ASPIRINA #010: a ferocidade da descarga punk para um final de ano apoteótico

ASPIRINA #010: a ferocidade da descarga punk para um final de ano apoteótico

| Janeiro 3, 2025 12:18 am

ASPIRINA #010: a ferocidade da descarga punk para um final de ano apoteótico

| Janeiro 3, 2025 12:18 am

No passado dia 19 de dezembro o Maus Hábitos acolheu a última “Aspirina” do ano, que desta vez contou com a presença dos Hetta e dos Diskrasuki, para encerrar com pujança um ano de punkalhadas/guitarradas que formaram um calendário ruidoso.

E foi precisamente com os últimos que a noite se iniciou, numa prestação bem competente onde o que mais sobressaiu foi o registo da vocalista Inês – bastante agudo, curiosamente a fazer lembrar uma personagem de anime, mas carregado de uma paixão visceral e inconformada, capaz de nos arrepiar a alma quando lançava aqueles berros “cuspidos” como balas. Contando com um instrumental inegavelmente sólido dentro da onda do hardcore musculado, foi mesmo a singularidade da voz urgente, espécie de catarse contra as injustiças da sociedade num fuck you tão revigorante quanto o das Bikini Kill, assim como a força da postura em palco (mesmo com algum nervosismo à mistura, perfeitamente normal tendo em conta que se tratou do primeiro concerto de Inês com os Diskrasuki) que realmente nos conquistou a atenção. Uma atuação cativante por parte de uma banda promissora que tem tudo para crescer nos próximos tempos.

Dos Hetta parece que tudo já foi dito, mas a verdade é que continuam a ser um dos nomes mais interessantes e profundamente acarinhados do panorama do hardcore/post-hardcore feito em Portugal. Com uma musicalidade claramente mais ambiciosa do que outras bandas da cena – bem evidente naquelas guitarras “nervosas” e dissonantes, para além da bateria vigorosa -, o quarteto do Montijo destilou a habitual dose de energia frenética absorvida em regime de intimidade suada, sempre na companhia do vocalista Alex no papel de frontman irrequieto. É precisamente essa a magia dos concertos de Hetta, o sentimento de família reunida para experienciar a beleza de um encontro que tão depressa começa como chega ao fim – são pouco mais de 30 minutos onde a explosão de intensidade pura renova a alma e faz o corpo suar. Entre convidados e um público que, no final, já festejava em palco em modo de euforia coletiva, demos tudo e deles tudo recebemos. Venham agora as próximas “aspirinas” para nos curar temporariamente deste mundo que é também muitas vezes uma dor de cabeça.

 

Texto: Jorge Alves

Fotografia: Bruno Pereira