Môno! em entrevista: “Ribamar é um trabalho mais polido e pensado que o anterior”.
Môno! em entrevista: “Ribamar é um trabalho mais polido e pensado que o anterior”.
Maio 10, 2017 2:53 pm
| Môno! em entrevista: “Ribamar é um trabalho mais polido e pensado que o anterior”.
Maio 10, 2017 2:53 pm
| Os Môno! são um quinteto de jovens que vem dos arredores de Lisboa. Com Pedro na guitarra e voz, Tomás no baixo, Bernardo também na guitarra, Duarte na bateria e Miguel nos teclados, editaram em 2015 o seu primeiro disco homónimo influenciado pelo movimento psych e agora apresentam-nos o seu sucessor.
Ribamar, gravado no verão de 2016, foi editado no passado dia 17 de março, pela French Sisters Experince. Ao todo, são seis canções cantadas em português onde a pop, o rock, o stoner, o psicadélico e o experimentalismo andam de mãos dadas.
A banda vai abrir a noite d’O melhor 13 de maio do país, evento organizado pela Threshold Magazine, com o lançamento de Ribamar.
Threshold Magazine (TM) – Como é que os Môno! começaram?
Bernardo – Eu tocava com Duarte e com outros dois rapazes, numa escola. Tínhamos uma banda de covers.
Bernardo – Eu tocava com Duarte e com outros dois rapazes, numa escola. Tínhamos uma banda de covers.
Duarte – Eu tocava com o Tomás no conservatório, ele tocava contrabaixo. Era eu a tocar bateria, o Bernardo a tocar guitarra e os outros dois rapazes tocavam teclados (Alexandre) e cantavam (Caramujo).
Bernardo – Na altura precisávamos de um baixista e o Duarte conhecia o Tomás. Entretanto fui para o conservatório, conhecemo-nos todos e demos um toque para ele vir tocar conosco. Ficamos assim uma altura sem vocalista porque o Caramujo deixou de tocar conosco, mas não houve problema porque só faziamos covers e tocávamos uma ou outra coisa nossa. Depois o Pedro é que mandou a dica de um concurso de bandas no Técnico.
Pedro – Era uma cena de mecânica. O Duarte é meu primo, então eu disse-lhe para lá ir com a banda dele. Como estavam sem vocalista, ele disse-me que só iam se eu fosse o vocalista, ao que eu disse logo que não (risos). Fui a uns ensaios ver como a cena corria e decidi que podia ser. Dois ensaios depois fomos tocar ao vivo e correu muito mal, mas foi fixe e curtimos (risos). Passado uns meses acabámos por ir para Ribamar gravar o primeiro EP.
Bernardo – Passámos um bocado sem tocar até que decidimos juntar as cenas como deve ser e gravar.
Pedro – Já tínhamos umas quatro músicas originais, que acabaram por ser o primeiro EP. Eu já tinha a “São Roque” feita há muitos meses. Acabou por acontecer assim e tentámos divulgar aquilo na altura. Ainda demos uns concertos.
TM – De onde surgiu o vosso nome?
Bernardo – Foi num ensaio em Ribamar. Tínhamos tocado com o Tomás uma vez e ele veio logo para Ribamar conosco 3 dias.
Tomás – O pessoal estava a dormir por isso estávamos todos às escuras. Eu estava a tentar ir para um lado, tropecei em alguma coisa e disse: “Ando aqui feito môno, a bater em tudo”. E pronto, começámos a rir e achámos piada à expressão. Acabou por ficar assim.
TM – E o ponto de exclamação? Aquele que vocês não conseguem ter no Facebook por que não deixa.
Bernardo – Foi uma cena mais estética.
Pedro – Mesmo o acento circunflexo, aquilo não faz sentido. A palavra nem existe.
Tomás – Nem sei bem como se lê aquilo.
Duarte – Já nos chamam Mono em todo o lado. Se não tívessemos acento circunflexo então acho que eramos mesmo processados.
Pedro – A questão do processados só pensámos depois.
Duarte – Nós queríamos mesmo distinguir Mono de Môno!, que ficasse mesmo patente.
Bernardo – E mesmo assim há pessoas que ainda não acertam nisso.
TM – Sentem que alguma coisa mudou do primeiro para o segundo disco?
Bernardo – Sim, bastantes coisas. O primeiro foi completamente ao calhas. O processo de produção foi mesmo lo-fi, do género “mete aqui o microfone e toca”.
Tomás – Mais lo-fi que aquilo não dava.
