
APUROS 12 – mais um cocktail de verão com talentos emergentes e veteranos
APUROS 12 – mais um cocktail de verão com talentos emergentes e veteranos

APUROS 12 – mais um cocktail de verão com talentos emergentes e veteranos
No passado dia 5 de julho, a APUROS voltou a fazer das suas, naquela que foi a décima-segunda edição do mini festival. O palco selecionado para esta edição foi a filial portuense da associação oriunda da Madeira Escola Normal, que foi inaugurada no início do ano e cujo ambiente e decoração kitsch vinda duma casa da metade do século passado contribuiu para a pujança providenciada pelo seu cartaz variado que iria compor este evento.
Após cerca de uma hora de atraso, o evento em si começou com o projeto a solo de Óscar Alho Durvena Cabina, a postos com um leque de instrumentos à disposição e uma vestimenta a evocar uma figura pagã. No decorrer da hora seguinte, a one-man-band serviu como mote para uma sessão de sonoridades obscuras que tomaram a audiência de assalto, graças a uma enchente de loops constantes compostos de drone avassalador e ambient de cariz ritualístico, com espaço para uns gritos cortantes que não ficariam muito desenquadrados de um álbum de black metal atmosférico. Apesar de não se primar por ser uma sonoridade acessível, o concerto em si foi bastante marcante.
A seguir a esse concerto, o duo de artistas Frederica Campos + Beatriz Moreira pisou o palco com um número mais performativo, destacando-se do resto do alinhamento. Completa com vários adereços em palco (como uma harpa, uns carrinhos de brincar e PC + controlador MIDI, entre outros), a performance resultante desta colaboração tinha como intuito retratar como “duas raparigas amigas sem nada para fazer passam um domingo soalheiro”, se bem que o exercício obviamente estava sempre aberto a interpretações alternativas do público (como, por exemplo, uma primeira festa do pijama de duas amigas como retratado num filme arthouse experimental).

Diana Paiva
Mais tarde, foi a vez da banda Tédio fc naquele que foi o seu segundo (!) concerto desde o seu começo, que promove o seu primeiro EP entrada a medo. A sonoridade da jovem banda evoca uma veia mais reminiscente da rockalhada alternativa dos anos 90, particularmente da onda grunge com as guitarras distorcidas e letras de inquietude. Apesar de algum acanhamento palpável por parte dos seus membros ao início, não demorou muito até eles marcarem a sua posição e demonstrarem o seu potencial ao vivo, tocando músicas do seu EP (como “recibos verdes” e “pobre menino”) e no fim, ainda providenciando espaço para uma cover da “Olha o Robot” dos Salada de Frutas.
A banda lisboeta dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS deu o sinal da sua graça a seguir aos Tédio fc, contando já com uns quantos anos de estrada e com vários álbuns lançados de música experimental que passa por uma panóplia de categorias como noise, jazz, post-punk e outras sonoridades. Com este cocktail explosivo de géneros, os dsci deram aso a um dos melhores concertos do evento, contagiando e mexendo o público do início ao fim com uma grande demonstração de virtuosismo e potência, por via da cacofonia por sua vez temperada com os apontamentos de saxofone avassaladores.

Diogo Sousa Carvalho (Discos Perdidos)
Por fim, chega a nós o cabeça de cartaz Scúru Fitchadu, projeto de Marcus Veiga que atingiu o panorama da música lusófona moderna como um raio com a sua fusão eletrizante de funaná, punk, industrial e eletrónica. Como é normal num concerto de Scúru Fitchadu, Marcus demonstrou ser um monstro de palco, sempre com uma energia ímpar a mandar palavras de urgência acerca, por exemplo, da situação na Palestina e a puxar constantemente pelo público. O público, por seu lado, correspondeu a essa mesma energia desde o início do concerto, sempre a dançar e/ou a dar tudo no moshpit ao som de músicas como “Treinament”, “Manus Planus Danus” e “Resistensia” com espaço para uma breve menção da música “Liberdade” de Sérgio Godinho. Em suma, Scúru Fitchadu nunca desilude no que toca à arte de galvanizar as hostes ao vivo.
Por fim, houve afterparty a cargo do DJ surpresa 800-Maia-Gondomar – com um repertório muito à base de punk-rock e new wave old-school de bandas como Ramones e The B-52s – e depois Fátima Badi – que aposta num alinhamento compostos por remixes da sua autoria em formato juke e jungle – que assim mantiveram a pedalada da festa a mil à hora depois dos concertos. E assim o foi até ao fim do evento, que demonstrou ser mais uma edição impecável do Apuros cujo cartaz conseguiu manter um equilíbrio sagaz entre performances mais leftfield, novos talentos e bandas veteranas, ao qual o público aderiu com bastante afinco.