Supernova em entrevista: “Há falta de mobilidade e as pessoas têm de ser espicaçadas a acordarem um pouco”

Supernova em entrevista: “Há falta de mobilidade e as pessoas têm de ser espicaçadas a acordarem um pouco”

| Março 16, 2018 10:15 pm

Supernova em entrevista: “Há falta de mobilidade e as pessoas têm de ser espicaçadas a acordarem um pouco”

| Março 16, 2018 10:15 pm
© Gil Simão

O Supernova é um festival itinerante que parte do Maus Hábitos, no Porto, para o resto do país em parceria com a Super Bock. A terceira edição deste ciclo de festas ainda agora acabou, e já está em marcha a promoção da próxima explosão estrelar. Esta que vai ocorrer entre 7 de abril e 2 de junho por todo o país, a contar com Scúru Fitchadu, Stone Dead e Sunflowers.

A propósito disto estivemos a falar com Daniel Pires, um dos fundadores do Maus Hábitos e uma das mentes por trás do Supernova, na noite da paragem do evento no Ginjal Terrasse. Leiam aqui a nossa conversa.

Threshold Magazine (TM) – O que vos levou a fazer um evento com um conceito tão diferente e itinerante dos outros que andam por aí?

Daniel Pires (Daniel) – Eu não sei se o conceito é efectivamente tão diferente do que se tenta fazer por aí, que é criar uma rede de casas de música ao vivo. Surgiu do convite de um parceiro comercial nosso, a Super Bock, que pretende ter uma noite onde se promova a ascensão e a difusão de bandas portuguesas de música rock e pop. Acompanham-nos no projecto que nós já temos, que é o trabalho contínuo do Maus Hábitos, criando uma marca nova a nível nacional, ou seja, para não ficar só dentro de portas, mas também sair e construir a tal rede.

TM – Quais foram as diferenças entre fazer um festival ortodoxo (só numa sala) e um festival itinerante?

Daniel – O que a gente propõe fazer são micro-festivais. Não com a mesma intensidade, mas tentando criar os códigos da intensidade do que é a criação de um festival e mantê-lo em circulação.

TM – Acham que o público encara melhor este tipo de iniciativas em que a música vai quase de porta em porta? Trazendo uma oferta mais condensada a sítios diferentes.

Daniel – Eu acho que em determinadas regiões do país, quando nós saímos dos grandes centros urbanos e vamos para as capitais das províncias, isso é absolutamente necessário. Há falta de mobilidade e as pessoas têm de ser espicaçadas a acordarem um pouco para o que se está a passar noutros sítios. Nós tentamos que a rede se desvincule dos grandes eixos e que vá a outras cidades, onde falta este tipo de conteúdos. Portanto, projecta mesmo isso, estruturar uma rede de casas de música ao vivo, de forma a que ela possa ser sustentável, que possa viver por ela própria. É importante também que os parceiros tenham confiança entre eles para poderem programar e para poderem acolher os músicos da melhor maneira possível. 

TM – Ao fim ao cabo é dinamizar mais as salas de concertos.

Daniel – É criar uma rede para a mesma. Rede até no sentido literal da coisa, em que se tu caíres tens possibilidade de sobreviver. Porque tens uma estrutura financeira, ganhas mais, tens mais parceiros. Toda essa estrutura é muito importante.

TM – Como é que são escolhidas as bandas? Na primeira edição apostaram numa maior variedade de nomes e agora apostam em 3 bandas, mas em vários sítios?

Daniel – Essa pergunta relativamente à programação devia ser feita ao Luís Salgado. Parte dele essa construção do cartaz com uma banda grande, uma média e uma pequena. Depende dos sítios, depende até dos estilos. Porquê ser monoteísta, e porque não juntar várias tribos de várias religiões nessas mesmas itinerâncias? Assim tocas para mais pessoas, vais ao público mais rock e ao público mais pop. 

TM – Falando de Lisboa, porquê a razão de terem escolhido o Ginjal aqui na Margem Sul? Dado que o movimento está quase todo do outro lado.

Daniel – Não há muito por onde escolher. Fora os grandes eixos, continuamos com o mesmo problema, não há assim tantas casas de música ao vivo. Nós vamos onde elas existem e onde estão a fazer um bom trabalho. E, efectivamente, que também vendam Super Bock, porque isto é um projecto deles. Portanto, qualquer casa que se predisponha a vender Super Bock e queira fazer música ao vivo, poderá no futuro aspirar a ter uma programação. Uma programação muito superior ao que o mercado poderia pagar por ela. Essa também é a realidade, no fundo. Isto faz com que se estejam a alavancar as casas, para terem melhores equipamentos de som, para perceberem como se recebem os artistas de outro nível. Isto tudo é uma aprendizagem. Depois eles podem pensar em fazer uma programação, o que é o conceito.

TM – Vamos voltar a ver este festival nos próximos meses?

Daniel – Nós fazemos ciclos de 3 em 3 meses. Estamos garantidos até ao próximo inverno.

TM – Na próxima edição vão haver novos sítios a ser explorados?

Daniel – Sempre. Uma situação obrigatória é que em cada turné nós encontramos dois ou três sítios novos. Mesmo preferindo algumas casas, a condição é que vamos percorrendo mais território. Para não ficarmos resumidos aos que existem.

TM – É só isto, obrigado!

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