Ought em entrevista: “não adoro The Smiths, mas sei que isso é apenas influência do facto do Morrisey ser um idiota racista”
Ought em entrevista: “não adoro The Smiths, mas sei que isso é apenas influência do facto do Morrisey ser um idiota racista”
Setembro 6, 2015 7:54 pm
| Ought em entrevista: “não adoro The Smiths, mas sei que isso é apenas influência do facto do Morrisey ser um idiota racista”
Setembro 6, 2015 7:54 pm
| © Brad Ogbonna |
Com uma discografia pequena mas promissora, onde se insere Today More Than Any Other Day, um dos discos mais aclamados do ano passado, os Ought chamaram a nossa atenção, de forma perspicaz, logo após a sua estreia em território nacional, onde deram um dos melhores concertos da edição de 2015 do NOS Primavera Sound. Atualmente em tour, e com os dias contados até ao lançamento de Sun Coming Down, falámos com o teclista da banda, Matt May, a fim de desmistificar um pouco sobre esta nova banda que conquista cada vez mais público. A entrevista, completa, pode ser lida abaixo.
Threshold Magazine (TM) – Não é fácil que, todas as pessoas, mundialmente, se possam identificar com a música de todas as bandas e, com os Ought decerto se passará o mesmo. Há algum “cliché”, em relação a bandas que vos chegam de forma diferente, daquela que vos chegaria se não as conhecessem melhor, ao seu contexto, à sua história? (No sentido em que tens maior probabilidade de ouvir, em países grandes como o Canadá, determinadas coisas, do que em outras determinadas cidades).
Matt May – Hm essa é uma pergunta muito interessante. Penso que esse é definitivamente o caso aqui, já que, pessoalmente, há cidades às quais presto mais atenção ou procuro especificamente. Mesmo que soe vago, quando estou à procura de bandas para tocarem comigo, normalmente procuro-as numa comunidade. No que toca ao que pessoalmente me chama, ou aquilo que procuro, é normalmente devido a amigos que vivem noutros locais que, por sua vez vão ver ou tocam com bandas desse lugar, ou então porque eu próprio sigo essa bandas para ter uma ideia do panorama musical.
TM – Como se conheceram e que processos decorreram até que a banda aparecesse em formato quarteto? Ambos os elementos partilhavam os mesmos ideais?
Matt May – Nós conhecemo-nos essencialmente através da escola e de um interesse mútuo em criar música. Penso que em certos aspetos todos nós partilhamos ideais, no entanto, existem diferenças e divergências. Isto funciona para nós, uma vez que respeitamos estas diferenças e divergências e construímos a nossa amizade à base deste respeito mútuo e do desejo de nos motivarmos uns aos outros para fazer música interessante e para ser pessoas melhores.
Matt May – Nós conhecemo-nos essencialmente através da escola e de um interesse mútuo em criar música. Penso que em certos aspetos todos nós partilhamos ideais, no entanto, existem diferenças e divergências. Isto funciona para nós, uma vez que respeitamos estas diferenças e divergências e construímos a nossa amizade à base deste respeito mútuo e do desejo de nos motivarmos uns aos outros para fazer música interessante e para ser pessoas melhores.
TM – Gostaríamos de saber um pouco mais acerca do vosso primeiro concerto. Aquele que vocês deram no maior quarto do vosso apartamento. Poderias falar sobre isso?
Matt May – Um dos nossos colegas de casa tinha acaba de se mudar e nós na altura andávamos a gravar o nosso primeiro EP, nesse quarto e na nossa sala de estar. Queríamos tocar estas músicas para os nossos amigos por isso convidamo-los e tocamos para eles nesse quarto vazio. Foi muito especial, estavam lá apenas alguns amigos e nós nunca tínhamos tocado ao vivo com esta banda por isso foi muito agradável. Um pequeno à parte, o Tim Keen tinha basicamente partido o braço no dia antes do concerto por isso teve de tocar as partes de bateria apenas com um braço, o que foi incrivelmente impressionante, senão um pouco perigoso.
TM – O vosso guitarrista e vocalista, Tim Darcy, antes de formar os Ought, tinha um projeto de folk. O som deste projeto teve alguma influência na sonoridade da vossa banda?
Matt May – Tenho a certeza que teve alguma influência, mas nós ouvimos tanta música diferente que o resultado final acaba sempre por ser algo onde tudo vai convergir ou, talvez até fora de onde cada um de nós se encontra como um indivíduo. O projeto a solo do Tim ainda é algo que ouço e gosto muito, por isso espero que se reflita na nossa música.
