O MAGAFEST 2016▲▼◆, festival de música alternativa e de autor por onde já passaram nomes Norberto Lobo & Carlos Bica, Filho da Mãe, Bruno Pernadas, Lula Pena, Minta & The Brook Trout, Garcia da Selva, Memória de Peixe, JP Simões, entre muitos outros, está de regresso para a sua terceira edição.
O festival de celebração das MagaSessions, sessões musicais que acontecem desde 2012 no Saldanha, com curadoria, e na casa, de Inês Magalhães, realiza-se este ano a 10 de setembro num novo espaço, Palácio Sinel de Cordes, substituindo a Casa Independente, onde se realizarm com o sucesso as primeiras duas edições (2014 e 2015). Este ano o cartaz inclui nomes como Tó Trips & João Doce, Selma Uamusse, Norman, Carlos Bica & Jim Black, Alek Rein, Madalena Palmeirim, Sopa de Pedra, Abysmo Speed Date e Tra$h Converters.
Para sabermos um pouco mais sobre o MAGAFEST fomos muito bem recebidos pela organizadora do evento, Inês Magalhães, em sua casa.
Threshold Magazine (TM) – Falta menos de um mês para o MAGAFEST. Aposto que o entusiasmo é enorme! O que se pode esperar desta edição?
Inês Magalhães (IM) – Esta é a terceira edição, tem algumas diferenças em relação à primeira e à segunda. Vamos mudar de espaço pois até agora foi na casa Independente. Tem corrido tão bem que tomei essa decisão. No ano passado até tivemos de perguntar às pessoas se iam mesmo sair para tirarmos a pulseira e darmos a outra pessoa. Portanto, parece-me que este ano fazia sentido aumentar de espaço, mas não muito. É no Palácio Sinel de Cordes, continua a ser uma casa, mas não podes aumentar muito se não perdes a energia que tens nas MagaSessions, concertos intimistas, onde estás à vontade e tens espaço para te mover. E isso acontece no Palácio. Na Casa Independente, por ser um espaço mais pequeno, eu tinha menos espaço de manobra para trazer outros projetos que este ano vão acontecer, como o Abysmo Speed Date, exposições fotográficas, edições independentes, fanzines, tudo projetos que de vez em quando posso ter nas MagaSessions. Vai estar também presente a Luísa Jacinto, uma pintora que vai estar num dos salões da casa.
O Palácio é espaço muito giro, já com uma boa energia, onde se realiza a Trienal de Arquitetura e pode já passaram o Rodrigo Amarante e a Angel Olsen. Estas são assim as grandes mudanças estruturais do projeto. De resto, é um cartaz completamente diferente do ano passado, tirando o Norberto Lobo, que está presente desde a primeira edição, mas a cada ano com um projeto diferente.
TM – Como é que funcionou reunir os Norman >>>? Sei que não atuam muitas vezes e que umas das ultimas vezes que atuaram foi numa das MagaSessions em 2013, o Dronefest.
IM – Sou amiga deles há mais de 15 anos. Do nosso grupo todos conhecemos os Norman >>> e são a minha banda favorita. É incrível! O João (Lobo) não vive cá, vive em Bruxelas, o Manuel (Lobo) está a viver no Alandroal e o Norberto (Lobo) está sempre cheio com muitos concertos. Falei com eles e perguntei se dava. Ainda houve uns problemas ao princípio porque o João ia começar uma residência artística dia 11 e não era cá. Pedi-lhe para adiar um dia e isso aconteceu. São sortes! Eu já tinha falado com eles há 2 anos, na primeira edição, e aí não dava mesmo.
Com as Sopa de Pedra já tinha falado no ano passado, assim como com a Selma. Por uma razão ou por outra não deu e vêm agora este ano. É uma questão de ver os calendários de todos. À medida que o cartaz vai sendo construído, tem de ser gerido para que fique bastante harmonioso. Tem de ser um cartaz que tu sintas que no conjunto traz alguma coisa. E também coerente com as MagaSessions, com a abertura musical que elas oferecem.
TM – Há algum concerto para o qual as expetativas sejam altas?
IM – Norman >>> são meus amigos, por isso é diferente. Ainda por cima tocam muito pouco, é algo inédito e raro. Todos os outros tenho acompanhado o trabalho de muito perto. Carlos Bica, Jim Black e Frank Möbus não dá para acompanhar de muito perto o trabalho deles porque vivem nos Estados Unidos e raramente se reúnem. Ou quando se reúnem, às vezes nem vêm a Lisboa ou eu não posso ir. Tenho grande curiosidade em vê-los.
