Clairo
Charm

| Outubro 8, 2024 11:44 pm

Em Charm, o terceiro álbum de estúdio de Clairo, produzido pelo americano Leon Michels, a artista preserva os tons e temas intimistas que caracterizam a sua música e lírica. Essa continuidade confere à composição uma coesão e harmonia, não só com a restante discografia, mas também em si própria.

Do seu quarto em Atlanta, Claire Cottrill começou por produzir músicas de forma independente, que mais tarde se tornariam hinos, não só do lo-fi e bedroom-pop, como é o caso do hit “Pretty Girl”, mas também do indie pop. Foram essas canções que lhe garantiram um lugar na indústria e lhe permitiram construir uma carreira que agora desabrocha neste álbum, com temas que se assumem na onda do R&B e da pop. A artista apresenta a sua música da forma mais madura até à data, e ainda que o seu trabalho seja único no panorama musical, Clairo conserva os mesmos géneros e alguns dos mesmos temas, prova de que, apesar do passar do tempo, ainda somos confrontados com alguns dos mesmos ciclos, pensamentos e sentimentos. Esta perceção torna a artista mais humana e dá outra dimensão à sua música, permitindo-lhe manter os fãs de sempre e abranger novos públicos. Embora lançado a meio do verão, este é um álbum mais quente do que refrescante, com um conforto e uma leveza quase palpáveis, própria dos meses de outono, ainda que algumas faixas sejam mais animadas. Os tons vintage, cromáticos e sonoros, inspirados nos anos 70, são-nos apresentados desde o início: a capa do álbum já nos remete para a sua sonoridade, com cores quentes, inspirando uma tranquilidade e reflexão únicas. É ainda possível pensar no contraste entre a serenidade da expressão da artista e a intensidade dos sentimentos presentes nas suas letras e nas suas melodias.

As harmonias e a lírica andam sempre de mãos dadas, contribuindo para a expressão dos mesmos sentimentos, o que os torna mais intensos, prova que o todo é mais do que a soma das partes. As letras nesta composição transmitem, de forma consistente, sentimentos como a vulnerabilidade, o desejo, a nostalgia e, em geral um anseio, presente ao longo da discografia da artista, algo com que o ouvinte facilmente se identifica.

Esta composição, cujo tom é definido desde o princípio e se estende por todo o projeto, é musicalmente rica e harmoniosa, o que a torna perfeita para ouvir em vinil, definir um ambiente sereno e tocar em repetição. Indicado para todos os públicos e para ouvir, casual ou intencionalmente, estas são melodias que não cansam o ouvido, um verdadeiro tributo ao desejo de se ser desejado.

Texto redigido por Mariana Monteiro

FacebookTwitter