Iguana Garcia
Ilha da Iguana

| Outubro 5, 2021 8:37 pm

Ilha da Iguana | edição de autor | outubro de 2021

João Garcia é o nome por detrás de Iguana Garcia, um projeto em formato de one-man-band que tem dado que falar no cenário musical lusitano dos últimos anos devido à sua sonoridade que incorpora pitadas de pop, música de dança, rock e mais uns quantos outros ingredientes. Após a edição de Cabaret Aleatório (2017) e Vagas (2020), o músico natural de Cascais já se prepara para um terceiro disco, Ilha da Iguana, com lançamento agendado já para a próxima sexta-feira. Apesar de ainda demorar um bocadinho para que tal aconteça, a Threshold Magazine teve acesso antecipado à obra, permitindo-nos então descrever a sua sonoridade e atiçar um pouco mais a curiosidade de quem aguarda.

Segundo o próprio artista, Ilha da Iguana é “um disco criado em deriva, ao sabor das fortes correntes afro e tech house, com ventos da disco e da pop, que tenta descobrir a língua de Camões em tais latitudes”. Ou seja, não se afasta demasiado dos seus predecessores, continuando o misto organizado dos mais variados géneros e mantendo os sintetizadores na liderança dos instrumentais. No entanto, em termos temáticos, o álbum foca-se muito no conceito do confinamento. Ao que agora o leitor pensa: “outra vez arroz?!”. Não há razão para preocupação: as letras de Iguana Garcia estão longe de ser o foco das músicas, tornando-se algo mais ocasional. E mesmo que a maioria do álbum não fosse de teor instrumental, não se tratam de letras invasivas acerca de mais do mesmo que temos ouvido e sofrido ao longo de pouco mais de ano e meio. Aliás, poder-se-ia inclusivamente afirmar que a voz é mais usada enquanto instrumento do que propriamente como corrente mensageira (apesar de a mensagem não ser algo desvalorizável).

Ao longo desta viagem, podemos ouvir diferentes tipos de ambientes e influências, apesar de manterem um fio conector entre si. São canções que, por regra geral, vão progredindo, tomando o seu tempo sem pressas para assumir a sua identidade e clímax. Em “Terraxo do Animal Doméstico” temos uma vibe de tropicalismo neón, com uma instrumentalização mais chill, por vezes até mesmo adotando a estrutura musical do jazz fusion; “Dança da Lua” aborda uma atmosfera mais avassaladora e intimidante, algo que também podemos verificar em “Matrix de Pátria” (já disponível nas plataformas streaming enquanto single) mas de uma forma menos esmagadora e dando espaço a uma incrível performance de sopros durante uma longa bridge; “Fixação” cria espaço para uma sonoridade orelhuda digna de discoteca mainstream, assumindo uma lírica que, exatamente pela sua simplicidade, se torna rapidamente relacionável para o ouvinte, tornando-o a meu ver numa opção rentável para um eventual segundo single promocional; “Saudade” e “Bolero Digital” possui ténues mas interessantíssimas inspirações no movimento cyber-punk, etc…

No fundo, trata-se de um projeto com uma coesão satisfatória, conseguindo manter todo um leque de inspirações de uma forma organizada e subtil. Ou seja, se esperam uma forte inovação da parte de Iguana Garcia, ainda não é desta que tal acontece. No entanto, apesar de o vermos na sua zona de conforto, é notável a sua evolução e maior atenção ao pormenor. Ilha de Iguana é um álbum claramente superior a Vagas, conseguindo equiparar-se (quiçá até mesmo superar) ao seu álbum de estreia, criando então uma experiência que vale a pena, especialmente para quem já é familiarizado com o seu trabalho.

Tal como dito anteriormente, o álbum apenas estará disponível ao público na próxima sexta-feira, em todas as plataformas streaming. No entanto, em caso de curiosidade por parte do leitor, é possível ouvir o single “Matrix de Pátria”, disponível aqui em baixo:

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