Men I Trust
Equus Asinus

| Abril 22, 2025 12:28 am

A 19 de março foi lançado o quinto álbum de estúdio da banda canadiana Men I TrustEquus Asinus. Formada por Jessy Caron (baixo e guitarra), Dragos Chiriac (teclado) e Emmanuelle (“Emma”) Proulx (voz e guitarra), a banda procura sempre criar um ambiente convidativo ao sonho, à calma e à reflexão – misturando, para isso, tons de indie, electropop e dream pop.

O álbum abre com “I Come With Mud“, onde cada instrumento tem o seu lugar de destaque – o tempo lento permite dar visibilidade a todas as partes, evidenciando ainda mais a técnica dos músicos. “I Come With Mud” envolve o ouvinte no mundo de Equus Asinus, mundo esse em que o importante é viver o momento em harmonia com a natureza, aceitando que as imperfeições fazem parte da história de cada um de nós.

Em “All My Candles” o tom é, uma vez mais, reflexivo, pois a voz explora o seu passado tumultuoso e outros caminhos que poderia ter escolhido. Existem alguns arrependimentos, o que contrasta amplamente com a leveza da voz e do instrumental hipnótico. Um outro tema que contribui para criar este ambiente onírico é “Bethlehem“: tanto o groove como a melodia chamam à atenção e ficam no ouvido, harmonizando perfeitamente com a voz de Emma Poulx.

A hipnose continua com o tema “Heavenly Flow“, no qual as notas simples e leves na tarola trazem estrutura e ritmo. “Heavenly Flow” também se destaca pelos acordes no teclado que, aliados à bateria, conferem movimento e fluidez às memórias transmitidas pela vocalista. Além disso, o uso das pausas também demonstra a capacidade de Men I Trust para usar o silêncio como forma de introduzir variações no tema. Até as pausas contribuem aqui para a ideia de movimento e, ao mesmo tempo, de contenção. Tal evidencia que nenhuma recordação é estática e que não são precisos excessos para retratar as memórias em permanente mudança.

Men I Trust

Precisamente, não existem excessos em Equus Asinus. Todos os temas deste álbum mostram a forma única como os músicos conseguem tornar um som tão leve como se não estivesse lá. Isto consegue-se doseando bem voz e instrumental – nomeadamente, temas como “Paul’s Theme“, “Moon 2” e o final “What Matters Most” destacam-se pelos solos de piano e pela pouca voz, como se se tratassem de instrumentais de um álbum de jazz.

Mantendo a ideia de um instrumental associado a uma voz quase ausente, como se de um eco se tratasse, surge o tema “Girl (2025)“, sinónimo de mistério, de um lugar sombrio e de memórias difusas. É também uma procura pela liberdade e por compreender alguém, apesar da sua complexidade. Mal ouvimos “Girl (2025)”, somos transportados para um filme melancólico, como, por exemplo, The Virgin Suicides, de Sofia Coppola.

A melancolia presente em “Girl (2025)” propaga-se para “I Don’t Like Music“, um título irónico para um álbum que domina a criação musical tanto a nível técnico como a nível criativo. A melancolia está presente nas progressões de acordes e na própria letra, na qual Emma Proulx reflete em poucas palavras (como é costume nas suas letras) sobre as frustrações associadas ao ato de criar. Tal vem normalizar a ideia de continuar a praticar algo que nos faz sofrer, provando que não existe arte sem sofrimento.

Em suma, nada foi deixado ao acaso em Equus Asinus. Os instrumentais são, de modo geral, dominados por ritmos e melodias simples e capazes de, sozinhas, criar um ambiente imersivo e introspetivo.  Apesar de reter muito do cunho pessoal de Men I Trust, este é um trabalho diferente: embora seja ainda definido pelas melodias suaves e pela voz leve de Emma Proulx, é um álbum com maiores influências folk. É, ainda, a primeira de um trabalho com duas partes, sendo a segunda parte o futuro álbum Equus Caballus. Até ao lançamento de Equus Caballus, deixaremos que Equus Asinus nos transporte para todos os filmes que fazemos no interior das nossas cabeças.

 

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