Spiralist em entrevista: “não é um projeto de metal e nunca vai ser”

Spiralist em entrevista: “não é um projeto de metal e nunca vai ser”

| Maio 9, 2018 12:13 am

Spiralist em entrevista: “não é um projeto de metal e nunca vai ser”

| Maio 9, 2018 12:13 am



No passado sábado (5 de maio) fomos até ao Jardim Botânico do Porto para nos encontrarmos com Bruno Costa o mentor por trás da identidade artística Spiralist. Como tema de foco da conversa estava Nihilus, o disco que marca a estreia de Spiralist nas edições, pela Microfome e que foi editado na sexta-feira passada. Durante a conversa quisemos ainda saber como é que tudo começou e como é que é decorre o processo de ter um projeto e lançar material cá para fora.


Podem ler a entrevista na íntegra, abaixo.


Bem tu basicamente acabas de lançar o teu disco de estreia. O projecto Spiralist nasceu quando? Quando é que começaste a formar o conceito do projeto?

Spiralist – Eu tinha uma banda antes que para mim era a prioridade. Desde que comecei a meter-me em música mais a sério, desde a minha adolescência, que sempre fui desenvolvendo coisas sozinho, mas a minha prioridade artística na altura era sempre trabalhar com outras pessoas e ter uma banda. Eu tinha aquele sonho estúpido de quatro miúdos a tocar numa cave ou garagem, que depois mandam uma demo para algum sítio e tipo eles aceitam a demo e se calhar metem-te num contrato com uma editora pequena, e depois isso evolui para uma editora maior e depois tu lanças um disco ou dois… Tipo aquela biografia típica da Wikipedia que todas as bandas têm. E eu pensava que ia fazer isso trabalhando com uma banda, mas depois o projeto que eu tinha antes foi abaixo e trabalhar sozinho tornou-se não apenas numa vontade, mas numa necessidade.

Também por causa da conjugação das agendas entre as pessoas? 

Spiralist – Há mil e um motivos para as bandas acabarem. É uma história demasiado longa, mas não resultou a questão da banda. Aquilo não foi para a frente, com muita pena minha. Comecei então a trabalhar sozinho e a idealizar Spiralist em 2016, que foi quando comecei a fazer o álbum. Comecei em agosto a gravar o álbum. Tinha tido nomes antes a solo, tive pelo menos um par deles.

Ah então já tinhas feito outras cenas tuas sobre outro nome? 

Spiralist – Sim, mas nunca tinham sido coisas muito sérias. 

Chegaste a lançar alguma coisa? 

Spiralist – Fiz uma demo muito, muito má com um projeto a solo quando tinha para aí 18 ou 19 anos que eu nunca mais quero ouvir e depois tive um projeto chamado Kymera que levei ligeiramente mais a sério, mas era uma coisa um bocadinho mais baseada em drone, ambient, noise, muitos loops e dei para aí uma mão cheia de concertos com isso, na zona do Porto. Dei os concertos, na altura, com os JUSEPH e com os Animal Version, que é uma banda belga, mas depois comecei a sentir-me cada vez mais aborrecido com esse projeto. Eu adoro a sonoridade do drone, a sonoridade experimental e a música ambient mas, para tocar ao vivo quando és apenas uma pessoa, com equipamento extremamente minimal, torna-se mesmo muito difícil fazeres isso. Acertar nos loops certos, criar uma coisa que não me seja aborrecida mas… as peças acabam por ter sempre 10 minutos, é mesmo difícil e à medida que o tempo foi passando eu senti que não tinha as habilidades necessárias para fazer isso resultar. Então quando a minha banda anterior morreu e os meus projetos anteriores morreram todos ao mesmo tempo eu fechei-me em casa durante duas semanas e gravei o álbum. Não planeei demasiado antes de começar a gravar, passei para aí três ou quatro semanas a delinear alguns conceitos, pensar em vocabulário específico para inspirar a imagética do álbum, trabalhei num par de riffs assim no máximo e comecei a gravar de forma mais espontânea possível. Não foi apenas uma vontade, mas uma experiência necessária. Para uma pessoa que passa os dias todos a pensar em música, arte e desenvolver conceitos e trabalhos e tudo mais, quando todos os teus projetos morrem e tu não tens absolutamente mais nada para fazer, é mesmo péssimo, parece que o teu propósito de vida ficou ali cortado e não tem mais por onde andar. Basicamente, Spiralist é a minha maneira de recomeçar do zero e criar uma coisa que seja só minha e com a minha visão e com os limites que são óbvios e que vão sempre surgir.




