Aqueles discos que ainda não ouviram em 2017
Aqueles discos que ainda não ouviram em 2017
Aqueles discos que ainda não ouviram em 2017
Para além da técnica inegável de cada membro do grupo, destaca-se a lírica extremamente tocante e íntima de Lenker, que traz à baila experiências vivenciadas durante a sua infância em temas belíssimos como “Coma” e “Watering”. O principal destaque do disco vai para “Mythological Beauty”, cuja narrativa demonstra a virtuosa capacidade de Lenker como contadora de histórias, tão delicadas e honestas, acompanhadas sempre por instrumentais agradáveis e que fluem em perfeita união com a sua voz, e que fazem deste disco uma das audições obrigatórias deste primeiro semestre
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Bing & Ruth é o projeto liderado por David Moore, pianista e compositor americano, que teve o seu início em 2006 quando o artista terminou os estudos na The New School for Jazz, Nova Iorque, e decidiu começar a compor música minimalista com uma certa sensibilidade, que priorizasse a textura e a elegância sobre o estilo.
Em fevereiro editou No Home of the Mind pela mítica 4AD, sucedendo City Lake (2010) e Tomorrow Was The Golden Age (2014), tendo atuado na ZDB e no gnration no passado mês de maio.
Bing & Ruth é calmo, introspetivo, emocional, onírico, íntimo. Tudo isto define o que David Moore e o seu ensemble têm vindo a criar nos últimos anos. A Moore interessa-lhe apenas que ao ouvirem a sua música as pessoas percam a noção do tempo e do espaço, como se fosse algo de transcendente. Musicalmente falando, Bing & Ruth percorre os caminhos mais minimais e clássicos, relembrando-nos nomes como Max Ritcher, Terry Riley e Brian Eno nos seus trabalhos a solo.
No Home of the Mind foi escrito em dezassete pianos diferentes na América do Norte e Europa, e gravado em 2016 em apenas dois dias, numa igreja em Hudson, NY, no menor número possível de sessões, permitindo assim capturar o imediatismo e espontaneidade da sua música. Deste trabalho de composição fizeram parte 5 músicos: o próprio David Moore no piano, Jeremy Viner no clarinete, Jeff Ratner no baixo, Greg Chudzick no sopro e Mike Effenberger no processamento de fita.
Jay Som é o projeto a solo da norte-americana Melina Duterte. O seu segundo álbum, Everybody Works, é um dos melhores de indie rock / dream pop dos últimos anos. A composição das músicas é muito boa, não faltam boas melodias e bom uso de guitarras e teclados. Os instrumentos têm os efeitos e sonoridade típicos do género e vão aparecendo e desaparecendo em diferentes partes das músicas, o que acrescenta alguma dinâmica. Tudo soa muito agradável e bonito.
Músicas como “Baybee”, “1 Billion Dogs” e “For Light” podem ser apontadas como três das melhores do disco, mas este é muito consistente e não deixa de agradar ao longo de toda a sua duração. Há momentos mais calmos, como em “Lipstick Stains”, que inicia o álbum com música ambiente, e outros mais intensos, há variedade, mas uma clara coerência entre tudo.
Numa fase em que muito do que é feito dentro deste género soa igual ao que já existia antes, em que muitos artistas parecem preguiçosos na composição e reciclam ideias de uma música para as outras, Everybody Works consegue destacar-se. Jay Som é sem dúvida um projeto ao qual devemos estar atentos nos próximos tempos.
O projeto do duo americano Ripley Johnson (guitarra e voz) e Sanae Yamada (sintetizadores), Moon Duo, aceitou um interessante desafio em 2017. Lançar um álbum conceptual, duplo, onde cada parte seria lançada em partes diferentes do ano e que representaria as diferentes estações e emoções humanas, uma espécie de Yin e Yang. A primeira parte, lançada no inverno, representa as partes mais obscuras da música do grupo e uma interpretação da psique humana nos seus momentos mais negros. A segunda parte, lançada na primavera, investe uma maior preocupação na psicadélia e representa o sol, a luz e o espirito do céu.
A primeira parte deste projeto apresenta elementos musicais que não são novidade para quem já conhecia a banda, como os ritmos kraut, as guitarradas carregadas de fuzz ou os mágicos synths, contudo as mais recentes composições permitem que este álbum respire com uma originalidade renovada, com sintetizadores a terem uma presença mais visceral ou a bateria, serviço entregue a John Jeffrey, com ritmos que criam a tensão necessária para o ambiente intimidante desta peça.
Este ambicioso projeto, que não teve a devida atenção pelos média, vai ser apresentado pelo conjunto no Festival Vodafone Paredes de Coura naquilo que promete ser uma interessante peregrinação para todos aqueles que se dirigirem para o palco Vodafone.fm.
A estética cold-wave e post-punk de Must Exist (2014) é ainda refletida em alguns dos traços deste Miman, embora Nicole Sabouné se tenha focado em encontrar outros caminhos musicais que até então não tinha explorado, num universo prodigioso, quase sagrado.
título Miman foi inspirado no poema “Aniara” de Harry Martinsons (1956), sendo um álbum que explora a ganância dentro da natureza humana e como isso está a conduzir o mundo para autodestruição. Apesar de ser
uma observação pessoal, Miman segue uma estrutura clara onde cada single vem dar uma continuidade ao anterior, criando um som compacto e unido apesar de não haver uma interdependência entre músicas para o resultado final.
A voz de Nicole Sabouné é facilmente assimilável e o poder que lhe está intrínseco faz Miman adquirir um certo dramatismo e, consequentemente, transmitir uma mensagem ao ouvinte. A título de exemplo oiçam-se músicas como “Bleeding Faster”, “Lifetime” e “Withdraw” que certamente serão do agrado de todos os que procuram por algo contemporâneo na música de toada pós-gótica. Um disco que não deve ser deixado na sombra dos lançamentos mediatizados.