Fugly em entrevista: “O garage é um bocado esse espírito, é tentares fazer por ti próprio”
Fugly em entrevista: “O garage é um bocado esse espírito, é tentares fazer por ti próprio”
Janeiro 12, 2018 9:14 pm
| Fugly em entrevista: “O garage é um bocado esse espírito, é tentares fazer por ti próprio”
Janeiro 12, 2018 9:14 pm
|
Depois de terem andado 2 anos na estrada com o EP Morning After na bagagem, os nortenhos Fugly preparam-se finalmente para editar o seu disco de estreia, Millennial Shit, no dia 19 de janeiro via O Cão da Garagem, nas plataformas digitais e em CD. Em baixo podem ler a nossa conversa com Pedro Feio (guitarra e voz) e Rafael Silver (baixo), que aconteceu num final de tarde chuvosa no Teatro São Jorge.
Threshold Magazine (TM): De certeza que vocês já ouviram esta pergunta mais vezes, mas qual é a origem do vosso nome? Tem algo a ver com o teu apelido (Pedro Feio), não é?
Pedro Feio (Pedro) – Sim sim, o nome veio de eu me chamar Pedro Feio, traduzimos para Ugly e depois eu creio que foi o Gil que atirou para o ar “Ah, Fugly!”. Na altura não gostei nada da ideia mas depois ficou. Um gajo feio como a merda, “fucking ugly”.
TM – Como é que os vossos amigos d’O Cão da Garagem vos ajudaram a arrancar com este projecto?
Pedro – Eles tinham começado a editora mesmo há pouco tempo, tinham lançado só uma cassete dos 800 Gondomar e uma dos Sunflowers, e disseram “Epá, estamos a pensar fazer uma editora, uma cena nossa, lançar projectos e o caraças”. Como nós também estávamos na Pointlist, fazia sentido por causa da proximidade. Dissemos então “Siga, vamos para isso”. Na altura nem sequer tínhamos ideia de como é que íamos fazer uma edição física do EP nem nada. Pensámos em pôr na net, aí no Spotify. Ou mesmo no YouTube já era fixe. Mas eles disseram “Não pá, nós conhecemos aí uma fábrica que faz cassetes, querem fazer umas cassetes?”. Nós concordámos com a ideia e correu mesmo bem, foi fixe. Houve bué malta que ficou muito curiosa com a cena da cassete, porque não é um formato normal.
TM – Sim a cassete “explodiu” nos últimos anos.
Pedro – Sim, e foi uma surpresa. Agora para este novo álbum também estamos com eles e estamos confiantes. Gostamos muito do trabalho do Carlos e da Carolina (Sunflowers).
TM – Nós já ouvimos o vosso álbum e nota-se claramente uma evolução do EP para aqui. Houve algumas diferenças no processo de gravação e composição dos dois registos?
Pedro – Houve. Na captação houve muitas diferenças, tentámos explorar um bocadinho mais outras formas de gravar os instrumentos, com captações diferentes de microfones. Até as guitarras do Nuno ficaram com dois amplificadores, gravámos com dois amplificadores e depois fizemos a mistura de acordo com isso. Alias o Rafael é que fez a mistura (risos). E mesmo na parte composicional, deixámos de ter músicas mais baseadas em riffs como tínhamos no EP e começámos a introduzir mais a voz, até mais formato de canção. Tentámos ser um bocadinho mais curto e grosso em algumas músicas, principalmente no início do disco.
Rafael – Sim, a segunda metade do disco já é um bocadinho voltar às raízes.
Pedro – Exacto, a puxar um bocado para trás.
TM – Porquê dar o nome Millennial Shit ao álbum? Qual é o conceito?
Pedro – Epá, somos todos uma merda (risos). Tem os dois lados. É dizer que somos uma geração que está um bocado na merda e que somos uma merda de geração. E depois também dizer que nós é que somos a cena, nós é que somos a “shit”.
Rafael – We are the millenial shit (risos).
Pedro – No fundo é porque o disco todo fala desse tema, intrinsecamente. Dos problemas da nossa geração, dos problemas juvenis da revista Bravo. Será que o Brad Pitt gosta de mim? (risos).
TM – Na “Take You Home Tonight” vocês falam de saudades por uma pessoa. Quem é ela?
Pedro – Epá saudades… não é especificamente saudades.
TM – “I don’t miss you, I miss you again”.
Pedro – No fundo acho que toda a gente da nossa geração já passou por essa fase da negação, da não-negação, do não-saber. Depois estou bêbado e não sei o que é que decidi.
Rafael – Dos amores espontâneos.
Pedro – E depois ligar às 5 da manhã a dizer “Olha queres voltar?”, e responder “Não, não dá” (risos). Pronto essas merdas que constantemente acontecem nas nossas saídas, na nossa maluqueira toda. Por isso acho que é dirigido a toda a gente que passa por uma fase destas, basicamente.
