Linda Martini em entrevista: “Estamos […] com vontade de ter um disco feito este ano”

Linda Martini em entrevista: “Estamos […] com vontade de ter um disco feito este ano”

| Março 12, 2015 8:57 pm

Linda Martini em entrevista: “Estamos […] com vontade de ter um disco feito este ano”

| Março 12, 2015 8:57 pm


Após anunciarem
a reedição dos EPs e álbuns até à Casa Ocupada e, em promoção dos mesmos, de um
ciclo de concertos no mês de Março, ficámos com vontade de conversar com os Linda Martini.
Patos, cágados
e o sino da Basílica da Estrela a badalar o meio-dia. Foi este o ambiente de
fundo que envolveu a conversa solarenga que a Threshold Magazine teve com a já
aclamada banda. Sabemos que um dos membros está fora, em tour com PAUS, mas a
Cláudia Guerreiro (baixista) e o Pedro Geraldes (guitarrista) mantiveram-se em
território nacional e dispuseram do seu tempo para nos responder a algumas
questões.
Foi algo
assim:


Threshold Magazine: Como é que acham que a banda evoluiu
ao longo dos anos? Acham que o vosso processo criativo sofreu alterações?


Cláudia Guerreiro: Houve alterações,
naturalmente, porque nós crescemos. Tínhamos vinte e poucos anos, agora temos
trinta e poucos. É natural e desejável que algumas coisas mudem, senão ficaríamos
parados no tempo. Quanto ao processo criativo, mudou porque entretanto perdemos
um elemento pelo caminho.
Pedro Geraldes: Perdemos um
interveniente. Mas o processo criativo mudou?
CG: Mudou um bocadinho. O facto de
teres menos uma pessoa faz com que seja menos complicado [risos]. Descomplicas
um bocadinho. Sai uma guitarra. O espaço que três guitarras ocupam é diferente
do que o que ocupam duas. Mas o processo criativo é o mesmo.
PG: Tem sido mais ou menos o mesmo.
Cada um tem as suas ideias e tentamos juntá-las num bolo apetecível. Para nós,
pelo menos.
CG: Fazemos primeiro a música e no
fim a letra, isso continua a ser igual. Raras vezes acontece o contrário.
Tirando essas pequeninas coisas, continua mais ou menos a mesma coisa.
PG: Houve uma evolução porque também
nos fomos conhecendo melhor como pessoas e como músicos. Como as nossas
linguagens podem interagir, o que podemos contar uns dos outros e o que cada um
pode dar. Há sempre surpresas, mas a evolução foi mais nesse sentido.
CG: Continua a aparecer tudo em
ensaio.
PG: Há ideias que podem vir mais ou
menos elaboradas de casa, mas depois passa tudo pelos nossos filtros e, coisas
que vêm duma forma podem ficar doutra, completamente diferente. A composição é
conjunta, desde o início.
TM: O facto de estarem a ensaiar para o ciclo de
concertos no Musicbox trouxe-vos alguma nostalgia dos tempos em que eram uma
banda menos mediática? Dos tempos em que tocavam em espaços mais pequenos?
CG: Nós
continuamos a tocar em espaços pequenos, tanto é que vamos tocar no Musicbox. É
um espaço para duzentas e poucas pessoas, a diferença é que vão ser três
concertos. Mas continuamos a fazer esses concertos. Ainda no ano passado demos
três concertos em Coimbra, Porto e Maia em salas deste tipo. Não passámos a ser
uma banda de festival, só. Tocamos em festival, mas continuamos nos espaços
pequenos, portanto essa parte da nostalgia não existe porque nunca deixámos de
fazer isso. Nostalgia com as músicas… Continuámos a tocar as mesmas músicas,
são poucas aquelas que nós nunca mais revisitámos. Por isso nostalgia acho que
não se aplica.
TM: Temos na nossa equipa quem já tenha visto Linda Martini pelo menos 10
