All Your Happy Life // Heavenly Recordings // setembro 2016
7.8/10
Reino Unido tem sido o palco do aparecimento de algumas das melhores bandas do mundo. Nomes que dispensam introduções como Pink Floyd, Led Zeppelin ou Black Sabbath apareceram nesta ilha. Nestes últimos anos, apesar de não surgirem nomes tão mediáticos, se escavarmos um pouco pela cena underground, encontramos nomes cujo talento não tem esmorecido, podendo referenciar nomes como Fat White Family, The Amazing Snakehead, Conan, mas nada soa a The Wytches.
O ano de 2014 viu o lançamento do seu álbum de estreia, Annabell Dream Reader, com o seu tratamento pouco ortodoxo de surf rock, misturado com o grunge dos Nirvana na época do Bleach e com doom metal. Conseguiram invadir o coração de muitos fãs com o seu estilo sincero e de coração esfaqueado.
Dois anos passaram e o ano de 2016 está a mostrar-se um ano de enormes mudanças. Para além das bruxinhas de Peterborough contarem com um novo membro, Mark Breed, guitarrista e teclista, de terem lançado um pseudo EP com demos e músicas gravadas em casa, apropriadamente intitulado Home Recordings, o mês de setembro viu a sua discografia crescer mais um pouco com o lançamento do seu segundo álbum.
All Your Happy Life começa com um intro manhosa que dura 25 segundos e que mostra logo que o som da banda com a adição do teclista se encontra muito mais elaborado e complexo. Após esta entrada temos “C-Side”, single do álbum que é não só uma das melhores musicas deste álbum como do reportório dos ingleses. Uma boa música para abanar o esqueleto e o crânio repleta de fuzz, construída com a típica formula loud-quiet-loud dos anos 90 e com os riffs de surf rock encomendados diretamente do inferno. A adesão dos teclados é bem vinda.
“Can’t Face It” apresenta o nosso Kristian Bell a vociferar a letra da música com o tom de adolescente desesperado que este também sabe utilizar, contudo não passa disto, um dos elementos mais esquecíveis do álbum. As guitarras elétricas e os pedais de distorção acalmam um pouco em “A Feeling We Get” e dão lugar a uma guitarra acústica que vai marcando o ritmo da balada, que tem tanta beleza como espirito melancólico.
“Throned”, que sinto que estava melhor intitulada se partilhasse o nome com o álbum, é um dos momentos em que a voz de Kristian volta a estar em destaque e provavelmente um dos seus melhores momentos no álbum. Uma das melhores músicas do álbum apresenta-se na forma de “Ghost House”, novamente com um belo riff inicial influenciado pelos surf rockers dos anos 60, com a voz rouca a estar mais uma vez no sítio certo e o teclado a recriar o ambiente de Halloween retro. Música perfeita para passar na festa do dia das Bruxas e impressionarem os vossos amigos alternativos.
“Bone-Weary” é mais uma adesão mediana ao conjunto de excelentes músicas que fazem parte deste álbum e me levam a pensar que este ficaria melhor se cortassem algumas canções ou se aproveitassem algumas das utilizadas em Home Recordings. Contudo, “Crest of Death”, cantado em staccato, faz esquecer o problema da música anterior e continua a antologia de boas malhas que este álbum apresenta.
Com um ambiente soturno que faz lembrar aqueles episódios vintage de especias Halloween da Disney, “A Dead Night Again”, merece destaque por ser uma das melhores instalações do álbum. Um refrão orelhudo e guitarras cobertas de fuzz, os The Wytches a fazerem o que melhor sabem. “Dumb-Fill” faz jus ao seu título, contudo não merece ser desprezada. O seu divertido ritmo de carnaval de aberrações traz um ar mais leve a um álbum que trata temas melancólicos e deprimentes, um belo contraste.
A conclusão do álbum, “Home”, não nos mostra a melhor música do conjunto mas é sem dúvida uma bela balada, com um arranjo gracioso e instrumental diferente das restantes faixas. Os acordes de piano dançam nos nossos ouvidos e a voz vai ficando cada vez mais melosa até terminar e nos deixar a contemplar o tecto e a nossa vida.
Apesar do abandono do registo mais direto e grunge que caraterizou o primeiro álbum, os The Wytches continuam a apostar no som lo-fi e na alternância entre a descida ao abismo e uma escalada otimista. Apesar de existirem algumas músicas que rapidamente caem no esquecimento, as melhores como “C-Side” ou “Ghost House”, compensam em termos de qualidade, criando um álbum de extremos opostos, o que por vezes torna a viagem sonora um pouco inconsistente. Todavia, este não deixa de ser uma forte adesão à sua discografia.
Texto: Hugo Geada