Threshold Magazine (TM): De certeza que vocês já ouviram esta pergunta mais vezes, mas qual é a origem do vosso nome? Tem algo a ver com o teu apelido (Pedro Feio), não é?
Pedro Feio (Pedro) – Sim sim, o nome veio de eu me chamar Pedro Feio, traduzimos para Ugly e depois eu creio que foi o Gil que atirou para o ar “Ah, Fugly!”. Na altura não gostei nada da ideia mas depois ficou. Um gajo feio como a merda, “fucking ugly”.
TM – Como é que os vossos amigos d’O Cão da Garagem vos ajudaram a arrancar com este projecto?
Pedro – Eles tinham começado a editora mesmo há pouco tempo, tinham lançado só uma cassete dos 800 Gondomar e uma dos Sunflowers, e disseram “Epá, estamos a pensar fazer uma editora, uma cena nossa, lançar projectos e o caraças”. Como nós também estávamos na Pointlist, fazia sentido por causa da proximidade. Dissemos então “Siga, vamos para isso”. Na altura nem sequer tínhamos ideia de como é que íamos fazer uma edição física do EP nem nada. Pensámos em pôr na net, aí no Spotify. Ou mesmo no YouTube já era fixe. Mas eles disseram “Não pá, nós conhecemos aí uma fábrica que faz cassetes, querem fazer umas cassetes?”. Nós concordámos com a ideia e correu mesmo bem, foi fixe. Houve bué malta que ficou muito curiosa com a cena da cassete, porque não é um formato normal.
TM – Sim a cassete “explodiu” nos últimos anos.
Pedro – Sim, e foi uma surpresa. Agora para este novo álbum também estamos com eles e estamos confiantes. Gostamos muito do trabalho do Carlos e da Carolina (Sunflowers).
TM – Nós já ouvimos o vosso álbum e nota-se claramente uma evolução do EP para aqui. Houve algumas diferenças no processo de gravação e composição dos dois registos?
Pedro – Houve. Na captação houve muitas diferenças, tentámos explorar um bocadinho mais outras formas de gravar os instrumentos, com captações diferentes de microfones. Até as guitarras do Nuno ficaram com dois amplificadores, gravámos com dois amplificadores e depois fizemos a mistura de acordo com isso. Alias o Rafael é que fez a mistura (risos). E mesmo na parte composicional, deixámos de ter músicas mais baseadas em riffs como tínhamos no EP e começámos a introduzir mais a voz, até mais formato de canção. Tentámos ser um bocadinho mais curto e grosso em algumas músicas, principalmente no início do disco.
Rafael – Sim, a segunda metade do disco já é um bocadinho voltar às raízes.
Pedro – Exacto, a puxar um bocado para trás.
TM – Porquê dar o nome Millennial Shit ao álbum? Qual é o conceito?
Pedro – Epá, somos todos uma merda (risos). Tem os dois lados. É dizer que somos uma geração que está um bocado na merda e que somos uma merda de geração. E depois também dizer que nós é que somos a cena, nós é que somos a “shit”.
Rafael – We are the millenial shit (risos).
Pedro – No fundo é porque o disco todo fala desse tema, intrinsecamente. Dos problemas da nossa geração, dos problemas juvenis da revista Bravo. Será que o Brad Pitt gosta de mim? (risos).
TM – Na “Take You Home Tonight” vocês falam de saudades por uma pessoa. Quem é ela?
Pedro – Epá saudades… não é especificamente saudades.
TM – “I don’t miss you, I miss you again”.
Pedro – No fundo acho que toda a gente da nossa geração já passou por essa fase da negação, da não-negação, do não-saber. Depois estou bêbado e não sei o que é que decidi.
Rafael – Dos amores espontâneos.
Pedro – E depois ligar às 5 da manhã a dizer “Olha queres voltar?”, e responder “Não, não dá” (risos). Pronto essas merdas que constantemente acontecem nas nossas saídas, na nossa maluqueira toda. Por isso acho que é dirigido a toda a gente que passa por uma fase destas, basicamente.
TM – Tenho muitos amigos que já vos viram e dizem que vocês “partem a loiça toda” em palco.
Pedro – Por acaso nós nunca trouxemos loiça para o palco, é uma coisa que temos de começar a fazer (risos). Eu acho que se arranja um Vista Alegre ou alguma coisa assim.
TM – Os Black Lips também levam papel higiénico para o palco, vocês podem podiam levar loiça para partir.
Pedro – Olha loiça era fixe (risos). Epá obrigado, nós tentamos sempre dar tudo no máximo. Às vezes temos dias em que estamos mesmo todos rotos, mas tem mesmo que ser. Temos que tentar extrair a nossa energia ao máximo.
Rafael – Tocar como se fosse o último concerto.
TM – Têm alguma banda que viram ao vivo (ou em video) que vos inspirou para dar concertos assim?