vezes. O que é que um fã acérrimo pode esperar de novo deste ciclo de
concertos?
PG: O que
garantidamente pode esperar são os discos tocados na íntegra, nós nunca
garantimos isso quando damos concertos [risos]. Dependendo do dia em que vai,
pode esperar alguns inéditos ao vivo que nós não costumamos tocar ou que nunca
tocámos até então.
CG: Que
basicamente só vai acontecer no primeiro dia.
PG: Sim, vai
acontecer mais no primeiro dia. No segundo, temos o “Quarto 210” que também é
uma música que não costumamos tocar. Já fomos tocando. Mas normalmente é mais
esquecida por nós e o pessoal até costuma pedir para tocarmos.
CG: No fundo,
as músicas que ficam esquecidas desta vez vão estar lá todas.
PG: Acho que é
o factor mais especial do concerto é esse. Tocarmos os discos na íntegra e
saber que aquelas músicas vão ser tocadas.
CG: E além
disso vamos ter os discos à venda. Também é uma coisa que acontece poucas
vezes.
PG: Vamos ter
merchandise novo, também.
CG: Vamos ter
uma banca que vai parecer que estamos na H&M.
PG: Temos umas
coisas novas fixes. Vai ser um concerto de Linda Martini. Estamos com vontade e
esperamos que seja divertido que o público esteja lá connosco também.
TM: Vão tocar algumas músicas, por exemplo, do EP Marsupial, que incluem instrumentos pouco comuns na vossa sonoridade. Como é
que se estão a preparar para interpretá-las?
PG: No
Marsupial tens a “Intrusa” que tem um beat electrónico e tem um trompete. Nunca
a tocámos ao vivo, nem sequer a gravámos ao vivo porque era uma coisa muito
feita em casa, uma ideia muito simples que achámos piada e quisemos utilizar no
disco. Mas temos uma versão tocada pela banda. Não a tínhamos, tivemos que
preparar.
CG: A verdade
é que nem para o disco fizemos isso.
PG: Pois, no
disco era o beat, uma guitarra por cima e um trompete.
CG: A única
pessoa que tocou aquela música foste tu [Pedro Geraldes].
PG: Sim. Agora
temos uma versão disso ao vivo e como banda. Estamos a ensaiar. Eu não costumo
tocar trompete e nessa música faço aquela linha de trompete. Aquilo às vezes
sai-me bem outras vezes não [risos], mas seja o que deus quiser. Depois
temos  outra, a “Parada”, que também tem
umas nuances um bocado diferentes daquilo que costumamos fazer… estamos a
ensaiar.
CG: Sim,
aquilo tocava-se em Korg, teclado, e agora adaptou-se para a guitarra. Portanto
basicamente foi adaptar aquilo a concerto e a quatro pessoas. Sem magia de
técnicos [risos], vai ser mesmo só o que conseguirmos fazer e pronto.
TM: Em 12 anos de existência, sentem que houve algum momento em que
sentiram que cumpriram aquilo que idealizavam para a banda? O sentimento de
dever cumprido?
CG: Eu acho que nós sentimos isso a
cada álbum e ao mesmo tempo não. Se o sentíssemos completamente, parávamos e
não fazíamos mais. Mas se não sentíssemos também não continuávamos. Portanto,
eu acho que quando constróis e lanças um álbum sentes que cumpriste o teu
objectivo.
PG: Sim, é bom esse sentimento de
missão cumprida mas nós também nunca definimos objectivos claros… Queremos ter
isto ou aquilo. Há esse sentimento geral de que as coisas estão a correr bem e
sentimo-nos gratos e satisfeitos connosco próprios. Por outro lado há sempre
uma insatisfação. Acabas de gravar um disco e ficas sempre naquela… epa isto
não saiu bem como eu queria, vamos lá fazer o próximo, para ir mais por aqui ou
para tentar explorar mais aquilo ou aqueloutro. Eu acho que é isso que nos faz
querer continuar a fazer e fazer diferente.

