Reportagem: ENTREMURALHAS 2016 [Castelo de Leiria] – 2º dia

Reportagem: ENTREMURALHAS 2016 [Castelo de Leiria] – 2º dia

| Setembro 4, 2016 5:02 pm

Reportagem: ENTREMURALHAS 2016 [Castelo de Leiria] – 2º dia

| Setembro 4, 2016 5:02 pm



Ao segundo dia do festival já se encontrava disponível o acesso aos três palcos e uma programação extra ao festival, o Muralhartes. Depois de um primeiro dia excêntrico, essencialmente pela performance marcante dos Grausame Töchter, o segundo dia apresentava-se mais calmo. As portas abriram às 16h00 tendo as primeiras atividades marcadas para as 17h00 nos Paços Novos, com performance de Mafalda Silvgar, intitulada de “Ouroboros“, e exposição fotográfica de Lisa Teles assinada de “Subversão“. A partir das 18h00 iniciavam os concertos e era dia de ver ou rever King Dude, Sex Gang Children e Frustration, e assistir às estreias de Die Krupps – banda com 36 anos de carreira -, Angelic Foe e Dark Door.



Angelic Foe





Os Angelic Foe inauguraram o Palco Igreja da Pena por volta das 18h07 com “Shapes Without Shadows”, retirado do mais recente disco Mother of Abominations. Annmarie Thim (ex-vocalista dos Arcana), trouxe consigo mais três elementos: um baterista, teclista e uma “backing vocal“, para um espetáculo que apaixonaria o público e até as ruínas da sublime Igreja da Pena
Embora com um som tendencialmente alto no início, o concerto seguiu-se com “The Charmer”, retirado do primeiro disco da banda, Oppressed by the Heavens, onde essa intensidade sonora foi sendo atenuada. Do mesmo álbum os Angelic Foe tocaram ainda “Love Inflamed”, “Our Lilith” e “The Serpent and Samael”.
Angelic Foe marcou mais um dos momentos das grandes vozes que passaram pelo Entremuralhas 2016, com uma performance sorumbática de vocais operáticos que garantiram uma presença forte ao longo de todo o espetáculo.  
Apesar de ser um concerto mais parado, com a guitarra a ser reproduzida em backing tracks, Annmarie Thim comunicou pontualmente com o público, o que juntamente com a sua boa disposição, garantiu um concerto bom para a primeira abertura do segundo dia. 
Os Angelic Foe encerraram a atuação com “The Get”. O concerto terminou às 19h08.


Angelic Foe


Dark Door


Os Dark Door são um duo italiano composto por Mario D’aniello (voz e sintetizador) e Federica Velenia (sintetizador). No Palco Igreja da Pena os Dark Door apresentaram-se às 19h20 rigorosamente vestidos de preto para apresentarem, em estreia nacional, a sua música synthwave minimal. A abrir com “Intro”, a dupla italiana subiu a palco de forma muito pouco interativa para um concerto que se avizinhava monótono. E monótono viria a ser, do início ao fim. 
Mario D’aniello quando não tocava, caminhava pelo palco a cantar, mas sem mostrar grande interação com o público. Federica Velenia permaneceu parada no sintetizador de início ao fim. A setlist do concerto também não foi uma escolha muito feliz, dado que o concerto já aqueceu demasiado tarde e despertou o desinteresse de muitos antes da sua segunda metade.
Os Dark Door tocaram dezasseis músicas num concerto que teve a duração de uma hora. A dupla tocou também o conhecido single “Tziganata“, um cover dos Litfiba. Na memória do concerto ficam destacadas músicas como “Risveglio“, “Nella Mente”, “A Scatti” e “Nato Morto”.

Dark Door


King Dude




King Dude já não é novo em terras lusas, mas num castelo português era uma estreia absoluta. O público do Entremuralhas ainda não sabia mas assinava-se ali um dos grandes concertos do festival e, sem margem para dúvidas, o melhor do segundo dia. Marcado para as 21h00 o concerto iniciou às 21h22 com Thomas Jefferson Cowgill a dizer que era muito bom estar de volta a Portugal e fazendo-se acompanhar de três músicos. A abrir “Black Butterfly”, retirado de Songs of Flesh & Blood – In The Key of Light(2015), e uma banda pronta para entreter todos os festivaleiros e as muralhas que cercam o Palco Alma.

