíamos que deveriam soar. Há que dar lugar ao que é fresco, e não interessa já muito aqui olhar para o passado. Uma actuação competente e simpática destes músicos que de certo terão apreciado a maneira concentrada e respeitosa do público português no que diz respeito à escuta ávida desse passado e também do futuro.
Texto: Lucinda Sebastião
Fotografia: Virgílio Santos
Fotografia: Virgílio Santos