CG: Ah, houve um objectivo que foi
cumprido… Temos finalmente os discos todos em vinil [risos].
TM: Houve algum concerto que vos ficou na memória como o melhor que já
deram até agora?
CG: Nós costumávamos responder uma
coisa a essa pergunta, mas entretanto deixámos de responder essa mesma coisa,
porque são tantos concertos que… epa os concertos não são perfeitos, longe
disso. Não são todos incríveis do princípio ao fim. Imagina, hoje dás um
concerto incrível mas amanhã vais dar outro e também pode ser incrível. Nós
costumávamos dizer que o Paredes de Coura de 2007 tinha sido ‘o concerto’. E
tinha, porque nunca lá tínhamos tocado e foi inesperado. Não aconteceu nada
demais, mas para nós foi demais. Tínhamos muito público, não estávamos à espera
de tanta gente. Toda a gente a cantar e a reagir muito bem naquele espaço muito
bonito, mas a verdade é que a sensação desse concerto já foi superada algumas
vezes, não sei se por algum em especial…
PG: Há concertos em que há qualquer
coisa que se alinha e são mágicos. Há qualquer coisa especial. Outros que não,
não sei se depende de nós, provavelmente sim, mas não sei muito bem do
quê. 
CG: No fundo estamos no mesmo país,
com o mesmo público, com os mesmos hábitos, com os mesmos promotores, as coisas
acontecem mais ou menos sempre da mesma maneira. Quando fomos para Barcelona
sentimos diferença, não propriamente pela positiva. Quando mudas de ambientes
sentes mais essas diferenças, mas eu acho que enquanto estivermos por aqui… A
verdade é que talvez os concertos mais pequenos marquem mais…
PG: Maus Hábitos, eu ia falar nisso. O
concerto que demos no Maus Hábitos, o ano passado, foi incrível mesmo. Foi a
loucura, uma sala muito pequenina, calor, o pessoal a transpirar por todo o
lado.
CG: O concerto esteve para não
acontecer depois de cair um granizo absurdo.
PG: Choveu dentro da sala, nós
pensámos que já não ia haver concerto. Entretanto acreditámos que a coisa se ia
resolver, com um optimismo que o pessoal olhava e dizia – hum, não vai dar…
[risos]. Já estava quase a chover em cima dos amps e nós a pensar… epa se
calhar vamos ter que pensar em cancelar o concerto. Mas ele acabou por
acontecer e foi incrível. Dos concertos assim mais recentes acho que esse foi
dos mais fortes.
CG: Mas antes disso tínhamos tocado
no Ritz, no ano anterior, em Maio, e foi incrível. As coisas vão sendo
substituídas por novas memórias. O que é fixe… não ficamos presos a uma memória
antiga de “ai nessa altura é que era”.
TM: Lembram-se de algum sítio onde gostassem muito de tocar mas que ainda
não tenham tido oportunidade?
CG: No mundo? [risos].
TM: No mundo! Nunca pensaram fazer uma tour europeia?
PG: Gostávamos de tocar no Brasil!
Pensamos muitas vezes nisso.
CG: Eu gostava de tocar em todo o
lado, só que lá está… o espaço é fixe, mas se tu chegas lá e não tens ninguém
porque ninguém te conhece não é fixe. Por isso, sim curtia, mas também gostava
de ter muito público, onde quer que fosse.
PG: Gostávamos de tocar no Coliseu.
Aqui em Portugal acho que era fixe. Um dia, quem sabe quando. Se tocássemos no
Coliseu era bom sinal.
CG: Não é uma coisa muito difícil de
conseguir, mas já se sabe que ficas em dívida com a sala.
PG: Sim, é mais pelo espaço… a
mística… Mas eu continuo a insistir, eu adorava ir tocar ao Brasil. Rio de
Janeiro, São Paulo…
TM: Hão-de lá ter os vossos fãs…
CG: Sim, eu acho que sim. Há muita
gente do Brasil a vir falar connosco. Era lindo. Ainda por cima já tivemos
contactos nesse sentido e depois nunca acontece nada, é frustrante. Mas, para
já, não me importava de começar a sair de Portugal continental [risos]. Ir para
as ilhas… Devia ser muito mais fácil e parece que não. Já estive a fazer um
‘pressingzinho’ este ano… estou a trabalhar nisso [risos].
TM: Como foi partilhar o palco com bandas como os míticos The Jesus and the
Mary Chain e Sonic Youth?
CG: Isso de partilhar palcos é um
bocado um mito. A banda está cansada, eles vêm de tour, querem é descansar.
PG: Cada um está no seu camarim.
Podes-te cruzar com eles… cruzei-me com o Thurston Moore e com a Kim Gordon.
Aconteceu quando nós tocámos no Paredes de Coura, em 2007, no concerto que a
Cláudia falou há pouco, e em que partilhámos o palco com Sonic Youth. E foi
tipo… ainda no outro dia estávamos a ensaiar na garagem, íamos tocar às casas
ocupadas da vida, em circuitos muito pequeninos, e super felizes com a coisa…
de repente estamos aqui a tocar com Sonic Youth no mesmo palco. Dá-te assim um
choque forte e relativizas tudo. Ficas tipo wow… [risos] alguma coisa está a
correr mesmo bem. Tocámos também no Alive com uma banda que gosto muito, TV On
The Radio. Mas depende das pessoas, eu não sou aquele tipo de gajo que gosta de
ir ter com eles e dizer – olá, então tudo bem? Adoro a tua banda e tal. Mas é