Um dos momentos que mais marcou o concerto foi aconteceu quando Thomas Cowgill faz uma pausa entre músicos para mandar aquela piada: “I really feel like a king in this castle”. Mais um mini “king’s speech”, uns tragos no whisky e umas afinações de guitarra, e King Dude avançam com “Death Won’t Take Me”, “Rosemary”, “The Heavy Curtain” e “Desolate Hour” ainda em apresentação do mais recente disco até à data. Depois da quarta música (“Rosemary”) Thomas Cowgill aproveitou para apresentar a banda que o acompanhava e ainda acrescentar que só iria parar de tocar quando o impedissem. Grande festa! Ninguém queria que o concerto acabasse e King Dude partilhava a mesma opinião. 
Já o concerto se aproximava do fim quando aconteceu um grande espetáculo de luzes e King Dude cantava “Fear Is All You Know”. Impossível haver alguém indiferente, afinal a voz de Thomas Cowgill conseguia preencher e chegar a todos os pontos do castelo e ser sentida por todos os “entremuralhantes”.
Houve ainda espaço para ouvir duas músicas novas – “Holy Christos” e “Sex Dungeon (USA)” – que vão fazer parte de Sex, o novo disco de King Dude com data de lançamento anunciada para 28 de outubro. King Dude e banda tocaram ao todo treze canções, num concerto que só não teve encore porque os “donos” do Alma naquele dia eram os Sex Gang Children. Cowgill estava tão bem disposto que conseguiu apaixonar até aqueles que viam o concerto lá de cima, da Torre de Menagem. O concertão do segundo dia. 
King Dude foi de facto um rei no Castelo de Leiria. O concerto terminou às 22h20 com “Miss September”, a revisitar o disco Fear.


King Dude

Sex Gang Children



Os Sex Gang Children são uma banda histórica e trouxeram à setima edição do Entremuralhas um concerto único, raro e também histórico. A banda apresentou-se em palco com os elementos da formação original, que data de 1981 e trazia na manga “Sebastiane”, uma das dez músicas mais iconográficas da cena gótica. Os Sex Gang Children regressavam a Portugal 12 anos depois do último concerto no Porto (Halloween Festival, 2004).
As expectativas eram altas e às 23h00 dava-se início ao espetáculo com “Deathworship in Eurasia” como pano de fundo. Andi Sex Gang e banda trouxeram até ao Palco Alma alguns dos seus maiores singles de uma carreira que já conta com 35 anos. Andi vestia uma capa comprida de preto até aos pés e utilizava os tradicionais óculos escuros, pronto para dar um dos concertos mais aguardados do festival. Era a altura do post-punk dos anos 80 viajar até aos anos 10 do século XXI. Depois de “Killer K”, os Sex Gang Children fizeram a sua música ecoar com “Salvation” e “German Nun” esta última a demarcar um dos pontos altos do aquecimento inicial do concerto. 
Um momento interessante de relatar aconteceu antes da performance de “Sense of Elation”, onde Andi se dirige ao público e pergunta “Where is my Martini?” enquanto se hidrata com água. Há ali uma dança estranha do líder pelo meio que chama a atenção, mas que não chega para convencer todos os festivaleiros; afinal a atuação de King Dude tinha sido extraordinariamente bem conseguida
Quase sempre em formato vocalista, Andi pegou pontualmente na guitarra acústica e os Sex Gang Children, além das canções originais, ainda tiveram espaço para interpretar “Les Amants d’un Jour“, um cover de Édith Piaf. Já quase no final do concerto os ingleses tocaram a música que fazia jus ao certo renome que têm na cena gótica e underground: “Sebastianne” que foi, para muitos, o ponto alto do último concerto do Alma no segundo dia. Depediram-se com “Song and Legend” e um concerto recheado dos singles produzidos entre 1982 e 1983. Depois do adeus ao palco, as palmas do público fizeram-se ouvir e o quarteto subiu mais uma vez ao palco para tocar mais três canções. Só faltou “Naked” na setlist.
Os Sex Gang Children tocaram um total de 18 músicas, naquele que foi o primeiro concerto do Entremuralhas com direito a encore. 