Pedro – Muitas muitas, tantas bandas… Desde os Clash nos anos 70 tinham concertos que eram uma loucura.
Rafael – Os MC5.
Pedro – Sim os MC5 tinham cenas mesmo de loucos. Cenas mais recentes também, tipo Ty Segall, FIDLAR e merdas assim.
TM – Oh Sees talvez.
Pedro – Oh Sees também claro, essa malta toda nesta onda de agora.
TM – Há uma frase que eu digo muito com os meus amigos na brincadeira, que é “O garage está morto”. O que vocês têm a dizer sobre isto?
Pedro – Eu acho que o garage já não é o garage que era o garage no inicio do garage. Percebes? Grande volta que eu dei (risos). Acho que já evoluiu para outro estatuto, já não é bem…
Rafael – …uma moda vá.
Pedro – É uma coisa que ainda vive nas ruas e nas garagens de Portugal e do mundo inteiro (risos).
Rafael – É um nicho.
Pedro – Sim, no fundo é um nicho.
TM – Uma coisa que começou na garagem mas agora já é uma coisa mais profissional.
Pedro – Sim, agora já não é tão na garagem. Apesar de mantermos ainda aquela estética do Do It Yourself. Nós temos que arranjar os nossos microfones, os nossos cabos e as nossas merdas para ligar e gravar. Por isso acho que o garage é um bocado esse espírito, é tentares fazer por ti próprio.
Rafael – O espírito não está morto.
Pedro – Sim, acho que o espírito está lá, é isso.
TM – E como é que acham que as bandas portuguesas se podem expandir no mercado internacional?
Pedro – Pagas a alguém e esperas pelo melhor (risos). Existem muitas plataformas da União Europeia que estão a tentar fazer com que a música portuguesa seja exportada, nomeadamente festivais como o Eurosonic. Hoje em dia também há aquela cena de haver muitos eventos como esse, simplesmente corporativos, profissionais, para tentar extrapolar a música e mandá-la para todos os lados. Temos também uma facilidade enorme de entrar em contacto com pessoas de todo o mundo. Acho que facilmente se consegue fazer uma ponte de ligação com outro país e tentar marcar um concerto.
Rafael – Acho que há uma fase inicial numa banda que é um investimento, é como se estivesses a começar uma empresa. Não podes esperar fazer fortunas, tens que arriscar um bocadinho e se calhar uma vez ou outra ficar a perder.
TM – É que há pessoas que dizem “Ah e tal se tiverem talento depois as coisas vêm naturalmente” mas não é bem assim.
Pedro – Não funciona bem assim, isso é o que era bom (risos).
TM – Num mundo perfeito…
Rafael – Depende do espectro musical que estás a abranger.
Pedro – Era o que seria justo, mas não é bem assim que funciona.
Rafael – É conseguir ter essa paciência e insistir.
Pedro – É ter perseverança acima de tudo e trabalhar muito, é por aí.
TM – Se pudessem escolher um artista qualquer à vossa escolha para participar no vosso álbum quem seria?
Pedro – Qualquer um que esteja morto (risos). É verdade. Um gajo que esteja vivo que eu queira que participasse… não sei. Gostava muito que fosse o John Lennon ou o Jimi Hendrix. O John Bonham, gostava que ele estivesse no nosso projecto. Temos muitas influencias de coisas muito antigas, e infelizmente já não está cá muita dessa malta.
Rafael – Joe Strummer.
Pedro – Mas se fosse um de agora, deixa-me pensar…
Rafael – Epá, eu gostava de trabalhar com os King Gizzard and the Lizard Wizard. Podia ser uma coisa nova, fazer um novo projecto. Mas gostava de trabalhar com essa malta.
Pedro – Epa não sei… Fernando Madureira.
TM – Um dos grandes.
Pedro – Era divertido. Já viste o que era a claque dos Super Dragões a cantar as nossas músicas?
TM – Acho que é uma boa escolha o Fernando Madureira.
Pedro – Ele impõe respeito, tu até tens medo de lhe cumprimentar ou dizer olá porque o gajo até parece que te vai virar ao contrário ou qualquer merda (risos).
TM – E para terminar, quais são os vossos planos para o futuro?
Pedro – Temos concertos variados, um sortido de concertos. Temos Porto e Lisboa. Porto no Maus Hábitos dia 9 de fevereiro e dia 10 de fevereiro no Damas aqui.
Rafael – Será o lançamento oficial do disco.
Pedro – Exactamente. E depois vamos andar por aí. Évora, Braga, Coimbra, Leiria… Depois vamos ter uma tourzita de 3 semanas com os Whales, que são uma banda da Omnichord de Leiria.
Rafael – 3 semanitas a partir de 15 de março?
Pedro – 14 de março a 7 de abril acho eu, são para aí 18 concertos pela Europa fora. Vamos ver o que é que acontece.
TM – Então pronto, é tudo!