Sob as sedutoras luzes de um pequeno auditório, Filmmaker projetou a eternidade da dança

Sob as sedutoras luzes de um pequeno auditório, Filmmaker projetou a eternidade da dança

| Março 27, 2023 2:28 pm

Sob as sedutoras luzes de um pequeno auditório, Filmmaker projetou a eternidade da dança

| Março 27, 2023 2:28 pm

Celebração mirabolante, na mais pura das formas. Foi a isto que assistimos sábado passado com o regresso de Filmmaker, o projeto do artista colombiano Faunes Efe, que passou pelo auditório CCOP para uma valente dose de eletrónica pujante, uma viagem tão variada quanto arrepiante por um techno livre e certeiro. É que se os discos já sugerem uma clara intensidade – instrumental e emocional, as duas são indissociáveis – ao vivo a explosão é extraordinariamente triunfal.

Desde o momento em que subiu ao palco que as batidas que debitava pareciam “engolir” a sala numa onda animalesca e libertária, despoletando um cenário em que a dança se apresentava como o único veículo de pureza catártica. Ora mais eufórica, ora mais negra e mesmo esotérica, a música de Filmmaker prosseguia imponente enquanto construía uma escultura de som soberba, incrivelmente musculada e com o volume a um nível brutalmente gratificante, mas ainda assim cristalino – sentíamos aquelas batidas a entrar no corpo mal “perfuravam” a pele, sentíamo-las a vibrar no chão, cada uma das várias camadas que decoravam as músicas a soar incrivelmente percetível – e não havia como resistir a esta rave alucinante e inebriante. Olhávamos à nossa volta e era como se todos estivessem enfeitiçados pelo poder destes sons que convidavam ao movimento e transportavam a mente para fantásticas dimensões – a transcendência jamais foi tão pulsante. E o melhor é que a atmosfera que aqui se respirava, nesta noite que a memória deseja preservar, era tão envolvente e descontraída que nem foi preciso a sala estar lotada para que este feeling de paz nos deixasse de coração cheio.

No fundo, tivemos direito a uma hora de festa que nos permitiu mexer o corpo e deleitar o espírito, e quando terminou, por volta das 23h30 , pairava a sensação de que o tempo tinha voado. Suados e felizes, num clima de convívio pacífico e relaxante, abandonamos o local certíssimos de termos testemunhado um concerto que vai ficar para a história – a nossa história. Caramba, isto foi mesmo brutal, quem não foi que se deixe contagiar pelas palavras deste texto.

Um pouco antes, Zancudo Berraco – alter ego sui generis de Henrique Apolinário – proporcionou o que só pode ser descrito como a abertura perfeita para entrar no mood do serão: uma sessão gradualmente empolgante de um techno marado e efusivo, com toques deliciosos de acid house para apimentar a coisa, que pôs toda a gente a dançar e que, curiosamente, foi tão interessante que a noite já teria sido ganha mesmo sem a presença de Filmmaker. O que começou por aguçar a curiosidade nos primeiros minutos rapidamente nos conquistou com aquelas batidas “coloridas” e dinâmicas , que respiravam vida e espalhavam energia revigorante. Bem poderoso e claramente aliciante, eis um projeto que queremos ver novamente. Tal como Filmmaker, obviamente.

Texto: Jorge Alves

Fotografia: Daniel Castro

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