Estavas a dizer que és uma pessoa que está sempre a produzir ou que tem essa vontade de produzir música e artes, e em press-release afirmas que este disco “é o resultado de experiências do artista com depressão, isolamento e raiva que enfrenta desde nascença”. Eu estive a ouvir o disco e sinto que há músicas mais bruscas e de purga e outras mais contemplativas ao jeito do doom metal. Como é que a tua música, neste álbum, retrata esses sentimentos e como é que tu te sentes relativamente a isso? 

Spiralist – Eu sei que é uma coisa que provavelmente afeta as pessoas de forma diferente, eu posso apenas falar pela minha perspetiva. Quando tu passas por um momento em que estás mesmo em depressão e estás com problemas psicológicos que te estão a afetar a ti e à maneira de tu seres e de te dares com o mundo à tua volta… tu não produzes nada. Eu acho que existe às vezes alguma glamorização na maneira como nós olhamos para pessoas que passam por isso, nós pensamos que “ei, o Kurt Cobain tinha problemas que bom que isso foi por ajudá-lo com a arte”, percebes?

Eu sinto isso de que algumas pessoas olham para a depressão como uma forma artística, mas desculpa, continua a desenvolver a ideia. 

Spiralist – Pode servir de inspiração. Tu podes usar depressão, raiva, ansiedade, tristeza, melancolia e podes falar sobre isso de uma maneira artística e podes criar arte sobre isso, mas eu acho que quando tu estás verdadeiramente envolvido nisso num ponto de vista sentimental, psicológico e mental, quando tu estás mesmo afetado por uma depressão, tu não crias. Essa questão às vezes é demasiado glamorizada. A maneira como isso acaba por aparecer no Nihilus, a parte sobre depressão é um bocadinho mais mencionada nas letras porque as letras são muito metafóricas. O tema do álbum basicamente é sobre uma pessoa que acaba por ser corrompida lentamente do ponto de vista psicológico, físico e eventualmente até moral. Eu sinto, francamente, que quando uma pessoa passa por uma experiência difícil, como a depressão, existem certos valor que mudam também e a maneira como tu vês o mundo nunca mais se torna verdadeiramente a mesma, então a temática do álbum, a nível de letras, é sobre isso. A nível de música, quis ser mais abrangente porque eu tenho gostos musicais que não vão apenas a um espetro. Há montes de tipos de música que eu gosto fora disso, desde música progressiva, até alguma eletrónica (sou muito seletivo neste género), bastante jazz, música clássica… O Nihilus é basicamente um álbum de música maioritariamente metal extremo e um bocadinho experimental e progressivo, mas maioritariamente metal extremo. Eu acho que era um tipo de música que se adequava à história que eu queria transmitir mas, em trabalhos futuros, se eu quiser falar de coisas diferentes, trabalhar conceitos e temáticas diferentes, contar histórias diferentes, pode não ser necessariamente esse o tipo de música que eu vou querer voltar a trabalhar.

Então é possível que possamos ouvir uma nova sonoridade em Spiralist? 

Spiralist – Absolutamente. Spiralist não é um projeto que eu criei do género, este vai ser o meu projeto de metal. Spiralist é o meu nome artístico não é um projeto de metal e nunca vai ser. Eu já estou a trabalhar neste momento em mais algumas coisas para Spiralist que eu não quero revelar demasiado o que vai ser mas, embora haja influências de metal nessas coisas, não quero que as pessoas esperem algo igual ao Nihilus, porque vão ficar muito desiludidas.



Eu estou um bocado fora do panorama do black-metal mas, sentes que é complicado fazer black-metal hoje em dia, fora de um país nórdico? Qual é a tua visão sobre este género?

Spiralist – Há toda uma série de projetos de black-metal de hoje em dia que vão a todos os espectros da história, mesmo. Tens black-metal muito bom que é muito cru e muito frio e tem uma produção mesmo má, mas de propósito, para a parte estética e depois tens black-metal muito bem produzido e trabalhado em estúdio que também é muito bom. Eu acho que black-metal é uma daquelas coisas que… se tu fazes o black-metal certo para as pessoas certas elas veneram-te, se tu és kvlt o suficiente elas veneram-te… Se tu decides usar roupa normal e dar à tua banda o nome de Deafheaven odeiam-te, eu não compreendo mesmo isso. Colocar esse tipo de limitações no que é que é black-metal certo, o que é que metal o que é rock, o que é que é música… é ridículo. Tu podes dizer isto não é música, no sentido de fazer uma piada sobre aquilo ser mau, eu faço isso a toda a hora, mas é uma piada. Uma pessoa pegar numas caixas e começar a bater para lá e fazer ritmos é música na mesma, os STOMP fazem isso, não deixa de ser música, mas o black-metal é uma coisa que infelizmente tem muita gente que purismo isso é que é música a sério. Eu acho que sermos musicalmente abertos é bom, mas eu sinto que existe ainda muito snobismo musical em muitos sítios, em todo o tipo de círculos, mesmo. Para mim desde que tu estejas a ir lá pela música e vás lá com o propósito de apreciar a música, tu pertences ao sítio. Não interessa o que é que tu usas, não interessa quais são os teus patches e nada disso.