prestigiante de alguma forma.
CG: É fixe, mas a verdade é que a
interacção não acontece. Também porque nós não somos gajos chatos, nem temos
nada para dizer. Vou lá dizer o quê? “Eh olá, curto bué o teu trabalho”. E o
gajo vai ficar… eh pa, boa… fixe [risos]. Mas com Sonic Youth, por acaso, acho
que o Hélio no fim falou com o baterista e o gajo era o maior bacano da vida.
Só que é isso, não queremos chatear. Se nós próprios estamos cansados e estamos
mais numa de estar no nosso camarim, imagina eles que vêm de tours.
PG: E já são velhotes… [risos]
CG: Se falasses de Nirvana… aí se
calhar respondia-te doutra maneira.
TM: Numa altura em que catalogar uma banda só pelo género rock parece algo
vago, vocês consideram-se uma banda de rock ou algo mais?
PG: Consideramo-nos uma banda rock.
Mas também quantos estilos é que existem dentro do rock? Quantas formas de
tocar rock é que existem? Eu percebo a necessidade de meter a coisa dentro duma
caixinha, mas nós próprios tentamos não fazer isso. Tentamos não ser só uma
coisa. Não queremos ser limitativos e estar a impor essas restrições logo à
partida.
CG: Mas é normal que te ponhas numa
gaveta bem larga como é a do rock. Porque se alguém quiser procurar novas
bandas do género…
PG: Sim, claro. Somos uma banda rock.
De guitarras, baixo, distorções, bateria. Estava era a contrapor um bocado a
ideia de termos que especificar, dentro do rock, qual é o que nós fazemos. Nós
tentamos não o fazer.
CG: Até porque num álbum podemos ir
para outro tipo de rock. Se falares do Marsupial e do Casa Ocupada, são dois
discos muito diferentes. Diferentes tipos de rock. Por isso acho que rock serve
perfeitamente.
TM: Como é que lidaram com o mediatismo de Turbo Lento?
CG: Bem. Sabemos que a coisa foi mais
divulgada, saiu em mais jornais ou revistas, mas a verdade é que não foi assim
tão mais diferente. Não estamos no programa da manhã da RTP. Isso também são
tudo opções nossas, não que tenha havido algum convite. Também decidimos para
onde é que queremos disparar e o que nos interessa. Não foi muito diferente
daquilo que tínhamos e do que esperávamos.
PG: Tem sido gradual. De álbum para
álbum temos tido um pouco mais de atenção. Nunca houve aquele momento em que
dum momento para o outro ficámos super conhecidos e estávamos no programa da
manhã ou a ser falados na televisão a toda a hora. As coisas vão acontecendo e
nunca houve essa surpresa de termos de nos adaptar porque toda a gente nos
conhece na rua. Somos bastante discretos, até. A coisa vai acontecendo e temos
tido visibilidade.
TM: Já têm músicas novas ou há planos para um novo álbum brevemente?
PG: Já, já temos algumas músicas na
manga. Nenhuma delas completa. Temos planos para novo álbum, só precisamos de
fazer as músicas [risos].
PG: Sim já temos ideias de músicas.
Temos algumas fechadas… duas ou três, uma ou duas.
CG: Fechámos, mas sem letra.
PG: Sim, fechámos instrumentalmente.
Se é aquilo que vai ficar no final… ainda estamos muito no início e estamos com
vontade de explorar outras ideias e tentar outras abordagens. Estamos a compor.
Estamos focados nisso e com vontade de ter um disco feito este ano. Quando é
que sai e se vai estar feito, não sabemos. Mas temos esse objectivo e estamos a
trabalhar nisso.
TM: Alguma vez pensaram em editar um álbum do tipo greatest hits?
[risos]
CG: Vinte anos, vinte canções. Talvez
quando tivermos vinte anos.
PG: Preferia que não, sinceramente
[risos].
TM: Para terminar, queremos saber o que têm andado a ouvir nas últimas
semanas.
CG: Eu ando com um problema. Não
consigo sair do médio oriente. Cada vez que vou ouvir música só me dá para
ouvir coisas tipo Tinariwen, Ali Farka, Mariem Hassan… É só pessoal que eu
quase nem sei o nome. Mas só me apetece ouvir aquele rock do Mali, do médio
oriente. Não sei, estou um bocado agarrada a isso.
PG: Tenho ouvido o primeiro álbum de Suicide,
acho fixe. Aline Frazão, também. A Tribe Called Quest… tenho ouvido
música. Há fases em que vais ouvindo mais um tipo de música, como a Cláudia
estava a dizer, mas tenho ouvido música dispersa. De Suicide, tenho curtido
muito o primeiro álbum deles.
CG: Se o Hélio estivesse aqui
dizia-te logo uma série de discos que tinham acabado de sair.

PG: Sim, eu só oiço música antiga.
TM: É tudo. Obrigada pela disponibilidade e até à próxima.
Aqui ficam as datas dos próximos concertos:

19 Mar – Teatro de Vila Real, Vila Real (estreia)
20 Mar – Teatro Municipal da Guarda, Guarda (estreia)



21 Mar – Teatro Aveirense, Aveiro (estreia)
26 Mar – Musicbox, Lisboa (“Linda Martini” + “Marsupial”)
27 Mar – Musicbox, Lisboa (“Olhos de mongol”)



28 Mar – Musicbox, Lisboa (“Casa ocupada”)



(as datas para o Musicbox já esgotaram)
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