Cinco Discos, Cinco Críticas #7

| Agosto 2, 2015 10:04 pm
L.P.1. // ETT Records // fevereiro de 2015
7.1/10



L.P.1 aka 14 Year Old High School PC-Fascist Hype Lords Rip Off Devo for the Sake of Extorting $$$ from Helpless Impressionable Midwestern Internet Peoplepunks L.P. é o álbum de estreia dos norte-americanos The Coneheads que compila em si duas cassetes de singles essencialmente caracterizados pela aura garage punk. Composto por quinze canções e com uma duração de aproximadamente 18 minutos, a banda oriunda de Indiana, vem trazer um álbum a colocar junto à onda garage que tem ganho grande demarcação na indústria musical nos últimos tempos.  E, embora o trabalho de John Dwyer e companheiros surja como uma grande influência, há singles como “Hack Hack Hack Variation 2” e “I Used To Be A Cheespuff” que vêm demarcar características próprias que fogem ao referido padrão. Caracterizado essencialmente pelo baixo propulsivo e guitarras energéticas, há ainda espaço para uma cover do clássico “Psycho Killer” dos Talking Heads. A fechar “Way Things Am”, o single com maior duração desta estreia e com boas influências no que toca à guitarra. Tempo ainda para ouvir a gravação do nada no final. Está fixe.
Sónia Felizardo


Another One // agosto de 2015 // Captured Tracks

4.0/10
No mini LP Another One, o cantor/compositor canadiano Mac DeMarco apresenta oito temas que aparentam ser músicas que não entraram em Salad Days, o seu antecessorpor não serem suficientemente boas. Apesar dos singles serem razoáveis, o resto do álbum não lhes chega aos calcanhares e músicas como a última, “House By The Water”, em que apenas se pode ouvir ondas a bater na areia, eram perfeitamente dispensáveis, principalmente quando no resto do álbum não há nada de extraordinário. O ideal seria optar pela edição de um disco curta duração e incluir neste apenas os singles apetrechados de alguma originalidade. Afinal mastigar o pior de Salad Days durante aproximadamente 24 minutos não é para todas as bocas.

Hélder Lemos



LP // Spectrum Spools // junho de 2015
7.5/10

Container é o projeto a solo de Ren Schofield que editou no mês passado o seu terceiro trabalho de estúdio, intitulado de LP, após dois antecessores com o mesmo nome. Para os mais curiosos Container traz em LP uma ode aos trabalhos mais conceituados de Aphex Twin, através de um álbum que apresenta em si um techno experimental com um toque do avant-garde afincadamente explorado pela indústria electrónica nos últimos tempos. Logo em “Eject”, single de abertura deste novo disco, há uma tendência na aposta de sons metálicos aquando da sua construção, bem como uma exploração de variados e complexos ritmos e estruturas musicais. Há ainda a tendência pelos elementos da robótica Twiniana visível na percussão de “Peripheral” e “Appliance” (embora este último se encontre mais virado para o industrial), mas apetrechada de caracterísitcas próprias já anteriormente tecidas e exploradas nos antecessores deste terceiro LP. Um disco bom, mas que não foi no entanto composto para se tornar vistoso.
Sónia Felizardo


A Cryptic Howl of Morbid Truth // fevereiro de 2015 // Graceless Recordings
7.8/10



A Cryptic Howl of Morbid Truth, lançado no início deste ano, é o primeiro trabalho de estúdio dos Black Earth, trio formado em 2012 proveniente de Espanha . O álbum pode ser descrito como uma ‘soundtrack’ para um filme de horror, que transmite, ao longo da sua duração, um desconforto e mal-estar, bem como a sensação de queda no abismo. Tudo isto é reforçado pela ausência de riffs que dão lugar ao ruído e a sons ambientais sombrios. A Cryptic Howl of Morbid Truth não apresenta seções de transição muito marcadas entre faixas e por este motivo deve ser ouvido como um todo, pois apenas deste modo exerce um efeito poderoso sobre o ouvinte criando a sensação de ser sugado para uma alucinação ou um pesadelo.
Martinho Mota


Fantastic Planet // Fire Records // fevereiro de 2015
7.9/10

No primeiro trimestre de 2015, Sarah Lipstate aka Noveller lançou o seu mais recente trabalho: o LP Fantastic Planet.

À semelhança de vários trabalhos de Noveller, o drone continua a uma presença constante em Fantastic PlanetAs notas arrastadas e os loops dão-nos tempo para processarmos uma narrativa, um contexto para aquela peça que simplesmente paira na etérea atmosfera das cordas e dos sintetizadores. Dado que Noveller prefere comunicar através da abstracção sonora, cabe a nós ouvintes encontrar palavras para preencher as faixas do LP.
A título de faixa exemplar, saltem directamente para a “Pulse Point”. Nesta, os agudos uivos do sintetizador combinam-se com o drone das cordas, a estática e com o loop da pesada percussão, produzindo uma peça sonora ao nível dos melhores filmes Sci-Fi dos anos 80. Ao nível de “Fantastic Planet”, a película que dá nome a este LP.

A ausência de voz e a insistência na estética drone poderia tornar este disco monótono ao fim de algumas audições. Na verdade, o contrário acontece. A ausência de uma narrativa escrita é, no caso de Fantastic Planet uma camada por preencher. Uma camada para nós – os ouvintes – preenchermos. Ou não, podemos simplesmente perder-nos no som. Dada a complexidade da componente instrumental de Fantastic Planet, creio que todos temos uma história diferente para contar depois de ouvirmos este LP. Não criaremos necessariamente novas histórias, mas certamente daremos lugar à construção de novas memórias.


Eduardo Silva
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