Reportagem: Preoccupations + Névoa [Musicbox – Lisboa]

Reportagem: Preoccupations + Névoa [Musicbox – Lisboa]

| Dezembro 9, 2016 8:23 pm

Reportagem: Preoccupations + Névoa [Musicbox – Lisboa]

| Dezembro 9, 2016 8:23 pm



Preoccupations



No passado dia 1 de dezembro deu-se início aos últimos concertos de celebração do aniversário do Musicbox, que este ano iniciaram com os canadianos Preoccupations (ex-Viet Cong). Com início marcado para as 21h30, os Preoccupations subiram a palco, cheios de energia, e prontos para fazer uma estreia memorável em Lisboa. Os que estavam na sala a horas, começaram a ouvir o instrumental inicial de “Anxiety” enquanto Matt Flegel agradecia a presença de todos.
Para aqueles que já os tinham visto no NOS Primavera Sound, 2015 (enquanto Viet Cong) esta primeira música não viria a ser nada surpreendente: o som estava muito mau e não se ouvia os teclados eletrónicos. Adivinhava-se ali um concerto que viria a ser miserável em comparação à performance em território nortenho. Foi uma má adivinhação, afinal, os Preoccupations tinham os antigos singles na manga e o som apresentava-se muito melhor do que o do rescaldo incial. “Silhouettes” veio animar aqueles que tinham ficado reticentes de início e mostrar que os antigos Viet Cong ainda estão na pele dos quatro músicos. Mais vivos que nunca. Ainda a revisitar o disco Viet Cong(2015), os Preoccupations tocaram “March Of Progress” e o enorme “Continental Shelf” que fez jus às expectativas para o concerto. Do EP Cassette, ainda deu tempo para ouvir “Select Your Drone”.




Por esta altura já o baterista Mike Wallace estava sem t-shirt. Além da excelente performance que manteve com o volver do concerto (de dar destaque ainda às trocas frequentes entre a bateria e a bateria eletrónica), Wallace tinha a peculariedade de tocar com as baquetas ao contrário, garantindo uma presença tamanha ao nível da percussão. Já as trocas de voz entre Matt e Scott Munroe não funcionaram tão bem.
Numa pequena pausa entre músicas, ouve-se alguém dizer “toca a ‘Stimulation’”, mas Matt Flegel não pareceu muito entusiasmado. Outro alguém grita “Memory” e no Musicbox ouve-se “Memory”, o mais recente single deste novo disco. Entre uns tragos na cerveja aqui e ali, um dos grandes momentos do concerto deu-se quando o baterista Mike Wallace perguntou a duas pessoas do público, que usavam uns chapéus idiotas, se ele podia fumar uns bafinhos daquele porrinho. E o real charro foi passado e circulou por entre três dos quatro elementos da banda. (Ao que tudo indica o vocalista Matt Flegel é muito saudável.) Já com “Degraded”, “Monotony” e “Zodiac” apresentadas é hora dos Preoccupations tocarem a “Stimulation” e estimular o público para um fim que já se vê muitíssimo próximo. O vocalista apresenta a banda e agradece ao público pela estreia em Lisboa, naquele que era o último concerto da tour europeia da banda. A revisitar Viet Cong, os Preoccupations encerraram o concerto com “Death”. Um bom regresso.

Névoa





Os Névoa foram a grande surpresa da noite e, apesar da sua veia musical ser completamente alheia ao post-punk dos Preoccupations, souberam dar um grande espetáculo e provar que a sua ida até à Holanda é justificada na qualidade como banda ao vivo. 

Em formato quarteto, com Ivo Madeira (baixo) e Miguel Béco de Almeida (guitarra e voz secundária) a juntarem-se a João Freire (bateria) e Nuno Craveiro (guitarra e voz principal), os Névoa tocaram já com cerca de 30 minutos de atraso e para uma sala bem mais vazia, afinal o black-metal é um género para um público muito de nicho. No entanto, aqueles que ficaram para os ver pela primeira vez saíram dali certamente contentes. Os Névoa ao vivo divergem um pouco dos em estúdio: fazem-se acompanhar de elementos orgânicos (como troncos de madeira enrolados com cordas) e trazem menos guturais (ou pelo menos no Musicbox apresentaram uma faceta com uma maior exploração instrumental ao invés da voz). E isso foi o ponto fulcral para um concerto bem conseguido e caregado de música psicologicamente densa. A pouca interação entre os músicos e o público serviu para garantir um concerto que conseguiu transparecer de início ao fim a ideia de continuidade, como que se, a setlist fosse composta apenas por uma música.
Ainda nos pontos positivos destaque novamente para os troncos finos de madeira que acompanharam os Névoa na sua performance pelo Musicbox. Nuno Craveiro adquiriu o papel de baterista secudário e, em coordenação com João Freire, conseguiram trazer um concerto pesado mas criativo e explorador de novos conceitos em torno do black metal.
A apresentar o novo disco Re Un, editado pela Avantgarde, os Névoa mostraram que merecem as boas críticas que têm vindo a receber.

Preoccupations + Névoa @ Musicbox Lisboa



Texto: Sónia Felizardo
Fotografia: Daniela Oliveira
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