Sex Gang Children - Público

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Frustration




Os Frustration também não eram novos por solo português. Em 2008 tocaram no Drop Dead Festival e no dia 26 de agosto fizeram a sua estreia no Palco Corpo do Entremuralhas 2016.
Com concerto iniciado às 00h20, o quinteto francês sobe a palco para apresentar os discos Relax (2008) e Uncivilized (2013) e meter toda a gente a dançar. Os Frustration já são uma banda experiente e a sua música em estúdio, caracterizada entre um punk/post-punk, a fazer lembrar uns Joy Division enquanto Warsaw, também ajudava a tecer expectativas para aqueles que viam a banda pela primeira vez. Ainda não sabia o público aquilo que o concerto ia desenrolar. Punk fresquinho e francês para dançar até o sol raiar.


O vocalista Fabrice Gilbert manteve uma presença em palco muito notável, com uma voz e timbre que se situam entre um Ian Curtis (Joy Division) e um Elias Bender Rønnefelt (Iceage): uma das melhores combinações para se escutar num festival tão eclético como o Entremuralhas. De aplaudir também o guitarrista Nicus Duteil que viria a partir, por três vezes, as “maravilhosas” cordas da sua guitarra. Punk é punk.
Apesar do pára-arranca com os contratempos das cordas que iam saltando, os Frustration ainda tocaram singles como “Uncivilized”, “Blind”, “Midlife Crisis”, “We Miss You”, “No Trouble”, “Too Many Questions” e “For Them no Premises”.
Mas a melhor parte de todo o concerto foi ver que um pai levou uma criança para as filas da frente e, aos ombros deste, o pequeno, de braços no ar, sentia com vivacidade um concerto que não deixou ninguém indiferente. O Entremuralhas é isto – o amor underground que os pais transmitem aos filhos para que a sua cultura musical se enriqueça com os melhores espetáculos – e, todo aquele sentimento grandioso que cada concerto deixa aos expectadores.
Na despedida, o baixista dos Frustration ainda desceu para o “fosso” dos fotógrafos para fechar um concerto que correu bem, tendo em conta todos os contratempos decorrentes. O concerto finalizou às 01h26.


Frustration


Die Krupps




Os Die Krupps são uma banda histórica. Nunca tinham passado por Portugal, até então, mas já traziam ao Palco Corpo 36 anos de carreira e um concerto que prometia fechar a noite com muito industrial e um quê de electropunk. Na bagagem a banda trazia o mais recente disco V – Metal Machine Music (2015), bem como alguns dos seus singles já considerados clássicos.
O concerto teve início às 02h00 com um soundcheck a antecipar (devido a atrasos de logística) e “Die Verdammten” a servir como um prelude ao concerto. A maquinaria que os Die Krupps tinham em palco era visível ao longe e a sua forte presença como banda também conseguia atingir distâncias longínquas. O líder Jürgen Engler entrou uns segundos mais tarde já com o concerto iniciado.
É certo e sabido que o início de carreira dos Die Krupps, que tinha umas mãozinhas dadas com o krautrock, pouco ou nada tem a ver com a fase atual em que a banda vê misturada a sua personalidade industrial com os riffs poderosos do metal. E já se sabe que industrial-metal é um género que deixa notórias algumas alergias. Por isso a escolha desta banda para fechar o Palco Corpo foi muitíssimo acertada já que aqueles que não estavam tão entusiasmados com os Die Krupps poderiam sentar-se na grande encosta do lado esquerdo do palco, ou nas escadas cá mais atrás, para descansar as pernas enquanto assistiam ao que uma banda experiente trazia na sua estreia em Portugal.
Apesar de persistir essencialmente no mais recente disco V – Metal Machine Music, a performance dos Die Krupps revisitou ainda os álbuns Too Much History (“The Dawning of The Doom”, “Der Amboss”, cover do original dos Visage), I, II: The Final Option e The Machinists of Joy.
Como grande feito, os Die Krupps surpreenderam certamente o público do Entremuralhas quando o vocalista Jürgen Engler apresenta a finalidade da mesa de metais em singles como “Metal Machine Music” e “Machineries of Joy”. O concerto que fechou com “Bloodsuckers” teve ainda direito a um breve encore com “Isolation”. Estava encerrado assim o segundo dia do Entremuralhas.


Die Krupps - Público



Neste segundo dia de festival atuaram seis bandas, com um total de 24 músicos a subir em três palcos distintos – Palco Igreja da Pena, Palco Alma e Palco Corpo. Duas bandas (Sex Gang Children e Die Krupps) deram um concerto com encore, num total de quatro músicas extra.

Dia 2 @ ENTREMURALHAS 2016


Texto: Sónia Felizardo
Fotografia: Virgílio Santos

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