Adeus é o quinto álbum dos barcelenses Indignu. Lançado no passado dia 4 de novembro, este projeto mostra o quão longe têm ido desde a edição do EP de estreia, Manifesto Anormal do Fundamento, de 2008. Continua com a onda post-rock que tanto os tem identificado ao longo dos tempos, mas com influências no shoegaze e no dream pop, que criam uma atmosfera amplamente introspetiva.
Realço a fluidez de cada uma das faixas, que constituem melodias que nos levam para os lugares mais longínquos. A faixa de abertura, “A norturna”, cria uma aura de suspense, como que uma bomba que poderá ser detonada a qualquer momento. No entanto, ela só detona na faixa seguinte, “A devolução da essência do ser”. Esta faixa guia-nos – a seu tempo e sem pressas – por um deserto infinito, percorrendo-o durante os seus tempos de maior calor, com as suas guitarradas solarengas, como também pelas tempestades de areia madrugueiras e quase insobrevivíveis, com as suas paredes sonoras agressivas mas dreamy. Depois de tal epopeia, os Indignu deixam-nos com “Em qualquer entranha”, uma canção guiada pelo piano que pede emprestada uma veia melancolicamente nocturna ao impressionismo da transição dos séculos XIX e XX, produzindo uma versão mais moderno-clássica do trabalho de artistas como Erik Satie ou Claude Debussy (apimentados pela masterização de Birgir Jón Birgisson, que já trabalhou com nomes como Björk, Sigur Rós e Spiritualized). No entanto, o grande destaque vai para as duas últimas faixas. A penúltima, “Urge decifrar no céu”, soa a uma prece desesperada ao divino, como quem luta pela sobrevivência no meio da ira do Círculo de Fogo do Oceano Pacífico. Felizmente, o fim da canção deixa implícito que tais preces foram ouvidas, deixando-nos com uma guitarra calorosa e esperançosa. Já a última faixa, “sempre que a partida vier”, é um encerramento perfeito a adeus. É uma canção auspiciosa; um epílogo de um filme dramático com um final feliz; um adeus perfeito a adeus, apesar de parecer uma despedida a algo intangível mas profundamente significante e inexplicável.
No fim de contas, considero adeus um dos álbuns que mais marca a música portuguesa de 2022, sendo talvez o melhor álbum que o grupo lançou até então. Continua a ser post-rock, mas também soa a Portugal. Creio que só esta descrição deverá ser o suficiente para aconselhar vivamente este LP a qualquer pessoa que goste de slow burns.