A Selma, ela é uma força. Numa das MagaSessions, a Selma estava com aquela força toda ali ao fundo ao lado do piano, sem palco nem nada, e de repente começa a andar pela casa que estava à pinha. Ela saltou, pulou no meio das pessoas com o microfone. Uma energia, uma coisa! Assim mesmo eletrizante, sabes? Sentia-se! No MAGAFEST vai ser mais ou menos a mesma coisa, não há palco, portanto as pessoas vão estar muito perto.
A expetativa é mais ver o MAGAFEST a acontecer num espaço novo, que isso também traz uma grande pica. Este ano há uma equipa de co-produção, a Gerador. Eu não sabia o que isso era, fazia tudo, levava e buscava o material. Eu sou a designer das MagaSessions e do Magafest, faço os bilhetes, imprimo e depois corto-os. Tudo o que tu possas imaginar era eu que fazia nas duas primeiras edições. Não tinha assistentes, não tinha voluntários. Tinha muitos bons amigos e muitos bons amigos músicos que se davam a uma quantidade de situações de terem de levar o seu material e não terem pessoal a levar o seu material. Faz parte também, é um festival em que as coisas nascem pequenas e depois vão crescendo. Tudo me vai dar pica porque vai ser um espaço novo, vou ter uma quantidade de projetos para além da música a acontecerem ao mesmo tempo no Palácio.
As pessoas com quem tenho lidado são todas incríveis, tanto a Inês Valdez e a Patrício Craveiro Lopes da Casa Independente, como agora o Manuel Henriques, responsável pela Trienal e com o pessoal da Gerador. Quanto tens um projeto que é abrir as portas de tua casa não podes entrar noutra esfera, noutra frequência. Tens de te dar e as pessoas à tua volta têm de ter a mesma frequência, de um projeto pequeno que não tem grandes patrocinadores, grandes sponsors e não são, nem querem ser para 10 ou 50 mil pessoas.
A capacidade do Palácio Sinel de Cordes são 1500 e eu não quero ter essas pessoas todas. Às 600 pessoas “fechamos” a porta. Não é bem fechar a porta, pois eu espero que vão 600 pessoas. A expetativa é de tudo este ano. Sei que é a terceira vez, mas a diferença do primeiro para o segundo é de que eu estava mais relaxada. No primeiro ano nunca tinha feito um festival, não sabia de tudo, desde a promoção, a comunicação, de toda a produção que envolvia fazer um festival. No segundo ano já sabes, já fazes as coisas com antecedência, as coisas correm com fluidez. Agora não tenho a estrutura da Casa Independente, já tinha malta lá a trabalhar, já tinha bar feito, já tinha os seguranças, já tinha toda uma estrutura que eu não tinha de pensar. Este ano já não, vou ter de contratar uma equipa com 20 pessoas. Já vou ter de tratar do bar, do espaço que agora é todo para ti. É bom mas com maiores responsabilidade. A margem para falhares é muito menor.
TM – Podes nos explicar melhor como vão funcionar os projetos Abysmo Speed Date e Tra$h Converters?
IM –Tra$h Converters é uma dupla de DJs, o Fernando Fadigas e o Miguel Sá, que vieram cá tocar também, no mesmo dia de Love That Lava e são incríveis. Eu nunca achei muita piada a DJ. Gosto de música ao vivo e gosto de DJ quando vou sair à noite mas não de estar sentada a ouvir os DJs a passarem música. Eles são tão bons que dá para fazer isso. Eles vão estar dentro do palácio, a modular o ambiente e o som. Abysmo Speed Date é a Abysmo que vai ter uma sala só para elas e onde vão estar 5 autores a responder durante 5 minutos, como os speed dates, com uma campainha. Cinco minutos, as pessoas sentam-se, podem perguntar tudo, pedir tudo e depois trocam. Vai ser engraçado porque às vezes as pessoas pensam que a poesia e literatura são coisas para pessoal mais velho ou que são coisas que são mais chatas e não são de todo. Ainda por cima isso agora está a voltar. Agora estás a ter os novos escritores de uma forma muito mais prolifera. Vocês pensam que poesia é pegar num livrinho de Florbela Espanca a ler e não é. Pode ser outra coisa completamente diferente, uma das coisas que as pessoas têm ideias feitas
TM – É bom englobar poesia num festival de música.
IM – É para englobar tudo, e a poesia também.
TM – Pode ser que assim mais pessoas descubram a sua paixão por algo que não conheciam, vejam as coisas de outra forma.