TM – Quão política é a música dos Ought?
Matt May – Um dos nossos colegas de casa tinha acaba de se mudar e nós na altura andávamos a gravar o nosso primeiro EP, nesse quarto e na nossa sala de estar. Queríamos tocar estas músicas para os nossos amigos por isso convidamo-los e tocamos para eles nesse quarto vazio. Foi muito especial, estavam lá apenas alguns amigos e nós nunca tínhamos tocado ao vivo com esta banda por isso foi muito agradável. Um pequeno à parte, o Tim Keen tinha basicamente partido o braço no dia antes do concerto por isso teve de tocar as partes de bateria apenas com um braço, o que foi incrivelmente impressionante, senão um pouco perigoso.
TM – O vosso guitarrista e vocalista, Tim Darcy, antes de formar os Ought, tinha um projeto de folk. O som deste projeto teve alguma influência na sonoridade da vossa banda?
Matt May – Tenho a certeza que teve alguma influência, mas nós ouvimos tanta música diferente que o resultado final acaba sempre por ser algo onde tudo vai convergir ou, talvez até fora de onde cada um de nós se encontra como um indivíduo. O projeto a solo do Tim ainda é algo que ouço e gosto muito, por isso espero que se reflita na nossa música.
TM – Quão política é a música dos Ought?
Matt May – Esta é uma pergunta algo difícil de responder. Eu penso que somos pessoas políticas já que todos nós nos envolvemos na política de uma forma ou outra. A nossa música é politica no sentido em que toda ela envolve um mundo de política, mesmo quando essas políticas são mais subtis ou até não mencionadas. Eu sei que valorizamos muito ser indivíduos preocupados e participativos na nossa comunidade e com os nossos amigos.
TM – Como avalias More Than Any Other Day? Se tivesses de dar nota o que darias? Seria disco do ano?
Matt May – Essa é uma boa pergunta. Eu costumo refletir muito sobre o álbum e não sei bem exatamente qual é a sua classificação. No entanto, diria que estou muito satisfeito com ele. Claro que há coisas que fazia de forma de diferente hoje, embora isso seja feito agora ao vivo. Se fosse mais corajoso podia fazer o mesmo que Vonnegut fez ao avaliar os seus livros, mas penso que ainda não passou tempo suficiente para refletir nisso significativamente. Continuo a adorar tocar aquelas música e acho que isso é otimo.
Matt May – Essa é uma boa pergunta. Eu costumo refletir muito sobre o álbum e não sei bem exatamente qual é a sua classificação. No entanto, diria que estou muito satisfeito com ele. Claro que há coisas que fazia de forma de diferente hoje, embora isso seja feito agora ao vivo. Se fosse mais corajoso podia fazer o mesmo que Vonnegut fez ao avaliar os seus livros, mas penso que ainda não passou tempo suficiente para refletir nisso significativamente. Continuo a adorar tocar aquelas música e acho que isso é otimo.
TM – Consideras a vossa sonoridade algo de inédito? Se não, com que artistas da atualidade se identificam a níveis sonoros?
Matt May – Honestamente não sinto qualquer afinidade com essa era de música em Montreal, em grande parte porque o panorama musical está tão diferente agora comparado com quando essas bandas estavam a aparecer. Estou entusiasmado e sinto-me influenciado pelos meus amigos que continuam a fazer música desafiante e interessante. Bandas como por exemplo Harsh Reality, Nennem, Gashrat, Lungbutter e Cheap Wig são muito queridas para mim.
TM – Ah, ainda sobre a pergunta anterior, existem alguns livros ou filmes a resultarem como uma influência?
Matt May – Definitivamente ao nível pessoal. Mas não estou certo de como isso influenciou a música que escrevo. Recentemente ando a ler James Baldwin e a ver coisas como Después de Lucía do Michel Franco e alguns filmes dos irmãos Dardenne. Adoro ver filmes quando ando em tour, por isso vejo tudo o que posso.
TM – Já te aconteceu, como ouvinte, seres totalmente enganados pelo contexto e pela estética de uma banda antes de a conheceres melhor? Se sim, quando? Com quem?
Matt May – Absolutamente, é muito fácil julgar algo demasiado rápido. É agradável ser completamente surpreendido por algo e adorar algo do qual não tens quaisquer expetativas. Acontece-me muito frequentemente. Recentemente talvez com os B-52s, que eu esperava não gostar mas que acabei por mudar completamente a minha opinião, em especial nos primeiros dois álbuns.
