O EP Quit Your Job, Runaway! de Junior Mesa, lançado em 2023 serve não só como um hino vibrante para os de espírito inquieto, mas também como uma celebração íntima da libertação na sua forma mais pura. Esta (curta) coleção de canções é nada menos que uma belíssima viagem pelas estradas sinuosas da autodescoberta e por todas as fugas e desvios inesperados que acompanham o trajeto.
Com a faixa-título de abertura do EP, somos imediatamente transportados para o mundo de Mesa, um lugar habitado por ganchos cativantes e letras introspetivas cuja dança de braços dados nos convida a largar o mundano – é um apelo às armas para qualquer um que se sinta preso pela monotonia da vida quotidiana.
No entanto, como bem sabemos, por mais monótono e descolorido aparente ser o nosso dia a dia, são frequentemente os fantasmas do nosso passado os primeiros a ressurgir e pegar no pincel. Assim, após este início enérgico, “Caroline” muda o tom através de uma abordagem mais íntima e reflexiva sobre uma das relações passadas de Mesa. O ritmo suave da faixa e os seus tons de alma dão à luz uma atmosfera que, embora confortável, pinta um quadro de saudade e nostalgia. É um belo contraste com a energia rebelde da faixa de abertura que ilustra na perfeição a natureza desta relação, em que se ama alguém, mas não se é capaz de a compreender na totalidade, ambiguidade esta cujo único desfecho é uma ferida aberta para ambas as partes. “You Are Alright” dá continuidade à viagem com uma mensagem animadora. A instrumentação renasce agora num tom alegre e a letra, ainda que tão melancólica quanto a canção precedente, envolve-nos numa sensação de esperança e encorajamento. A sua voz suave atua como um bálsamo, aconchegando a música durante o seu desenrolar com uma manta de serenidade e otimismo. A faixa serve como um lembrete suave de que, apesar do caos, tudo acabará por se encaixar no lugar.
A despedida é feita ao som de “Can You Hear The Sound”, uma faixa permeada por um arranjo meticuloso e por uma produção em camadas que juntamente criam uma paisagem sonora muito rica e texturizada. À medida que as notas se desvanecem, somos deixados com uma profunda sensação de maravilha, e no final a beleza assombrosa da faixa permanece.
Este EP não deve ser visto apenas como um projeto musical, mas sim como uma exploração da condição humana através dos olhos de um jovem adulto que, ainda confuso e inexperiente, tem por objetivo compreender a essência da liberdade num mundo constrangido – é um apelo à perseguição da beleza assustadora do desconhecido. Por isso, aumentem o volume, deixem-se levar pela música e, como diria Mesa, não tenham medo de deixar o vosso emprego, fujam!
Texto redigido por Tomás Peixoto