Tu lançaste o Nihilus ontem (4 de maio), é assim mesmo super recente. Estás a ter boas críticas a este trabalho? 

Spiralist – Não tenho muitas mas as que tenho são boas. Houve uma já para aí em fevereiro da Heaven Is Not Too Far (HINTF) que deu ao álbum 8.8, recentemente a World Of Metal deu 9.0 e, neste momento, acho que é isso. Eu acho maior o marco de sucesso quando tu chegas a mais gente mas tens algumas críticas negativas, do que quando chegas a poucas mas são todas positivas. Eu fico radiante quando as críticas são positivas mas tenho medo que as pessoas estejam apenas a ser simpáticas, do género “ya, isto é um trabalho de black-metal nacional e vamos apoiar isto, porque isto é uma coisa nossa”, que obviamente me deixa super feliz, mas eu quero mesmo que isto chegue ao maior número de pessoas possíveis, não estou para fazer de conta que não tenho essa ambição, claro que tenho! 


Ainda há pouco referiste que pelos 18 anos já tinhas alguns projetos musicais. Quando e como é que tudo começou esta ideia de quereres ter um projeto e quais as tuas principais influências? 

Spiralist – Eu comecei a praticar música quando tinha cerca de sete anos. Comecei a tocar piano no início e claro que era influenciado pela música que os meus pais ouviam. Hoje em dia a maioria da música que os meus pais ouvem, eu não me revejo nada naquilo, embora haja uma ou outra coisa como Pink Floyd, que o meu pai ouvia, os Doors, mas depois há uma série de coisas que não me dizem absolutamente nada. Eu acho que eu o fiz gostar mais de música que eu gosto do que ele me fez a mim gostar de música que ele gosta. Uma vez dei por ele a ouvir um dos meus discos de Tool e a ouvir black-metal, a ouvir Leviathan, que é uma cena que eu adoro e que me influenciou imenso neste primeiro álbum de Spiralist… Mas sim, eu comecei no piano, andei seis anos a tocar piano, desisti, porque não me revia nada naquilo nem sentia apego nenhum à música e ao instrumento, parei, fui praticar desporto e para aí um ano, ou ano e meio depois de parar de tocar piano, descobri a música rock e senti-me imediatamente arrependido de ter parado com a música. Comecei a descobrir coisas que ainda eram muito mainstream, mas eu senti qualquer coisa nelas. A primeira banda de que eu gostei gostei mesmo a sério – e ainda hoje oiço e digo sem reservas – é My Chemical Romance, eu continuo a adorar o The Black Parede, acho que é um dos melhores álbuns do suposto emo? Depois comecei a interessar-me um bocadinho mais por guitarra, comecei a aperceber-me que o som da guitarra em certas bandas que eu ouvia era bastante interessante… Comecei a aperceber-me que o Matt Bellamy dos Muse era um guitarrista bastante bom… Comecei a ouvir Led Zeppelin e a venerar o Jimmy Page e, eventualmente o Jimi Hendrix e eventualmente o Steve Ray Vaughan e essa malta toda. Meti-me em aulas de guitarra aos 16 anos e a partir daí descobri mais e mais coisas, desde ir às coisas mais antigas dos anos dos anos 60 e inícios dos anos 70 – que ainda hoje gosto bastante – até começar a gostar um bocadinho mais de música progressiva quando tinha 18 anos e começar a descobrir metal de uma forma um bocadinho mais séria até, mais recentemente, começar a abrir-me mais para sons industriais e mais eletrónicos e até mesmo algum jazz e tudo mais. Nos últimos cinco anos eu tenho passado tempo a descobrir coisas para alargar os meus horizontes musicais e sinto que nesta altura estou numa fase em que preciso de utilizar as coisas que aprendi para criar. Spiralist em parte é isso e acho que os trabalhos futuros vão ser a mesma coisa. Portanto, desde os 18 anos a trabalhar a sério, há dois anos a trabalhar sozinho com uma visão mais precisa daquilo que quero fazer.

Mas eu li que tu estudaste qualquer coisa relacionada com música. 

Spiralist – Sim, estudei música clássica, fiz o 12º ano em formação musical e com isso instrumentos e afins. A música clássica ajudou-me em alguns aspetos mais teóricos. A parte prática veio muito de pegar na guitarra elétrica a tocar músicas de outros artistas e a fazer experiências com sons, camadas de sons e depois a produção. A nível de formação tenho também o curso de produção que me ajudou a perceber bem as ferramentas que eu queria utilizar. 

De volta ao Nihilus, qual é a tua música preferida do disco? 

