
Ultimo Tango em Mafamude // 1980 Lyfers // janeiro 2018
8.0/10
Vila Nova de Gaia, mais conhecida por Gaia, ou pelo outro lado da Ponte Dom Luís I, é a temática de estudo deste novo álbum de David Bruno, mais conhecido por estas andanças por dB, membro integrante do Conjunto Corona. Último Tango em Mafamude, lançado pela 1980, sucede então a 4400 OG de 2016, sendo um álbum mais acutilante que se dedica a contar o amor não correspondido pelo artista à sua cidade Vila Nova de Gaia.
Um álbum com cheiro a “Novycera” ou aquele Alfa Romeu Julietta, tema da primeira canção, daquele tio ou avô de amigo que usa cuidadosamente desde a sua compra nos anos 70 ou 80 quiçá. É mesmo isso que David Bruno pretende, mostrar através também de vídeo o bom ou o que fica dos anos 90. Carros com design que actualmente está “out” em termos de “fashionismo”, anúncios televisivos com cores berrantes, restaurantes ou “snack-bars” icónicos de Gaia, que poderiam ser da cidade de qualquer um dos ouvintes, visto que, graças às suas especificidades conseguem prolongar-se no tempo e estar vivos e rijos, como as pessoas que os frequentam, que lá passam o dia a beber um “jarrinho de tintol”.
O álbum tem 11 faixas e nesta conta já estão incluídas a introdução que se visualiza no vídeo, as pausas, que nos mostram o melhor dos acontecimentos em Gaia, recolhidos por David Bruno, um antropólogo da Internet. Samples incríveis, a explorar as mais diversas sonoridades, do soul e R&B ao psych rock e early hip hop, acompanhados por vezes de uma guitarra vibrante, a fazer lembrar os filmes de antigamente, sim, aqueles que os nossos pais nos contam que viram na matiné do cinema lá da zona.
“Monte da Virgem Platónico”, faixa que faz alusão a uma zona muito conhecida pelos gaienses como o monte onde se fazem encontros amorosos nocturnos junto à RTP, é a faixa que leva os indecisos ficarem a ouvir porque tem um instrumental chill e melódico, com guitarra portuguesa. Destaca-se também “Amor Anónimo”, uma faixa que é como que um poema escrito naquelas páginas do jornal que toda a gente costuma passar à frente, onde dB faz alusão a Marante, inspiração para a capa e para a mística do álbum graças, e a Toy, famoso e prodigioso cantor de baladas de amor. É mesmo esse hook “Romântico como o Marante, apaixonado como o Toy”, que faz a música, a par da forte guitarra eléctrica como nos filmes eróticos do antigamente.
O álbum termina ou deixa o suspense aquando de um grave acidente noticiado pela RTP1 e pela viagem que sucede até ao hospital, onde o artista mostra o seu amor não correspondido pela cidade de Vila Nova de Gaia. Ao chegar ao hospital, dB dialoga com Dr. Porfírio, que tenta trazer uma nova solução e um novo rumo para a vida de dB: viver em Gondomar, mais propriamente em Rio Tinto…
Esperemos novo álbum a mostrar uma nova vida, um outro enredo cheio de nostalgia cintilante por uma década esquecida da memória colectiva dos portugueses, uma sequela do que foi uma vida mal amada em Gaia desta vez em Rio Tinto.