TM – O que poderemos esperar de Sun Coming Down? Pelo primeiro avanço, “Beautiful Blue Sky” a sonoridade mostrada no álbum de esteia parece permanecer fiel. É? Ainda sobre o single, quando dizem “I’m No Longer Afraid To Die, ‘cause that Is all That I have left” apresentam uma visão bastante existencialista sobre a vida. As letras do futuro trabalho rondarão esta questão, ou posicionam-se perante outros temas?
Matt May – Eu não escrevi as letras, mas acho que é seguro dizer que é sobre muitas coisas, algumas das quais existenciais enquanto outras não. Penso que as letras surgiram do tempo passado a refletir sobre experiências pessoais e as coisas que alguém fica obcecado quando está sozinho ou com amigos chegados.
Matt May – Eu não escrevi as letras, mas acho que é seguro dizer que é sobre muitas coisas, algumas das quais existenciais enquanto outras não. Penso que as letras surgiram do tempo passado a refletir sobre experiências pessoais e as coisas que alguém fica obcecado quando está sozinho ou com amigos chegados.
TM – Numa entrevista à Spectrum Culture referiram que “Today More Than Any Other Day” e “Beautiful Blue Sky” foram quase compostas na altura em que foram escritas. Curiosamente, são apontadas, por muitos, como as vossas melhores composições. O processo de composição costuma, normalmente, ser moroso? Houve letras que escreveram e que foram perdidas?
Matt May – Na verdade foram escritas em alturas distintas. Nós escrevemos “Beautiful Blue Sky” depois de acabar a gravação do primeiro EP e antes de começar a nossa primeira tour nos Estados Unidos. A “Today, Mor Than Any Other Day” foi escrita em 2013, quando estávamos a praticar em Montreal antes de gravar o nosso segundo EP, que acabou por se tornar no nosso primeiro álbum. O nosso processo de escrita é ao mesmo tempo rápido e demorado, se é que isso faz algum sentido. As ideias geralmente chegam rápido e são depois trabalhadas lentamente ao longo do tempo. Sinto que existe certamente um espírito semelhante em ambas as músicas.
Matt May – Na verdade foram escritas em alturas distintas. Nós escrevemos “Beautiful Blue Sky” depois de acabar a gravação do primeiro EP e antes de começar a nossa primeira tour nos Estados Unidos. A “Today, Mor Than Any Other Day” foi escrita em 2013, quando estávamos a praticar em Montreal antes de gravar o nosso segundo EP, que acabou por se tornar no nosso primeiro álbum. O nosso processo de escrita é ao mesmo tempo rápido e demorado, se é que isso faz algum sentido. As ideias geralmente chegam rápido e são depois trabalhadas lentamente ao longo do tempo. Sinto que existe certamente um espírito semelhante em ambas as músicas.
TM – Que bandas/artistas tens ouvido ultimamente? Algum álbum em específico?
Matt May – Ando principalmente a ouvir Forth Wanderers, Nennem, Taylor Swift, Sister Palace, LVL UP, Mitski e Eskimeaux recentemente. São de diferentes géneros, mas de momento estou imerso intensamente nestas bandas.
Matt May – Ando principalmente a ouvir Forth Wanderers, Nennem, Taylor Swift, Sister Palace, LVL UP, Mitski e Eskimeaux recentemente. São de diferentes géneros, mas de momento estou imerso intensamente nestas bandas.
TM – The Smiths ou The Fall? Devo ou Talking Heads?
Matt May – Honestamente eu não adoro The Smiths, mas sei que isso é apenas influência do facto do Morrisey ser um idiota racista . Mas adoro The Fall, por isso foi escolho-os sem dúvida. Não conheço Devo muito bem, mas cresci com os meus pais a adorarem Talking Heads, portanto seriam a minha escolha.
Matt May – Honestamente eu não adoro The Smiths, mas sei que isso é apenas influência do facto do Morrisey ser um idiota racista . Mas adoro The Fall, por isso foi escolho-os sem dúvida. Não conheço Devo muito bem, mas cresci com os meus pais a adorarem Talking Heads, portanto seriam a minha escolha.
TM – O que achaste de Portugal? Tencionam cá voltar em função da tour de Sun Coming Down?
Matt May – Eu adoro Portugal! Tivemos um dia de folga para explorar um pouco e o Porto é uma cidade tão bonita. Espero que possamos regressar muito muito em breve!!
TM – Obrigado pelo vosso tempo!
TM – Obrigado pelo vosso tempo!