Leo Middea nasceu a 27 de abril de 1995 no Rio de Janeiro. Vive atualmente em Lisboa, tendo já gravado vários álbuns: Dois (2014), A Dança do Mundo (2016), Vicentina (2020), Beleza Isolar (2020) e Gente (2023). Foi também candidato ao Festival da Canção de 2024, conseguindo o terceiro lugar com a canção “Doce Mistério“, cujo título homenageia o tema “Gente“, do disco Bicho de Caetano. Pouco tempo depois, a 12 de abril de 2024, foi lançado o álbum Leo Middea no Estúdio Showlivre (Ao Vivo), onde são reunidas atuações live de músicas de diferentes álbuns da sua já vasta discografia.
O álbum Leo Middea no Estúdio Showlivre (Ao Vivo) vem sintetizar aquilo que tem sido o trabalho do artista ao longo dos anos. Conta com performances ao vivo de canções do álbum Gente, e dos álbuns Beleza Isolar, Vicentina, e até de A Dança do Mundo. É como se Leo Middea tivesse olhado para o seu trabalho dos últimos anos e tivesse tentado contar a sua história através das suas músicas, desta vez de forma ainda mais intimista, como se o estivéssemos a ouvir em pessoa.
As canções de Leo Middea no Estúdio Showlivre (Ao Vivo) falam sobre amor, sobre viagens, sobre a experiência de viver em Lisboa e sobre a sua sempre presente homenagem à música popular brasileira. Ainda, falam sobre a resiliência, força e paciência para ser um artista que vive da música, vencendo também as saudades do Brasil e o frio da Europa. Neste álbum, mais uma vez Leo Middea se assume como “cria do mundo”, sempre à procura de novos lugares (como em “Hello Goodbye”), mas nunca esquecendo as suas origens nos subúrbios do Rio de Janeiro (tal como diz em “Do Subúrbio”, “Rio de Janeiro Taquara meu mundo”). Portanto, esta canção apresenta ao ouvinte a sua verdadeira essência: apesar do constante movimento, ele pede-nos para ser “amado sem pressa”, dizendo-nos que gosta de viver o presente ao som de nomes como Gilberto Gil.
Esta performance ao vivo de Leo Middea combina momentos de alegria e tristeza: tanto nos oferece os ritmos veraneantes rápidos e alegres de “Que Sorte”, de “Balanço de Amor” e de “Esse Jazz Tocar”, como também canções mais lentas e reflexivas como “Olimpo ou Razão”. “Olimpo ou Razão”, na versão ao vivo, é tocada mais devagar e com mais pesar, como que evidenciando a dor de já ter “sofrido com alguns nãos”, que se conjuga com o facto de sentir que já viveu muito. É como se os seus “mais de 25 anos” mostrassem que já é uma pessoa experiente, mas ainda com muito para viver.
Uma outra canção do álbum que surge em linha com o tema da dificuldade de ter sucesso enquanto músico é “Meu Público/Freguesia de Arroios”: na versão ao vivo, o compositor decidiu combinar na mesma canção dois temas de álbuns diferentes, como que demonstrando a relação evidente entre ambos, apesar dos anos que os separam. Em “Meu Público”, Leo Middea interroga-se acerca do que fará o povo fora do Brasil apreciar a sua música, pedindo à “maré” para lhe contar o “segredo para não desistir”:
“Ô minha mãe
Sempre foi tão
Difícil chegar a onde quer?
Já não sei se to
A favor ou contra a maré
Diz maré!
Como é que faço
Pra esse povo me ouvir?
Eu meto o pé
Ou insisto nessa bobagem aqui?
Se eu tentar um baião
Será que dá?
Se eu tentar um forró
Será?
Se eu tentar um funk
Trabalhado em uma frase só?
Diz maré!
Vou caminhando
E um dia eu acho
A maneira de fazer
Esse povo cantar
Peço as ondas do mar
Que quando sentir
Me conte o segredo pra eu não desistir”
Assim, o tema “Freguesia de Arroios” é “o funk trabalhado em uma frase só” que ele via como solução para fazer o povo cantar. De facto, conseguiu o que pretendia, pois, hoje, é a sua segunda canção mais ouvida. Esta faz referência a Arroios, uma freguesia em Lisboa conhecida pela sua diversidade cultural, funcionando como a resposta de 2020 para uma dúvida de 2016.
A performance live de Leo Middea fecha-se com os temas “Borboleta Efeito” e “Lisbon Lisbon”. Neste álbum, “Borboleta Efeito” não conta com a presença de Mallu Magalhães, fazendo Leo Middea as duas vozes. É como se de um diálogo tivesse surgido um monólogo, mostrando que a dualidade entre feminino e masculino existe em todas as pessoas e que todos nós temos conflitos internos, como “coragem em guerra com medo”. Já “Lisbon Lisbon” é a canção de fecho, que nos convida a olhar para o céu e continuar com a nossa vida, após termos ouvido a história de Leo Middea. Enquanto estivermos a viver a nossa vida, ele continuará a precisar de cantar, de viver e, sobretudo, de continuar a ouvir os seus Caetano Veloso, Gal Costa, Jorge Ben Jor, e Novos Baianos.
Leo Middea no Estúdio Showlivre (Ao Vivo) é sobre intimidade, sobre histórias, culturas e sobre comunicação entre músico e ouvinte. Depois de o escutarmos, temos a sensação de que Leo Middea nos encoraja a, tal como ele, viver e ser livres. O álbum está disponível nas plataformas de streaming habituais, e conta com diversidade, instrumentais ricos, letras com alma e uma voz sincera.
