smartini em entrevista:”Sentimos que a maré está a nosso favor”
smartini em entrevista:”Sentimos que a maré está a nosso favor”
Dezembro 11, 2016 8:34 pm
| smartini em entrevista:”Sentimos que a maré está a nosso favor”
Dezembro 11, 2016 8:34 pm
|
No passado mês de novembro estivemos à conversa com Lourenço Mendes e João Paulo Duarte dos smartini. Desde 2009 que o quarteto oriundo das Caldas das Taipas não dava notícias mas em 2015 voltaram a sentir os palcos, regresso esse que os levou a gravar um novo EP, Liquid Peace, sucessor de Sugar Train (2007), trabalho que marcou o panorama alternativo português.
Threshold Magazine (TM) – O que é podemos esperar do vosso EP Liquid Peace?
Lourenço Mendes (LM) – Esperamos que haja uma grande aceitação por quem nos vai ouvir, se calhar um bocado ao contrário daquilo que aconteceu no passado. Na altura do Sugar Train sentimos que foi bem aceite por um núcleo muito restrito de pessoas que gostaram muito do trabalho. No entanto foi um trabalho que não conseguiu chegar a um grande número de pessoas. Passados uns anos começámos a ver as coisas assim mais de longe e uma possível justificação para isto foi o facto das tendências da altura não estarem tão viradas para a sonoridade que nós criávamos.
Em relação a Liquid Peace, não vamos dizer que mantivemos o som exatamente igual ao primeiro álbum. Há aqui possivelmente uma pequena mudança, mas o rumo seguiu-se na mesma. Neste momento sentimos que a maré está a nosso favor e nota-se que o nosso trabalho está a ter uma maior aceitação que no passado. Esta é talvez a grande diferença entre o trabalho anterior e este. A diferença não estará tanto em nós mas no momento em que se passa. Em 2007 só tínhamos MySpace e era muito complicado. Agora as coisas mudaram e por isso estamos à espera de uma maior resposta por parte do público.
Enquanto tentamos manter sempre o mesmo rumo, houve bandas que acabaram por se desviar, com pena minha, porque esses eram projetos que nós achávamos muito bons no passado. Prometiam muito e enquadravam-se perfeitamente naquilo que tínhamos como banda. Uma espécie de referência, e de repente, sentimos que mudaram, foram atrás da onda.
João Paulo Duarte (JPD) – Hoje em dia chega-se mais diretamente ao público, antigamente não acontecia isso. Mais rapidamente uma banda se consegue mostrar, chegam-nos mais coisas. Sinceramente não sei se isso é bom ou mau
TM – Têm alguma temática associada a este trabalho?
LM – Temos aqui um EP com 4 temas mas não seguimos um fio condutor e acho que isso se nota claramente na sonoridade. São temas bastante diferentes mas com pontos em comum. Não podemos classificar este trabalho como focado num tema.
LM – Temos aqui um EP com 4 temas mas não seguimos um fio condutor e acho que isso se nota claramente na sonoridade. São temas bastante diferentes mas com pontos em comum. Não podemos classificar este trabalho como focado num tema.
TM – O que é que vos inspira a compor?
JPD – Não nos baseamos em nada, objetivamente. Diria mais que é o momento que estamos a passar, não na vida mas na sala de ensaio, ou uma ideia que nos surja. Tentamos explorar isso ao máximo. Por isso mesmo é que os temas são completamente díspares.
LM – Temos muito o hábito de ir para a sala de ensaios e fazer umas gravações. Ficamos ali meia hora, uma hora, o que for, e depois essas gravações são guardadas na gaveta. Por vezes, pegamos nesses temas passados 1 mês ou 2 meses, talvez até muito mais, e ouvimos aquilo. Se nos disser alguma coisa tentamos agarrar aquele tema porque sentimos que dever ser aproveitado.
JPD – Como não temos um fio condutor, não temos muita preocupação em mostrar logo muito trabalho. Ao mesmo tempo, temos no nosso arquivo muita coisa que foi feita e poderá aparecer de um momento para o outro. Os temas aparecem, não temos pressa de os pôr cá fora, é tudo natural.
LM – Aquilo que se vê muitas vezes são as bandas a enclausurarem-se para gravar um álbum. Perdem ali um mês. Nós vamo-nos reunindo e as coisas vão nascendo. Por vezes, não conseguimos datar as músicas, não sabemos quais foram compostas primeiro. As coisas nascem assim e de repente, quando não estamos a dar por ela, já temos aqui mais um tema.
TM – Vocês dizem que andam sempre na procura da perfeição?
LM – É verdade! Embora nós sintamos que não somos tão perfeccionistas quanto isso, ao nível das gravações. Gostamos que a gravação seja muito natural. A gravação do Liquid Peace por exemplo foi feita em muito pouco tempo, em live act.
