Entrevista: Pega Monstro

Entrevista: Pega Monstro

| Outubro 12, 2015 2:49 am

Entrevista: Pega Monstro

| Outubro 12, 2015 2:49 am
Estivemos à conversa com as irmãs Reis, Maria e Júlia, sobre a sua banda Pega Monstro, o seu novo álbum Alfarroba, a sua tour de verão pelo Reino Unido e sobre a sua passagem pelo Jameson Urban Routes no dia 22 de outubro. 
Threshold Magazine (TM) – Como é que correu a vossa tour pelo Reino Unido e também por França? 

Pega Monstro (PM) – Foi muito fixe. Pareceu que já foi há uma eternidade, foi uma experiência incrível.






TM – O público dos vossos concertos na tour reagiu bem ao Alfarroba, mesmo sendo cantado em português? 






PM – Sim, só a cena de termos editado numa label inglesa já foi estranho para nós mas justificou um bocado a cena do pessoal achar na boa. As pessoas estão disponíveis para ouvir a música e estão habituados a ouvir músicas em várias línguas. Não é só em inglês, consegues sempre curtir por exemplo cenas africanas e outras, e não percebes nada. A língua acaba por não ser um impedimento.



TM – Pois, temos o exemplo dos Sigur Rós que cantam numa espécie de dialecto islandês e o público gosta bastante. 

TM – Vocês editaram o vosso primeiro álbum pela Cafetra Records e agora editaram Alfarroba através de uma editora inglesa, Upset the Rythm. Como é que foi essa mudança?

PM  Nós queríamos editar em vinil este segundo álbum e não tínhamos dinheiro para editar pela Cafetra. Então o Afonso, um amigo e agente da nossa banda, que é da Filho Único, mandou o disco ao Chris, que é da Upset the Rythm, e ele curtiu. Foi simples a transição. 
TM – Às vezes é sempre aquele “como é que uma banda portuguesa consegue lançar um álbum numa editora estrangeira”. Parece que não é fácil, mas no vosso caso até o foi.
PM – Neste caso o Afonso foi bastante perspicaz e a cena resultou. Soa bem e soa de acordo com a editora. Somos as primeiras a ser editadas noutra língua pela Upset the Rythm. O Chris é impecável, estivemos a dormir em casa dele em Londres durante a tour. A transição foi fácil porque é uma editora acolhedora, são só eles os dois, voluntários, então a cena é gigante só que é pequena. É só trabalhar imenso. Eles fazem a cena mesmo como deve ser.
TM – Como se sentem com o hype que se encontra à volta de ‘Alfarroba’? Estavam à espera?

PM  Não sei o que é que é hype. É uma cena que parece que acaba. Não estou a dizer que fizemos um disco para a vida. Acho hype uma palavra um bocadinho infeliz, o que significa. É bué eférmero. O hype nem nos diz respeito sequer. Ouves agora discos de há 50 anos e ainda conseguem ter a mesma vitalidade que tinham quando foram lançados. Será que tu estás no hype desse disco? É mais por parte de quem ouve. Até podes estar num hype de um disco e depois não ouves. O disco não é um hype, é só as pessoas que ouvem, por isso é que estou a dizer que o hype não nos diz respeito. 
TM – Como é que funciona o vosso processo criativo e quais as vossas influências?
PM – As nossas influências vão sendo tudo o que ouvimos. Quanto ao processo criativo é um bocado o que nos apetece fazer. Nos tocamos as duas, tocamos sozinhas também, cria-se uma linguagem em conjunto, tipo a Mary faz um riff e eu toco. Depois eventualmente, as vozes surgem e depois a letra acaba por surgir com um significado. 
TM – Acham que a adolescência afetou o trabalho conjunto como irmãs?
PM – Acho que afecta o facto de sermos irmãs, claro. Assim como a infância e o agora. Foi na adolescência que começamos a tocar e a ter consciência do que é que podes fazer e do que é que queres. Nem sequer tens consciência, fazes só. Acho que a vida agora é que influencia mais directamente aquilo que a gente faz. Tudo o que tu foste até agora influencia o que fazes.
TM – Uma colega minha da Threshold ao ouvir a música “És Tudo o que eu queria” reparou em algumas influências do B Fachada na sonoridade resultante. Que dizem?
PM – Não sei. Já ouvimos bué B Fachada. Neste caso ele não interveio como produtor. Se ela acha que tem, deve ter (risos).
TM – Às vezes um de nós ouve assim uma certa influência de um artista noutra banda que mais ninguém consegue ouvir. 
PM – Sim, isso às vezes acontece. Tu ouves e reconheces alguma cena, não especificamente de um artista, mas ficas “ai eu conheço esta cena”. E se calhar a pessoa que fez nem sequer teve consciência dessa influência. Neste caso não foi uma influência directa no som porque ele não estava mesmo presente.
TM – A Maria é uma pessoa que prevê o futuro? Na “Fado de Água Fria”, ela diz que vai morrer aos 34. Porquê aos 34 e não aos 27 como a maioria das estrelas da música?
PM – Não sei, não tem assim um significado (risos).
TM – Se calhar até soou bem na altura.
PM – Sim, até quero morrer mais tarde, não é aos 34 (risos).
TM – Também na “Fado de Água fria” vocês dizem “eu sou puta, não sou padre”. Há algum elemento comum entre puta e padre? Porquê a escolha destes grupos sociais em específico? 
PM – É a cena do moralismo. Acho que não sou moralista. Posso dizer coisas que soam a moralistas mas depois no fundo não sou moralista. Sou o contrário (risos).

TM – Vocês vão actuar no dia 22 do Jameson Urban Routes. Têm curiosidade em ver algumas das bandas que vão por lá passar?
PM – No nosso dia é Galgo e Cave Story. Como nunca ouvi não sei bem o que esperar, preferimos conhecer lá no evento. 
TM – E nos outros dias querem assistir a algum concerto?
PM – Ah sim, a Inga Copeland, no dia 24 de Outubro. 
TM – Sonic Youth ou Black Flag?
PM – Sonic Youth (risos). É mais melódico. Nem conhecemos muito de Black Flag.
TM – O que têm ouvido nas últimas semanas?
PM – Eu comprei lá em Londres um disco de música de centro oeste e sudeste brasileiro, é tipo modas e fandangos. Tenho ouvido Ariel Pink, a mixtape 56 Nights do Future. Ando sempre com aquilo disco da Sister Nancy no iPad, One Two
TM – Já tem alguns planos para 2016, novo álbum ou tour?
PM – Sim, outra tour europeia sem ser só Reino Unido, mas ainda está a ser marcada. Nós curtíamos lançar uma cena. 
TM – É bom bandas portuguesas fazerem tours europeias. Nos últimos anos têm sido comuns mas não é muito fácil arranjar fundos.
PM – Sim, não é fácil ser viável. Algumas bandas abriram assim um bocado essa comunicação, porque é mesmo uma questão de comunicação. Se estás sempre com medo, se calhar não vão ter dinheiro. É um risco, muito das vezes nem fazes dinheiro, é um investimento que se faz. Acho que é importante criar essa rede de comunicação que outros fizeram antes de nós. É uma experiência incrível e enquanto artista é brutal. Estás a tocar quase todos os dias e estás a crescer imenso sem te aperceberes 

TM – Muito obrigado pela entrevista! 

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