Duarte – Até tentámos usar o metrónomo só que não o conseguíamos ouvir na gravação.
Bernardo – Era aquela vontade de “bora lançar qualquer coisa, vamos gravar isto rápido”.
Pedro – Eram as músicas que tínhamos na altura. Não tínhamos material decente para gravar, não tínhamos muito tempo para pensar naquilo que queríamos gravar. Foram 2 ou 3 dias de gravação e foi um bocado a despachar, queríamos só pôr alguma coisa cá fora. Queríamos mostrar às pessoas que já tínhamos alguma coisa feita.
Bernardo – Fomos fazendo alterações e íamos tendo ideias. Mas este segundo já foi mais ao longo do tempo, um bocado mais pensado, já houve alguma ligação entre as músicas e uma linha criativa mais definida.
Pedro – Dificilmente conseguiríamos atingir o ideal.
Bernardo – A ideia era ter sido como o outro, termos ido para Ribamar, gravar tudo lá e conseguir acabar. Mas não o conseguimos.
Tomás – Por causa das faixas de piano tivemos de gravar coisas à parte.
Pedro – Foi um processo completamente moroso.
Duarte – Gravávamos três horas por semana, de 15 em 15 dias.
Tomás – Foi mais difícil de meter cá fora do que o outro. Também porque tínhamos outro nível de exigência.
Pedro – Por exemplo, a “Ribamar” não estava originalmente nos planos do EP mas acabámos por incluí-la.
Bernardo – O Duarte tinha-nos mostrado, mas nunca a tínhamos tocado juntos antes de estrar gravada. Fizemos a música ao mesmo tempo que a gravamos. O Duarte tinha a base feita no piano, tocou aquilo para nós e gostamos tanto que a quisemos juntar ao EP.
TM – Vocês tiveram a ajuda do Gonçalo Formiga na parte das masterização.
Pedro – Isso foi quase na parte final da gravação. Foi uma sorte termos tido a ajuda do Formiga porque eu falei com ele no Bonenkai, a festa da Spring Toast. Falei com o Chinaskee primeiro, disse-lhe que estávamos a acabar o processo de gravação, a começar a procurar alguém que nos conseguisse masterizar as músicas e ele aconselhou-nos o Formiga, que aceitou o nosso pedido. Ajudou-nos muito naquela recta final porque estávamos um bocado à nora.
Bernardo – Tínhamos algumas dúvidas existenciais em relação ao EP.
Pedro – Ele e o Chinaskee deram-nos uma grande ajuda a finalizar aquilo. Não nos obrigaram a mudar nada, apenas nos aconselharam.
Bernardo – Neste trabalho nós quisemos utilizar muitas back vocals. Tivemos muito trabalho, horas só a gravar back vocals em vários takes. Queríamos que ficasse mais polido e bonito que o outro, que é uma cena muito suja.
TM – O que vos influenciou musicalmente neste Ribamar?
Pedro – Podemos dizer que as cenas mais óbvias são Capitão Fausto, Tame Impala, Pond, mesmo King Gizzard & Lizard Wizard nas linhas de guitarra da “Ribamar”. Cuca Monga também, com Modernos e Bispo. Austrália e Portugal, no fundo.
Duarte – Drake de certa forma (risos). Ali um bridge em que há um teclado conscientemente inspirado na “Hotline Bling”.
TM – Tenho de ver se consigo apanhar isso na música (risos).
Duarte – Também ouvi muito Beach Boys. Isso nota-se mais nos back vocals.
TM – Que expetativas têm em relação a Ribamar?
Tomás – Superar o primeiro.
Pedro – Em primeiro lugar, que atingisse mais pessoas que atingiu o primeiro, que ficou só para amigos e família. A única pessoa de fora que nos conheceu por causa do primeiro foi o Chinaskee (responsável pela French Sister Records) e foi por nosso iniciativa.
Bernardo – A ideia era mostrar que nós conseguimos fazer melhor. É tentar que mais gente conheça, ver que até temos qualidade.
Bernardo – A ideia era mostrar que nós conseguimos fazer melhor. É tentar que mais gente conheça, ver que até temos qualidade.
Duarte – E também para nós próprios ficarmos mais contentes com o resultado final. Quando acabámos o primeiro o resultado não foi muito animador.
Bernardo – Este já está audível, o pessoal pode ouvir e não chorar.
TM – Nota-se bem a evolução que vocês queriam. Qual é a música que vocês gostam mais em Ribamar?
Pedro – “Ribamar”.
Bernardo – “Ribamar” ou a “Caveira”.
