Grandfather’s House em entrevista: “Fizemos questão de fazer as coisas de forma diferente”

Grandfather’s House em entrevista: “Fizemos questão de fazer as coisas de forma diferente”

| Outubro 17, 2017 7:48 pm

Grandfather’s House em entrevista: “Fizemos questão de fazer as coisas de forma diferente”

| Outubro 17, 2017 7:48 pm
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© Tiago Da Cunha
Os Grandfather’s House vêm de Braga e com eles trazem já o famoso selo de qualidade desta cidade cultural. Surgiram em 2012 e contam com Tiago Sampaio na guitarra, Rita Sampaio nos sintetizadores e vocais e João Costeira na bateria. Editaram o seu primeiro EP Skeleton em 2014 e, em 2016, trouxeram-nos o seu primeiro longa-duração, Slow Move.

Agora chegou a vez de Diving, disco editado no passado dia 15 de setembro, que conta com as participações de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), Nuno Gonçalves e Mário Afonso. Leiam a conversa completa em baixo.



Threshold Magazine (TM) – Qual é a origem do vosso nome?

Tiago – O projeto foi criado na casa do avô. E vem um bocado da influência dos blues e daquilo que eu queria fazer na altura, do típico bluesman que tocava no alprendre de casa. Normalmente, a imagem que temos disso eram sempre pessoas mais idosas. Era aquilo que me influenciava na altura, ver vídeos por exemplo de R.L.Burnside, William Johnson, a tocar no alpendre de casa. Aquilo fascinava-me muito na altura e queria fazer uma coisa assim. Juntei o melhor dos dois mundos e decidi que se ia chamar Grandfather’s House.



TM – Editaram no passado dia 15 de setembro o novo álbum intitulado Diving. Que expetativas é que têm em relação a este lançamento?

Tiago – A crítica para já tem sido boa, tanto do pessoal que é mais chegado como mesmo dos media. A opinião geral tem sido ótima. Uma diferença que notámos bastante e que ainda ontem estávamos a comentar foi que antigamente as pessoas diziam “Epá, gosto muito da vossa cena”. E de repente as pessoas agora dizem: “Eia, o vosso álbum está brutal”. O que é óptimo para nós, porque nunca nos tinham dito algo tão direcionado ao álbum, falavam sempre no geral, da performance ao vivo, das músicas. Ficamos muito contentes com isso.

TM – Sentem alguma diferença entre este álbum e os anteriores?

Rita – Foi composto na sala de ensaios e depois foi gravado e apresentado no gnration, na BLACKBOX. Foi um processo completamente diferente em termos de métodos de composição. Entrou mais um elemento, não fomos só nós os três do costume. Tivemos o Nuno Gonçalves nas teclas connosco, a compor todo o álbum. Claro que isso faz logo diferença e é mais uma pessoa a influenciar. 
Para além disso, fizemos questão de fazer as coisas de forma diferente no sentido em que trabalhamos todas as ideias que foram surgindo, sempre na sala de ensaios, todos juntos. E depois fazíamos um exercício engraçado que foi levarmos todos um álbum e ouvirmos música a música, todos juntos, para termos ideias. Nesse sentido foi bastante diferente. Acho que ajudou com que o álbum se tornasse uma peça mais coesa.

Tiago – Foi algo que nos ajudou e direcionou. Nós fazíamos metade do ensaio a ouvir os álbuns, a dissecar e a dar opiniões sobre partes e riffs que soavam bem. Isso tudo ajudou. Demos muita liberdade ao Nuno, para ele poder dar um cunho um bocado diferente daquele que nós já vínhamos a fazer. O Nuno teve um papel muito importante neste disco.

TM – Numa das músicas contam com a colaboração do Adolfo Luxúria Canibal. Como é que foi trabalhar com esse “dinossauro”?

Rita – Foi ótimo, super intuitivo. Nós mostramos-lhe o tema por email e ele disse que gostou muito. Depois mandamos a letra e ele chegou ao ensaio sem ideia do que ia fazer. É muito engraçada a noção de tempo que ele tem nas músicas. Um músico pensa em compassos mas ele olha para as músicas e sabe quando tem de entrar pelo tempo mesmo, pelos segundos certo. Notou-se bem a experiência que ele tem porque fez um trabalho incrível e foi super calmo. Percebeu aquilo que nós queríamos.

Tiago – Neste disco, ao trabalharmos com mais músicos de fora como o Nuno, o Adolfo e o Mário no saxofone, notámos que toda as suas metodologias de trabalho nos ajudaram a perceber e a abrir horizontes, que se calhar não tínhamos porque estávamos habituados a trabalhar os três.



TM – Não têm receio que as pessoas pensem que essa música com o Adolfo é Mão Morta?

Rita – Não porque encaro o tema como algo que fomos nós que pensámos, que faz parte do álbum. É normal que se associe logo a Mão Morta, é inevitável quando tens uma voz tão característica.

João – Podia ser o Manuel Cruz, digo eu. São vozes muito características e inconfundíveis.



TM – O que vos influenciou em Diving? Vocês falaram que ouviram vários álbuns. Algum livro, filme ou mesmo a vida?

