Suave é o mais recente projeto de Nick Suave, anteriormente conhecido como Nick Nicotine e pseudónimo de Carlos Ramos. Ao todo são quase duas décadas dedicadas ao panorama mais alternativo do rock n’ roll nacional, não fosse ele o responsável por um dos mais antigos e carismáticos festivais portugueses, o Barreiro Rocks. Continuando a louvar os feitos do semper Nick, já participou em dezenas de bandas (Nicotine’s Orchestra, The Act-Ups, Los Santeros, Bro-X, The Jack Shits, entre muitas outras), dividindo-se entre a voz, guitarra, baixo e bateria.
Editou a 13 de abril o seu 57º disco da carreira (talvez sejam mais, segundo esta entrevista), iniciando uma nova fase de escrita e interpretação em português. Em Português Suave, o artista apresenta-nos universos sonoros apontado aos corações alicerçados numa música onde se conseguem ouvir claramente as suas maiores influências: Motown e o rock n’ roll mais antigo. Leiam em baixo a nossa conversa com Nick Suave numa tarde lisboeta de primavera.
Threshold Magazine (TM) – Usaste durante muito tempo o nome Nick Nicotine e agora passaste a ser conhecido por Nick Suave. Como surgiu essa ideia da passagem de Suave?
Suave – Foi um conjunto de situações engraçadas em torno desse nome. Deixei de fumar (risos). Daí também brincar com o nome do disco, Português Suave, associado ao tabaco. Em Suave apresento um tipo de música um bocado diferente em relação àquilo que eu fazia, por isso senti que devia mudar de nome, mais uma vez.
TM – Sendo tu uma pessoa associada ao rock n’ roll (Barreiro Rocks e inúmeras bandas Nicotine’s Orchestra, The Act-Ups, Los Santeros, Bro-X, The Jack Shits) como é que se deu esta mudança de estilo de um som mais cru para um som mais romântico e dançável?
Suave – Eu acho que até nem anda muito longe daquilo que a Nicotine’s Orchestra já fez. A Nicotine’s Orchestra tinha essa característica, dado que é o meu projeto a solo, tudo o que não cabia nas outras bandas ia lá parar e tinha a liberdade de explorar outras expressões musicais, outras linguagens. Qualquer uma destas músicas poderia ser uma música da orquestra. Depois tem essa componente do cantar em português e então aí já afasta realmente muito daquele panorama em que estávamos a jogar.
TM – Como é cantar e escrever em português?
Suave – É algo que já tinha feito uma ou outra vez na Nicotine’s Orchestra, como laboratório para experimentar algumas coisas. No entanto, fazer assim um disco inteiro, na altura, foi um desafio que me trouxe uma questão pertinente e ao mesmo tempo ridícula que era porque é que nunca tinha feito isso. Na realidade tinha um pouco a ver com falta de referências portuguesas neste tipo de canção. Ou eu as desconhecia ou então não existiam. Aquela soul, Motown e o rock n’ roll, foi algo que eu cresci a ouvir e sempre me fez sentir daquela forma. Quando começas a tentar tens de ter sempre alguma voz de referência. Depois vais te conhecendo e começando a cantar à tua maneira. Inicialmente precisas sempre de uma referência.
Ao fim destes anos todos já conheço a minha forma de cantar e tentei adaptar isto a um português com o qual eu fique satisfeito, que não me embarace, que me sinta bem a fazê-lo. Já são muitas canções em inglês, permite-te já ter uma desenvoltura na escrita em inglês que ainda não a tens no português, julgas tu. Mas depois quando começas a escrever, apercebes-te que esta é a tua língua mãe e torna-se até bastante simples no sentido em que, de repente, começas a ter ideias em português, algo que nunca pensei que fosse tão fácil de começar a acontecer ou mudar esse processo. Quando começas a melodia, já começas a encaixar palavras em português quando antes ias obrigatoriamente para o inglês.
TM – Como funcionou o processo de composição?
Suave – Anda sempre mais ou menos em torno da mesma fórmula. Vou armazenando compulsivamente todas as ideias, vai tudo para o iPhone e ficam lá a marinar. Normalmente, começo sempre pela parte da melodia, música na cabeça e depois vou à procura das palavras. A única coisa que mudou agora, na realidade, é a língua.
TM – Há alguma temática associada a Português Suave? É sobre alguém que está mal de amores?
Suave – Não é só. Fala do amor muitas vezes dessa forma, mas aí já é defeito de anos e anos a cantar em inglês, provenientes da escola do blues: ok, estás em baixo. Nem todas as canções são sobre esse desespero, como é o caso do “Perdido”. O disco trata as alturas mais negativas da vida de uma forma mais leve e com algum humor. A minha ideia não foi fazer algo muito pesado, pelo contrário, tem também momentos alegres. Inspirei-me nos músicos da Motown, em que as coisas eram faladas a sério, mas de uma forma mais direta, mais engraçada por vezes.
TM – Falando disso, de não ser tão pesado, até se nota pela capa do disco e pelas fotos da press release, repletas de cores vivas e alegres, o fato vermelho e azul.
Suave – Faz parte de uma postura pessoal, do propósito do disco existir e de como é suposto ser transportado para um concerto. É uma altura de comemoração, de ser um entretainer, na conceção antiga da palavra, fazer com que as pessoas passem um bom momento durante uma hora e se divirtam.
TM – Há alguma música favorita no álbum? Para mim foi “Que mais hei de fazer?”
Suave – Ultimamente tenho andado a curtir de tocar a última que é o “Só bem acompanhado”. Gosto muito da maneira como essa letra foi surgindo, acho que ficou engraçada. Tenho de começar a tocá-las ao vivo para perceber como é que elas vão crescer.
TM – Voltando a falar da tua carreira, como é que se consegue chegar ao 57º disco de carreira?
Suave – Afinal são mais, apareceram mais dois que eu não me lembrava (risos).
TM – Basicamente, tu não páras.
Suave – Eu não tenho muito essa noção, vão se acumulando os discos, vou fazendo música, é o que me compete.
TM – Quais as expectativas para Português Suave?
Suave – Durante este ano e o próximo quero me dedicar exclusivamente a nível musical ao Suave. A minha expetativa é conseguir tocar o máximo possível e fazer as tais festas acontecerem um pouco por todo o lado. E que a malta venha aos concertos e se divirta. Trazer um bocado mais de alegria (risos).
TM – Falando em concertos, tens o concerto de apresentação no Musicbox, a 27 de abri. Que outras datas é que nos podes adiantar?
Suave – Vou atuar na FNAC de Sta. Catarina e Casa da Música, Porto, a 9 de maio. Depois a 26 de maio no Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro, e a 28 de julho na Tabacaria do Teatrão, Coimbra.
TM – Há alguma surpresa preparada para dia 27?
Suave – Há. Posso dizer que vamos ter um convidado que eu respeito muito. Não só vai lá cantar como vai cantar uma música que fizemos em conjunto. Vamos aproveitar para apresentá-la.
TM – O que tens ouvido nas últimas semanas?
Suave – Tenho ouvido um single em repeat o disco dos Shannon& The Clams, especialmente o single “The Boy”. A minha mulher anda a ouvir a Linn da Quebrada, portanto tenho andado numa dieta assim um bocado estranha (risos). Ela foi vê-la à ZDB e trouxe o cd. Portanto ando numa de Linn da Quebrada com rock garageiro.
TM – Alguma mensagem final para os leitores desta entrevista?
Suave – A de sempre. Divirtam-se e apareçam no dia 27 ou no outro dia qualquer e venham pagar-me um copo.