Old Jerusalem em entrevista:” Gostaria que o meu trabalho fosse apreciado com tempo”

Old Jerusalem em entrevista:” Gostaria que o meu trabalho fosse apreciado com tempo”

| Março 11, 2016 1:22 am

Old Jerusalem em entrevista:” Gostaria que o meu trabalho fosse apreciado com tempo”

| Março 11, 2016 1:22 am

Estivemos à conversa com Francisco Silva, mentor do projeto Old Jerusalem, que em 2016 regressou às edições discográficas com A rose is a rose is a rose, sexto trabalho de originais, com lançamento a 11 de março via PAD.

Threshold Magazine (TM) – Qual a história por detrás do título do álbum A rose is a rose is a rose?

Francisco Silva (FS) – O título referencia um poema da Gertrude Stein, mas principalmente o uso posterior que foi feito desse mesmo verso para ilustrar o chamado princípio da identidade (que uma coisa é o que é, ou, noutra formulação que “A é A”). Jogo com a ideia de cada coisa ter a sua própria natureza e de ser muitas vezes pouco sensato insistir em não respeitar essa natureza intrínseca de cada coisa.



TM – O que podemos esperar deste novo disco? Existe alguma temática associada?

FS – Uma temática, estritamente falando, não existe. Quando muito poder-se-ia dizer que pela recorrência em várias das canções do que atrás mencionei sobre o respeito pela natureza de cada coisa, esse poderia tomar-se como o “mote” do disco, mas mesmo assim com muitas ressalvas. 

TM – O que é que te influenciou na sua composição? 

FS – O que sempre me influencia na escrita de qualquer canção ou composição de qualquer disco: as minhas reflexões sobre a vida e a nossa existência, a minha mundividência, os livros que leio, as conversas que mantenho, os discos que ouço, etc, etc. 

TM – Quais as tuas expectativas em relação a este novo trabalho? 

FS – Gostaria que fosse apreciado com tempo e disponibilidade mental por quem o venha a ouvir, e que conseguisse imiscuir-se e trazer valor ao quotidiano de quem decida dar-lhe atenção. No entanto, isto é a formulação de um desejo, não configura propriamente uma expectativa. 

TM – Dado que sempre nos habituaste a edições mais regulares, porquê cinco anos para editar o sucessor de Old Jerusalem

FS – Numa fase ainda inicial do trabalho neste disco decidi que iria fazê-lo com a colaboração do Filipe Melo, e a participação dele acabou por “abrir a porta” à participação de outros músicos (o Nelson Cascais, o quarteto da Ana Cláudia, Ana Filipa, Joana e Ana, mesmo numa fase posterior o contacto com o Nelson Carvalho para as misturas). Tendo decidido de forma clara que este seria o rumo do trabalho, o que se impôs acabou por ser a necessidade de gerir a agenda de todos os intervenientes, e como se trata de músicos com um nível de actividade relativamente intenso em vários momentos, o trabalho acabou por ter de estender-se por um período de tempo mais alargado do que nos outros discos. 

TM – Old Jerusalem foi integralmente composto e produzido por ti, mas A rose is a rose is a rose já contou com a presença de vários colaboradores. Como explicas essa mudança? 

FS – Foi simplesmente o interesse e até mesmo a necessidade que senti de alargar o âmbito das colaborações, poder contar com outros matizes e outras perspectivas sobre as canções, com vista a diversificar e enriquecer a estética de Old Jerusalem e deste trabalho em particular, de lhe dar no fundo o seu toque distintivo. 

TM – Como foi trabalhar com Filipe Melo? 

FS – O Filipe é um músico excepcional, muito conhecedor, curioso, inteligente e aberto a explorar ideias. Além destas qualidades, revelou-se ainda por cima um tipo impecável com quem dá grande gosto passar tempo à conversa. Foi por isso muito fácil e extremamente recompensador trabalhar com ele. 

TM – Aquilo que te motivava em 2001 quando iniciaste o projeto Old Jerusalem ainda se mantem em 2016? 

FS – Diria que na essência sim, não sinto que a motivação para o projecto tenha sofrido alterações dignas de nota. 

TM – “Florentine Course” foi a música que mais gostamos de ouvir em A rose is a rose is a rose. Poderias explicar o seu significado? 

FS – No fundo é uma canção sobre o(s) momento(s) em que nos damos conta de que não é um drama deixar coisas para trás. 

TM – O que podemos esperar do concerto de apresentação do álbum na ZDB a 2 de Abril? 

FS – Como o enfoque de Old Jerusalem passa pouco pela componente de “espectáculo” o que se pode esperar é muito simplesmente a nossa interpretação tão dedicada quanto possível das canções deste disco e de outras canções anteriores. 

TM – Nick Drake ou Tim Buckley? 

FS – Nick Drake sem hesitar, com excepção de uma intepretação do “Song to the siren” num programa de televisão que só por si confirmaria o Tim Buckley como um dos gigantes da canção.

TM – O que tens ouvido ultimamente? 

FS – Os últimos CDs que passaram pelo leitor do meu carro foram o Existir dos Madredeus e o Nothing’s shocking dos Jane’s Addiction. Claramente as minhas audições seguem padrões muito próprios, ilógicos para quem não esteja na minha cabeça, e variados, pouco ditados pelo “sabor do momento”.
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