Duarte – “Vinho para Lembrar”.
Tomás – “Ribamar”.
Miguel – Eu vou mesmo contra o sistema. “Maratona” (risos).
TM – Eu estou entre a “Espacial” e “Ribamar”, mas acho que ganha a última.
Pedro – A “Espacial” foi a primeira música que fizemos todos juntos, de raíz, e a primeira deste álbum.
Bernardo – Nós já a tínhamos tocado numa pequena sequência de concertos que fizemos no ano passado.
Duarte – Nem era para ser o single, em primeiro lugar.
Pedro – Era a que nós conhecíamos melhor e estávamos mais confortáveis.
Tomás – Essa música quase que entrava no primeiro, mas só surgiu passado uns meses.
TM – A capa do vosso EP é do Katsushika Hokusai. Como é que vocês chegaram até lá?
Pedro – Eu há uns anos que sou interessado naquele tipo de arte japonesa, ukiyo-e, e sempre me dei ao trabalho de pesquisar sobre aquilo e guardar algumas imagens. Estávamos a chegar à reta final das gravações e comecei a falar com o Duarte sobre a capa.
Bernardo – O Chinaskee até já tinha insistido muitas vezes se já tinhamos alguma ideia para a capa e para o título.
Pedro – O Duarte já tinha a ideia para o título e acho que foi mais ou menos consensual. Então comecei a procurar imagens que fizessem sentido com o título e com o conteúdo. Por acaso já tinha aquela imagem no PC. Encontrámos aquilo e achamos que seria uma boa capa. Até andamos a pesquisar imagens nos livros de história de arte da mãe do Duarte. Arte persa, hindu, mas não encontramos nada. Ficamos todos satisfeitos.
Tomás – Faz sentido porque é a zona onde o mar acaba e a terra começa, onde se os dois elementos se fundem. Faz lembrar Ribamar e aquela casa onde gravamos. Temos mesmo vista direta lá para o mar.
TM – Cantam em português por alguma razão em especial?
Bernardo – Quando tocávamos inicialmente com os outros dois rapazes e tínhamos 12 ou 13 anos, decidimos cantar em inglês. Mas depois aconteceu Ornatos Violeta e entretanto pensámos que cantar em português não era má ideia. É muito mais fixe e faz mais sentido.
Pedro – Também surgiu o boom da cena em português, B Fachada, Linda Martini.
Bernardo – Fomos percebendo que em português dava para fazer uma cena muito mais porreira e pessoal.
Pedro – Eu falo por mim. Tenho mais facilidade em escrever as letras em português do que em inglês. Inglês parece muito mais forçado, ando à procura das palavras só para rimar. Em português sai mais facilmente.
TM – Podemos esperar alguma surpresa para o dia 13 de maio?
Bernardo – Sim, vai haver back vocals. Nunca houve por isso não nos estraguem a surpresa, temos de guardar os trunfos (risos). Vai haver a estreia do nosso novo teclista, o que é uma boa surpresa. Vai haver o regresso da fiesta de la fruta. Quem nos viu ao vivo no ano passado sabe do que estamos a falar, é um bom momento.
Pedro – Já foi anunciado, mas o Chinaskee vai tocar conosco também. Mas é surpresa na mesma para todos porque ainda não sabemos como é que aquilo vai funcionar. Vai ser engraçado.
Bernardo – Grandes surpresa não há, mas já levantámos um bocadinho véu.
Pedro – Vai haver músicas antigas a aparecer, uma pelo menos, mas não vamos dizer qual é.
TM – Há assim algum sítio onde vocês gostassem de tocar este ano?
Bernardo – Musicbox e Paredes de Coura, possivelmente.
Pedro – Este ano era Musicbox ou ZDB.
Tomás – A ZDB era fixe porque tem lá um piano já montado.
Bernardo – Sim, nós neste disco temos partes mesmo gravadas em piano. Também faz parte da sonoridade mais polida, achámos que o piano ficava bem.
Pedro – São salas icónicas no plano lisboeta, gostamos do ambiente.
TM – O que andam a ouvir ultimamente?
Pedro – O EP de Jasmim. Fui lá ver o concerto e agora ando a ouvir aquilo todos os dias. Está incrível!
Bernardo – Ando a ouvir muito hip-hop, português e assim. Ouvi bue o álbum novo do Kendrick Lamar e umas cenas trap, tipo Migos.
Tomás – As cenas novas do Mac Demarco.
Duarte – Kendrick e Jacob Collier.
Miguel – Algum jazz que tenho andado com imenso trabalho da faculdade.