Cinco Discos, Cinco Críticas #6

| Junho 30, 2015 8:42 pm
10000 Russos // Fuzz Club Records // Julho de 2015



8.0/10



10 000 Russos são um trio do Porto formado em 2012 por João Pimenta (bateria e voz), Pedro Pestana (guitarra) e André Couto (baixo). A 20 de Julho vão editar o seu primeiro álbum homónimo com o selo da Fuzz Club Records, escrito e gravado no interior de um centro comercial abandonado dos anos 80 . O álbum começa com “Karl Burns” (nome do baterista dos lendários The Fall), tema que explora sonoridades características do space rock, com riffs mais lentos e atmosféricos, algum reverb e ritmos repetitivos à mistura. “UsVsUs” é a faixa que se segue, mostrando-se como um dos destaques deste trabalho. É nesta música Que as influências dos NEU! e do seu Krautrock são evidentes, acompanhadas pelo ruído e distorção permanentes e por vocais com algumas influências de uns She Wants Revenge mais experimentais. “Barreiro” apresenta-nos uma batida mais pós-punk, em que a bateria e o baixo nos relembra os míticos Joy Division. O álbum termina com a faixa “Stakhanovets/Kalumet”, dividida em duas partes, como o título indica: na primeira reina o lado mais selvagem e abrasivo da banda, enquanto que na segunda metade o krautrock regressa mergulhado em pesadas repetições e batidas incessantes. O primeiro álbum homónimo dos 10 000 Russos não se trata de mais um álbum de psicadelia genérica, mas sim de um álbum sombrio e bem trabalhado onde o Krautrock reside, muitas das vezes agressivo, dentro das suas repetições progressivas. Certamente um dos trabalhos a ter em conta no final do ano.



Rui Gameiro





I Don’t Want To Let You Down // Jagjaguwar // Junho de 2015



8.8/10






Depois do soberbo Are We There do ano passado, Sharon Van Etten deixou-nos um EP com o título de I Don’t Want To Let You Down, título da primeira música deste EP que já era conhecida, uma música fabulosa com tudo que se pode pedir de Sharon. A qualidade continua com a “Just Like Blood”, bem mais calma que a anterior mas igualmente maravilhosa. De seguida, “I Always Fall Apart”, talvez a música que cai mais no esquecimento depois da audição do EP o que não significa que seja má, mas sim a menos memorável, mais uma vez numa vertente mais leve. “Pay My Debts” volta a encher as medidas com talvez a melhor música deste conjunto e por fim uma atuação ao vivo de “Tell Me” não desilude. Um EP consistente em que Sharon nos oferece altíssima qualidade com músicas em que o coração ganha vida e torna-se mestre do corpo. 






Tomás Carneiro





Modern Idea // End Result Produtions // Junho de 2015

7.6/10


Modern Idea marca a estreia dos londrinos The Agnes Circle nos trabalhos de estúdio, apresentando-se como um aperitivo para o que se poderá esperar de um futuro primeiro trabalho longa-duração. Composto por quatro canções, este primeiro curta-duração mostra uma proximidade do duo face às sonoridades das novas bandas da coldwave, nomeadamente Soviet Soviet, Ash Code e Authoban. Com “Sister Flux”, single de estreia, a mostrar a sonoridade base dos The Agnes Circle, todo este EP mostra uma viagem muito intimista ao passado, na posse da solidão mais extrema. Há ainda, no mesmo single, uma aposta na bateria eletrónica e sintetizadores que consequentemente trazem igualmente comparações aos primeiros trabalhos de The Soft Moon. Um grande single de avanço que viria a sofrer uma contradição na sonoridade posteriormente escutada em “Ceramics”.



“Yan’na Memory” é um dos singles mais bem conseguidos de Modern Idea EP e apresenta a bateria do pós-punk dos anos 80, fiel à guitarra do revivalismo deste, na era atual, mas com um toque ainda mais melancólico. Uma boa entrada para o prato principal, agora é esperar pelo disco.



Sónia Felizardo


Ratchet // XL Recordings // Maio de 2015


6.4/10
Para quem conhece a cena de música hip hop da East Coast nos Estados Unidos vê logo Shamir como um estranho. O nova iorquino de 20 e poucos anos, em semelhança a muitos artistas da East Coast como Zebra Katz, Le1f e Cakes Da Killa, é um grande ativista de assuntos relacionados com a comunidade LGBTQIA+ e isso consegue absorver-se subtilmente no seu debut, Rachet. 

Ratchet é um álbum de estreia feroz construído de uma maneira electrónica magnífica, fugindo a todos os padrões hip hop, respirando em simbiose entre este e o synthpop. O single “On The Regular” tem uma batida bastante cativante e letras cómicas que se combinam com outras faixas do álbum como “Make A Scene”, “Head In The Clouds” e “Call It Off”, mas, apesar disso o álbum não é perfeito; algumas faixas no álbum cortam todo o ambiente extásico como “Darker” e “Demon” que parecem pertencer a todo um outro álbum que não este cantado uma melodia muito mais parada e emocional.



Ratchet não deixa de ser um bom álbum por isso, apenas menos bom do que poderia ser e que tinha potencialidade para ser!



Júlio de Lucena





Is There A Heaven? // Fire Records // Abril de 2015



7.9/10



Como avaliar Is There a Heaven??
Bem, sobre o seu conteúdo, não há propriamente nada de novo, dado que este álbum é composto por duas covers. A primeira faixa é a cover de um tema original de Brian Ferry, “In Every Home a Heartache”. Uma malha de 1973 interpretada inúmeras vezes pelos Roxy Music e um dos hits da história do rock. A segunda faixa é também ela uma cover de um tema original de Albert Ayler e de Mary Maria Parks, chamado “Music Is the Healing Force of the Universe”. Uma homenagem à música proferida na linguagem do jazz, no ano de 1969. Este tema dá nome ao último LP de Ayler, que viria a falecer no ano seguinte. Portanto, seu conteúdo, não é, de todo original. 
Já a forma como os Bardo Pond nos apresentam estas faixas merece destaque e é a matéria de grande pertinência nesta crítica. 
Ambas as músicas foram interpretadas pelos Bardo Pond, com os seus maneirismos e vícios de transformarem toda e qualquer fonte de inspiração em acordes arrastados, percussão vincada, noise, reverb, psych…Em suma, numa ruidosa e abstracta fábula sonora, narrada pela Isobel Sollenberger. Ignorantes à história das faixas aqui presentes poderão pensar que este 12” se trata de um novo álbum de originais dos norte-americanos, dada a sensação de pertença que temos ao escutar estes temas em paralelo com os anteriores trabalhos do colectivo. Na verdade, o que aqui está em montra é uma prova do amor que os Bardo Pond nutrem por um par de artistas e pelas suas obras. 
É de referir ainda que, no ano passado, fomos mais uma vez agraciados com a presença dos Bardo Pond — agradeçam à organização do Reverence Valada. Apesar de tudo, o set deles foi minúsculo (20 minutos e pouco, se a memória não me falha). Uma banda destas já pede um regresso, não acham?






Eduardo Silva



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