Ricardo Remédio em entrevista: “Há sempre algo mais profundo por detrás dos trabalhos que edito”
Ricardo Remédio em entrevista: “Há sempre algo mais profundo por detrás dos trabalhos que edito”
Maio 1, 2018 5:17 pm
| Ricardo Remédio em entrevista: “Há sempre algo mais profundo por detrás dos trabalhos que edito”
Maio 1, 2018 5:17 pm
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Marta Macedo ©
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Ricardo Remédio é um dos artistas convidados para a celebração do quinto aniversário do Sabotage Club, atuando a 4 de maio antes dos britânicos The KVB. O membro fundador de LÖBO, editou o seu trabalho a solo Natureza Morta em 2016 pela Dissociated Records. Dono de uma sonoridade emocionalmente densa, o produtor tanto exibe paisagens mais negras e industriais influenciadas por Ben Frost e Nine Inch Nails, como explorações sonoras mais calmas provocadas pelos devaneios dos sintetizadores.
Há alguma filosofia ou ideologia por trás da música que produzes?
Ricardo Remédio – Penso que há sempre algo mais profundo por detrás dos trabalhos que edito. Tanto o EP de LÖBO como o EP de RA foram influenciados por trabalhos sobre o existencialismo, por exemplo. O Natureza Morta teve um conceito mais abstracto mas mesmo assim lidava com o ciclo da vida e renovação. Tendo dito isto, não é o meu objectivo principal ao fazer música. São elementos e ideias que surgem depois da composição. Dar um contexto ao que fiz.
O que distingue o teu outro projeto a solo, RA, deste em que adotas o nome próprio como artista?
Ricardo Remédio – Não há um corte radical entre os 2 projectos – sendo que RA neste momento não existe mais. A mudança de nome surgiu devido a ser um nome comum – desde uma banda rock americana a post punk escandinavo – e senti que não me ia ajudar no futuro um nome “partilhado” com tantos outros artistas. Como o meu nome próprio é único, fez sentido assumi-lo e passar a editar com ele.
Estudaste algo relacionado com música ou aprendeste a compor sozinho ou com a ajuda de colegas?
Ricardo Remédio – Sempre fui autodidacta e ainda hoje o meu conhecimento teórico musical é muito básico. Acho que a evolução que possa ter tido aconteceu por ouvido e por memória muscular. Perceber que notas funcionam bem entre si.
Como funcionou o teu processo de composição em Natureza Morta e o que te influenciou?
Ricardo Remédio – Acho que, para este álbum, o processo de composição numa fase essencial foi bastante parecido ao de RA. Agarro-me aos teclados e ao Ableton até sair algo que gosto. No que toca a influências acho que a partir de certa altura têm menos a ver com bandas ou artistas em particular e mais com maneiras diferentes de abordar o som que fazes. Com o Natureza Morta a ideia foi abrir um pouco o som. Torná-lo menos opressivo.
Como é que o público reagiu a Natureza Morta?
Ricardo Remédio – As reacções têm sido positivas, tanto a nível do álbum como de concertos.
Como foi trabalhar com o Daniel O’Sullivan e o James Plotkin?
Ricardo Remédio – Foi tudo feito à distância, mas sinto que aprendi bastante, principalmente com o Daniel. Ver a música de maneira diferente, sair um bocadinho dos meus vícios. Acho que sempre que se colabora com alguém aprendemos algo.
Sentes que em Portugal há mercado para a música que produzes?
Ricardo Remédio – Acho que sim. Porém enfrento as mesmas limitações que outros estilos de música mais alternativos enfrentam – mercado pequeno e muito localizado em Lisboa e no Porto. Não há volta a dar a isso.
Já equacionaste fazer uma tour europeia?
Ricardo Remédio – Já claro. Simplesmente nunca se proporcionou mas está nos planos.
Tens alguma novidade para nos contar a nível de músicas novas produzidas ou planos para um futuro álbum?
Ricardo Remédio – Existe já um conjunto de músicas que estão neste momento a ser refinadas e fechadas, que serão, se tudo correr bem, a base de um álbum novo. Ainda é cedo, porém para adiantar mais.
Por acaso sabes quantas vezes é que já tocaste no Sabotage? Nós já te vimos lá atuar uma das vezes com o Ricardo Martins e BØDE.
Ricardo Remédio – Já toquei… pelo menos 3 vezes. 4? Toquei uma vez como teclista ao vivo de uma banda chamada Tree of Signs, toquei com LÖBO e nessa data que mencionaram. Penso que é isso 🙂
Como te sentes ao fazer parte da festa de celebração do 5º aniversário de uma casa de concertos tão icónica de Lisboa?
Ricardo Remédio – É óptimo fazer parte do 5º aniversário do Sabotage. Acho que é uma sala óptima e sem dúvida que veio dinamizar a musica ao vivo em Lisboa. Não há muitos sítios com uma programação tão intensa e onde tantos estilos diferentes de música possam tocar lá.
Qual foi o último concerto que viste e o último disco que ouviste?
Ricardo Remédio – Vi os Bell Witch a tocar no Cartaxo e ouvi o novo dos A Perfect Circle, Eat The elephant.
Entrevista por: Rui Gameiro