Todo este Ceremony começou a ser projetado estávamos em julho de 2019, quando a banda fez chegar ao radar o novo tema “Heart & Feather”, uma malha pintada em camadas de nostalgia, sempre ali a explorar os movimentos e quebras de ritmos tão típicos na darkwave, post-punk ou coldwave, sem nunca descurar as molduras da minimal wave com traços sonhadores. Há uma harmonia que é constante nas melodias que os Twin Tribes tecem e que, a par das letras tão soturnas e realistas, lhes trazem esta característica peculiar tão doce. “Heart & Feather” ainda não trazia as notícias de novo disco, mas já era material novo e esperava-se surgir qualquer coisa maior daí.
Já no final do mês de agosto, o calendário estava a marcar o dia 26 e colocava-se na ribalta mais um tema altamente aditivo: “Fantasmas”. Na altura ainda era desconhecido o lançamento de um novo álbum, mas havia cada vez mais dicas de que estava para breve. “Fantasmas” vinha afincar essa esperança emergente e posicionava os Twin Tribes cada vez mais nos pontos de foco do ano, pelo seu ritmo fervoroso, delicada composição entre uma voz vinda dos negrumes da existência humana e sintetizadores hiperativos prontos para colocar os ouvintes em modo dança automática. “Fantasmas” tornar-se-ia mais tarde um dos hits deste Ceremony, mas as grandes faixas ainda se escondiam na incógnita de um futuro lançamento.
Em outubro chegava ao radar a confirmação oficial do sucessor de Shadows – este tão presente Ceremony – e o terceiro tema de avanço, “The River”. Badalado na essência e contruído entre layers de guitarras suaves com os sintetizadores tão genuínos, tornava-se cada vez mais óbvio o porquê dos Twin Tribes serem vistos como mais uma das bandas em força no novo revivalismo gótico e, consequentemente, de conquistarem audições na experiência ao vivo.
A verdade é que este Ceremony se perdeu um pouco nos lançamentos de relevo de 2019 muito à conta da data de lançamento um pouco injusta que recebeu. Lançar um disco em dezembro é uma opção arriscada essencialmente porque nessa altura a maioria das publicações está como foco na escolha dos discos que marcaram o ano e com pouca paciência para assimilar novidades e posicioná-las entre os destaques corriqueiros do ano. É por isso que destacamos esta edição dois meses depois, sempre com a certeza de que este Ceremony se encontra recheado de temas badalados, dançantes e uma certa quantidade de amor envolvida pelo meio.
Utilizando na base os sintetizadores analógicos e as drum machines, ao longo dos dez temas que integram este Ceremony, os Twin Tribes conseguem mostrar um disco coeso, intenso e extremamente pessoal onde as atmosferas obscuras vivem em auge, atrás de uma lírica que se foca na decadência do existencialismo. Não há grande espaço para inovação dentro do que já é habitual nestas paisagens sonoras, mas existe uma incrível vontade de fazer mais e de uma forma mais peculiar e amena. Sem ruído ou distrações dissonantes, em Ceremony os Twin Tribes constroem melodias engenhosas e indiscutivelmente bonitas, onde sobressaem temas como o difuso “Obsidian”, o estimulante “VII”, o harmonioso “Perdidos” e o saudoso “Shrine”.
Focado em temas como o amor, a perda e a dor – que influenciaram eventos pessoais na história da dupla – Ceremony é um convite aberto a viajar no tempo e espaço entre as sonoridades em voga nos anos 80 e o revivalismo do post-punk e coldwave. Tudo isto construído ao redor de máquinas de ritmo e os sintetizadores fervorosos que tão bem têm enriquecido o seu currículo discográfico. Desde canções para se chorar sozinho no quarto a temas imersivos e que proporcionam aquela vontade instantânea de abanar o esqueleto, Ceremony é um disco bastante agradável. Há uma clara evolução e progresso face àquilo a que já tínhamos sido expostos em Shadows, mas ainda assim um espaço para fazer mais e melhor. Sempre românticos e nostálgicos na essência neste Ceremony os Twin Tribes apresentam um cocktail badalado em emoções e experiências que, mesmo bruscas na sua natureza, sonoramente transmitem uma tranquilidade e delicadeza ímpar. É ouvir.