JPD – Os processo de gravação de um álbum para outro os processo de gravação são diferentes. O primeiro foi gravado mais individualmente, mais trabalhado, um álbum bem produzido. Focámo-nos mais nas pessoas e no feedback que recebíamos. Nesta gravação experimentámos outra forma, o live act, numa sala, todos juntos. No fundo, achámos que é mais a nossa cara, representa bem o que somos ao vivo.
TM – Neste anos que estiveram inativos, foram se reunindo?
LM – Nunca estivemos inativos. Estivemos sempre ativos, sempre a tocar. Dá-nos a ideia de que há muito pouco é que isto começou a voltar, a tal maré a nosso favor e aproveitámos. Tivemos sempre a tocar, mas há 3 ou 4 anos atrás não havia assim tantas oportunidades, ou estaríamos mais distraídos. Foi assim de repente que começaram a aparecer os concertos.
JPD – Começamos a sentir uma necessidade. Eu já estava a sentir a falta de palco, de tocar. Uns amigos nossos fizeram-nos uma “partida”, vamos lhe chamar isso. Já tinham saudades de nos ver atuar ao vivo. Foi no início de 2015 que nos lançaram o desafio de tocarmos numa festa de tributo a Lou Reed. E isso fez-nos pegar outra vez nos remos e começar a remar mais a sério. A partir daí as músicas novas já lá estavam, servindo apenas de pretexto para começarmos outra vez a gravar. E aí marcámos imediatamente as gravações lá nos estúdios Sá da Bandeira.
TM – Com que bandas é que vocês mais se identificam?
LM – Somos quatros elementos e todos nós temos gostos musicais muito diferentes. Mas as bandas com que nos identificamos andam muito na onda do indie rock, dos anos 90, do alternativo. A crítica acaba por nos comparar de certa forma a algumas dessas bandas.
TM – Eu ouvi algumas semelhanças a Sonic Youth, a nível de guitarra.
JPD – É uma coisa que nos acontece sempre e isso não nos desagrada. Somos confessos fãs de Sonic Youth. É a banda que reúne mais consenso dentro do grupo. Muitas das vezes que estamos a compor não há tanto aquele chamamento dos Sonic Youth, é mais através de bandas paralelas que nos referenciamos mais.
TM – É mais aquele experimentalismo…
LM – Sim sim, tem a ver com o afinamento. Por acaso toco com uma afinação de guitarra que os Sonic Youth não usam, mas acaba por soar parecido devido ao som desafinado. Não nos importamos com essas comparações.
JPD – É muito melhor sermos comparados a Sonic Youth do que a uma coisa que nós não gostássemos.
LM – Ficamos muitas vezes surpreendidos quando nos associam a outras bandas que nós conhecemos mas nem ouvimos. Na altura do Sugar Train comparam-nos muito a Yo La Tengo e na altura nem ouvia muito essa banda.
JPD – Lá está, outra comparação que não me desagradou nada.
TM – Onde é que vos podemos encontrar nos próximos meses?
JPD – O EP sai a 18 de novembro e nós vamos tocar no dia seguinte nas Caldas das Taipas. Vamos fazer a apresentação na terra. É uma coisa que sentimos necessidade porque estamos a sentir um forte apoio de amigos. Tem muito a ver com essa história da partida que nos fizeram de nos voltarmos a reunir mais a sério. No dia 16 de dezembro, no Sabotage Club, com os Twin Transistors. Para além disso, temos uns showcases com a revista Rua, em Braga, com a Porta 253.
TM – O que têm ouvido ultimamente nas últimas semanas?
JPD – O relato do Benfica (risos).
LM – Da minha parte descobri uma banda com fortes influências de Sonic Youth e que gostei muito. Fiquei satisfeito por ver que tem muito poucas visualizações, ou seja, não é uma banda muito conhecida, chama-se Helium.
JPD – Viet Cong, que agora são os Preoccupations, e Deerhunter. Nestes dias comecei a ouvir outra vez uma banda com quem tocámos no Porto, no Maus hábitos há muitos anos, que são os Magic Market. Uma banda que na altura era da editora do Thurston Moore, Ecstatic Peace. Nessa noite tocámos também com os Lobster, do Ricardo Martins e o Guilherme Canhão.
LM – Há outra banda que eu gostava de referenciar. Fiquei a conhecer por terem tocado conosco no Mucho Flow, em Guimarães. Fiquei surpreendido porque não conhecia e são os Girl Band.
JPD – A nível de concerto foi uma das bandas que mais me impressionou nos últimos anos. São muito bons. Deixaram-me colado.
TM – Vocês foram ao Much Flow tocar no ano passado?
JM – Sim fomos. Foi um concerto muito fixe, já não tocávamos há muito tempo. No ano passado demos três concertos, foi o reacender da chama. Tocámos também em Braga no Sé La Vie e no Barco Rock Fest com os Keep Razors Sharp.
TM – É tudo, obrigado pela interessante conversa!