
Após o lançamento de Equus Asinus, os canadianos Men I Trust publicaram a 6 de maio de 2025 a tão esperada continuação deste trabalho: Equus Caballus. Como os próprios nomes indicam, cada parte reflete o mesmo universo musical, diferindo apenas no ritmo: Equus Asinus trata de faixas mais lentas, enquanto Equus Caballus trata de temas com mais groove e potencialmente mais impactantes para o ouvinte.
O impacto é, desde logo, antecipado pelos primeiros acordes dos dois primeiros temas de abertura. “To Ease You” e “Come Back Down” destacam-se pela bateria e pelas notas do sintetizador, definindo o estado de espírito que não nos abandonará até ao fim da nossa viagem por Equus Caballus – calma, mas que nos deixa paradoxalmente mais atentos ao que nos rodeia.
Equus Caballus combina em si tanto elementos de dream pop da atualidade como da música pop dos anos 80. Por exemplo, “Hard To See” recorda os slows típicos dessa época, dado o ritmo escolhido na bateria e a melodia simples e clara do sintetizador. Um outro tema que invoca os anos 80 pelos mesmos motivos é “Ring of the Past”. Combinado com a voz suave de Emma Proulx (especialmente nos versos do refrão – “I’ll Always love you/Forever with you/Reliving youth through/You”), “Ring of the Past” leva-nos de visita a um lugar que já não existe, mas que pode ser recriado a partir da música e das memórias. A repetição da melodia pode também sugerir o reviver do passado, aludindo também à tendência do ser humano para a repetição de hábitos antigos.
Falando no comportamento humano e na necessidade de procurar estrutura em tudo na vida, podemos logo mencionar “Another Stone”: aqui, o foco é colocado na importância do sentimento de pertença a um lugar, no eterno descontentamento, na insatisfação e na dificuldade em encontrar a própria voz num mundo em constante mudança, sobre o qual nunca se saberá tudo. “Another Stone” é, então, pelo seu caráter reflexivo, um dos momentos mais marcantes do álbum.
Fotografia: Dragos Chiriac
Um outro momento marcante de Equus Caballus é “Carried Away”, um tema que nos faz pensar que o tempo para no meio da confusão do dia a dia. “Carried Away” é ainda uma reflexão sobre o medo que sentimos e que nos obriga a agir de modo diferente daquele que gostaríamos, deixando-nos exaustos:
“Fear shuts your every effort
Clouding your better judgement
In the way
You carry on reluctant (carried away)
To bed where you lay down hurt”
Por último, o momento final que nos arrebata e que constitui o clímax do álbum é “Billie Toppy”, que nos conquista com a sua bass line clara e rápida, que facilmente fica no ouvido e cria tensão. O ritmo rápido do tema aliado à tensão no baixo ilustra a intensidade da relação entre a voz e o próprio Billie Toppy. O sujeito poético é capaz de se submeter às suas vontades (“Billie cares to wake me/And I’ll bend my knees neatly to his needs”), tentando convencer-se da sua submissão. No entanto, a tensão está na tendência de Billie Toppy para culpar toda a gente quando se encontra em sofrimento e na sua tendência para a infidelidade (“Please don’t go out to stray”). Além disso, existe ainda a referência a um cordeiro (“You see a lamb who’s fast asleep/Please don’t go out to stray”), como que para evidenciar o quão indefesa a voz se sente perante a presença deste amante, que magoa de forma gratuita – estabelece-se, então, uma relação entre predador e presa, em que a perseguição é ilustrada pela rapidez do instrumental.
Precisamente para terminar o álbum refletindo sobre a ideia de conflito, discórdia e de dificuldade inerente à condição humana, surge o tema “Eris (Wait)”. Eris é, segundo a mitologia grega, a própria personificação do caos e do conflito entre deuses e mortais. A palavra “wait“ vai surgindo como que num sussurro ao longo deste instrumental de 1 minuto e 58 segundos, mostrando que algo mais talvez esteja para vir – quer em termos de música, quer na nossa própria vida. A música vai-se desvanecendo, como também se vai desvanecendo o tempo até ao lançamento do próximo álbum.