Tiago – A vida no sentido mais implícito e inconsciente, vai estar sempre lá. Os discos que nos influenciaram bastante e marcaram todo o processo foram o Dummy do Portishead, o Moon Safari dos AIR e o In Rainbows dos Radiohead. Mesmo na composição, nós íamos debatendo partes das músicas que ouvíamos e por vezes tentávamos tocar um ou outro riff que gostássemos mais. Às vezes era influência do bom e do mau, podíamos ou não fazer. Não sei quantas vezes ouvimos os álbuns. Acabávamos de ouvir e dizíamos “vamos tocar”.



TM – Falando da capa de Diving, há algum conceito por detrás?

Rita – Sim (risos). Faz sentido tendo em conta o conceito do álbum em si. A temática do álbum anda muito à volta das lembranças, memórias, que de certa forma estão adormecidas no inconsciente da personagem que fala nas letras. Fala do explorar dessas emoções e sensações que se calhar uma pessoa às vezes tenta evitar, que não trazem boas recordações. O facto de existir nudez na capa do álbum, assim como no próprio videoclip do primeiro single, “You Got Nothing to Lose”, tem a ver com isso, com a forma como a personagem está exposta. Despe-se de preconceitos.

Tiago – Ela está a mergulhar num mar negro, um local onde não está confortável. É um lugar misterioso.


TM – Há alguma música que gostem mais no álbum? Eu sei que esta é difícil, porque eu tentei escolher uma e não consegui, há várias.

Rita – Sim (risos). Temos algumas. A “Sorrow”.



Tiago – Eu gosto muito da “Sorrow”, também.

Rita – Gostamos bastante dos singles que lançámos pois foram as primeiras escolhas. Mas depois também temos músicas como a “Drunken Tears” e a “Nick’s Fault”.



Tiago – A música do Adolfo vai ser aquela música que se calhar daqui a 10 anos vamos olhar para trás e dizer: “adoro esta música”. São todos temas que nós compusemos e tentámos que fossem coesos, ao ponto de gostarmos mesmo de os ter no disco. É sempre complicado escolher.





TM – Falando de concertos, vocês o ano passado fizeram uma tour europeia. Têm alguma história caricata para contar?

Rita – Temos bastantes.
João – Fomos apanhados pela polícia na auto-estrada, à paisana.
Rita – Passei o meu aniversário na tour. Fomos para uma festa punk em Berlim. 

Tiago – Nessa da polícia, nós tínhamos dormido cerca de quatro horas. Tínhamos ido pela noite adentro para a festa com o promotor do concerto. Estivemos lá a curtir e de repente lembrámo-nos que tínhamos de ir embora porque tínhamos de ir para a Bélgica e ainda estavamos na Alemanha. Metemo-nos dentro do carro, andámos, andámos, chegámos e a noite também correu bem. Depois tínhamos de ir para a Áustria e ainda eram umas 15 horas de viagem. Não dormimos, metemo-nos dentro da carrinha e fomos andando. Eu tomei 4 cafés e 2 red bulls. Começámos a andar até que de repente, eu já estava naquele modo de zombie a conduzir e a tremer por todo o lado, a polícia alemã manda-nos parar. E nós: “o que é que se passa?”. Eles começaram a encher-nos de perguntas, a vasculhar tudo, a ver se tínhamos algo ilegal. Ainda perdemos cerca de 1 hora e meia. Chegámos muito atrasados a Viena. Saímos à 1 da manhã da Bélgica e chegámos às 7 ou 8 da noite à Áustria. 
Depois fizemos uma das viagens mais lindas das nossas vidas, os Alpes Austríacos. Viam-se estâncias de ski secas, vilas com se calhar 20 a 30 casinhas, de todas as cores. Durante a viagem passámos bué calor, neve, morremos de frio. Apanhamos com muitas mudanças climáticas. Foi mesmo incrível.

TM – Partiram aqui de Portugal?

Rita – Sim, e depois terminámos a tour em Portugal. Demorámos 2 semanas. Foi mesmo chegar aqui e comer logo comida portuguesa.

Tiago – Foi em Bragança o primeiro concerto. Chegámos lá e de repente estavam a dizer o menu do dia: Feijoada à transmontano. E nós logo: “pode ser isso!” (risos). Foi a comida que nos matou. Na tour toda chegámos a comer puré com queijo, com tostas. O melhor que comemos foi pizza em Itália.

Rita – Foi muito fixe e é para repetir (risos).

Tiago – Vamos agora também em dezembro. Acho que começamos dia 30 de novembro uma tour por Espanha. São 10 datas no total, 8 em Espanha e 2 no sul de França. Vai ser uma coisa mais pequenina e depois para o ano vamos outra vez. Vamos mais dias, vamos quase o mês inteiro.

TM – O que têm ouvido nas últimas semanas?

Rita – Descobri um artista que estou a gostar muito, Perfume Genius e o álbum No Shape, estou viciada. Nick Cave, mais ou menos uma constante. Sharon Van Etten também. 

Tiago – Eu descobri uma banda há pouco, para aí há 2 meses, e o último álbum que eles lançaram. São os C2C e o álbum é o Tetr4. Eu oiço aquilo todos os dias. São uma mistura de dance music com blues, com muitos samples à mistura. 
João – James Blake e Benjamin Clementine.
Tiago – E BadBadNotGood também.





Entrevista por: Rui Gameiro
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