IM – Tive uma coisa gira com as MagaSessions em que tinha um público que vem a um concerto de um músico que gosta muito. Gostam muito do concerto mas depois apaixonam-se pela casa. Perguntam logo quando é o próximo concerto. Eu digo que em princípio será dali a um mês e vai ser algo completamente diferente, pois as pessoas acabaram provavelmente de ouvir folk e vai ser música experimental no próximo mês. Pessoas que à partida nunca iriam ouvir música experimental por iniciativa própria, a não ser que apanhem na radio. É muito eclético o que eu trago, já trouxe rock, música tradicional portuguesa, folk, musica de improvisação, experimental, música soul, ghospel. Já passou por cá tudo mas há sempre uma linha dentro desses músicos todos. Depois no final desses concertos mais experimentais há pessoas que me dizem: “não estava nada à espera”. Eu pergunto se gostaram e dizem-me que sim, mas que não costumam ouvir esse tipo de música. As pessoas têm a noção que não gostam e por isso nem sequer tentam ouvir. Eu também não gosto de toda a música rock mas não vou dizer que não gosto de rock e nunca mais vou ouvir rock na vida. As pessoas não tem é hábito de ouvir outros géneros musicais um bocado mais fora. TM – Começa-se a ouvir um bocado mais, até se gosta e a pessoa começa a explorar mais o género.
IM – Sim, isso pode acontecer com as outras propostas que faço no Palácio, tanto na poesia, como de edições e fanzines. As pessoas que venham abertas a outras dimensões, universos.
TM – Até agora, quais foram os artistas que mais gostaste de ver atuar nas MagaSessions? IM – Há um concerto que me marcou muito, o do João Lobo. Eu digo isto há anos. É giro porque as MagaSessions têm 4 anos, o João Lobo tocou cá no primeiro ano em dezembro e eu ainda digo que foi dos concertos que mais me marcou. Primeiro concerto dele a solo em bateria. Estava cá muita gente, à volta de 60 pessoas, tudo em torno da bateria. Foi sublime, daqueles concertos que tu ouves e dizes: “Levei um chapadão agora”. Memória de Peixe foi incrível também e eu apaguei o som desse concerto. Não me aconteceu nenhuma vez em 4 anos, em 60 concertos. A malta toda aí a dançar.
O Dronefest, uma espécie de um mini-MAGAFEST. Várias bandas a tocar no mesmo dia, Eggstream, Norman >>>, Dream & Drone orchestra, Daniele Martini, entre outras. Tocaram em várias salas. Outro concerto foi Garcia da Selva, feito pelo Manuel Lobo aka Manuel Mesquita no ano passado no MAGAFEST. O primeiro concerto dele foi com uma projecção naquela paredes lá atrás, com videomapping, para aproveitar os frisos todos da casa e foi muito bonito. Com Garcia da Selva também fiz outra iniciativa interessante, em que pôs amplificadores em todas as divisões da casa e criou um caminho musical. Cada amplificador estava a dar o mesmo som com pequenas variações. Ias andando pela casa e ouvindo.
TM – Já reparei que experimentaste bastante nas MagaSessions e no MAGAFEST. Já tens algum planos para futuras edições ?
IM – Se o MAGAFEST resultar este ano, acho que encontrei a fórmula. Não quero crescer mais, tem o tamanho certo, no Palácio Sinel de Cordes. Nas MagaSessions é mais complicado porque é em minha casa e todos os meses, às vezes mais do que uma vez por mês. Uma vez por mês eu tenho um festão em casa. Um festão que não é um festão porque as pessoas não vêem em modo festa, percebem que é uma casa. Vêem até bastante calmas, sentam-se e ouvem o seu concerto. Passam aqui o seu serão, tudo super calmo. Nunca tive um problema que seja. Eventualmente as MagaSessions vão ter de acabar ou pelo menos diminuir a frequência que têm. Supostamente é uma vez por mês e eu já dei uns 15 concertos este ano. Da mesma forma que apareceram, sem pensar muito, enquanto eu achar que trazem alguma coisa e forem necessárias, eu faço-as.
TM – O que tens ouvido nas últimas semanas?
IM – Uma música especial dos Antena, “Camino Del Sol”, e Selda Bagcan, música folclórica turca, em particular “Yaz Gazeteci Yaz”.
Os bilhetes para o MAGAFEST 2016▲▼◆ têm o preço de 20 euros e estarão à venda nas plataformas MagaSessions, na Ticketline e Live Event Ticketing.