Spiralist – É difícil. O álbum está dividido em duas partes em que as primeiras três músicas são mais agressivas e diretas e as últimas duas são mais expansivas musicalmente. Mas eu normalmente gosto de música que sonicamente é mais expansiva, por isso eu diria as duas últimas músicas do álbum. A “Black Hole Man”, tem quinze minutos e está dividida em quatro partes. Eu gosto muito dessa música porque foi mesmo divertido de gravar. E a última música a “The Deepest Abyss”, que tem o videoclip, também é uma das minhas favoritas porque sinto que sonicamente fiz qualquer coisa ali que não tinha feito antes e sinto que resulta mesmo. Adoro o álbum todo, mas essas duas são aquelas a que eu normalmente mais regresso.



A minha é a “The Fires Of Confession”, faz-me lembrar Opeth ali numa parte

Spiralist – A minha namorada diz que eu copiei os Baroness na segunda parte da música porque tem guitarras harmonizadas. Mas notas influências muito claras no álbum, eu acho que algumas delas são mesmo claras. O álbum foi feito de tal maneira num momento, que eu não estava para criar planos sobre como é que eu ia esconder as minhas influências. Há influências lá que são claras desde black-metal a doom metal, e a guitarras harmonizadas que eu já tinha em projetos anteriores, pode haver uma ou outra coisa que se ouvires Blackbird Prophet – que era a minha banda antiga – se calhar ainda detetas ligeiramente no álbum, mas isso é normal.

Deste recentemente duas listening parties de apresentação do disco, nos passados dias 21 e 22 de abril, no Estúdio Entreparedes. Foi lá que gravaste o disco? 

Spiralist – Não. Eu gravei as vozes lá, porque na altura não tinha condições para gravar as vozes em casa e eu sabia que as ia ter de gravar num estúdio e eu confio imenso no Entreparedes porque eu já lá vou sensivelmente desde 2012 ensaiar. Agora não ensaio mas quando vou gravar qualquer coisa acabo sempre por passar lá. Adoro as pessoas de lá, o Paulo Pinto e a Fernanda Roxo são pessoas espetaculares e sinto que aquilo é quase uma segunda casa. Portanto, as vozes foram gravadas lá, o resto das coisas foram gravadas em casa.

Ok então é mais ou menos esse o processo. Como foi isso das listening parties, correu bem? 

Spiralist – Sim, foi fixe! Ainda tive algumas pessoas a aderirem, ainda se vendeu algum merchandise e algumas t-shirts, foi porreiro. 

E já que estamos a falar no disco, onde é que as pessoas o podem comprar? 

Spiralist – O álbum físico podem comprar na Bunker Store e na Piranha. E podem fazer a encomenda pelo Bandcamp, ou então mandar uma mensagem privada a Spiralist – nas redes sociais – ou à Microfome também. 



Se pudesses escolher um festival assim de sonho para tocares qual seria? 

Spiralist – Meo Sudoeste (estou a brincar). Ainda pensei em dizer Festival da Francesinha de Canelas, mas o facto é que eu já lá toquei e… não. Para tocar em Spiralist, neste momento ainda nem sequer consigo tocar ao vivo. Eu quero mesmo tocar ao vivo, mas vai ter de ser bem planeado. É muito difícil fazer concertos porque eu nunca teria a coragem estúpida de pedir às pessoas para tocarem comigo sem receberem, só por boa fé, e para assegurar isso mandei montes de mensagens a promotoras e recebi a resposta de… um sítio, que agendou comigo uma chamada por Skype para falar sobre a cena, ficou de me dizer coisas e nunca mais me respondeu. 

Como é que é decidiste “ok vou lançar um álbum, agora vou precisar de uma editora, procurar por promoção… “. Ou seja como ocorre todo este processo? 

Spiralist – Isto vai ser uma longa história e não me quero esquecer da parte do festival de sonho. Em parte, eu percebi o que é que podia fazer pelo meu projeto com base nas minhas experiências anteriores. Porque nós em Blackbird Prophet, quando lançamos o Aetherea, que foi o nosso único EP/mini-álbum, nós fomos extremamente ingénuos com a maneira como tínhamos de chegar lá fora. Nós acreditávamos mesmo que falando com algumas pessoas e colocando o álbum à venda fisicamente num sítio e mandando umas mensagens nós chegávamos lá fora. Estávamos tão redondamente enganados. Eu fiquei super desiludido, mas a culpa foi nossa porque não nos informamos o suficiente acerca de como fazer as coisas funcionar, da importância de criar um press-release, estabelecer contactos, criar listas de emails, criar links privados no Soundcloud para as pessoas ouvirem o álbum, nós não sabíamos nada disso e fizemos as coisas de uma maneira que achávamos que estava certa mas estava redondamente enganada e por causa disso o trabalho sofreu imenso e eu jurei que nunca mais cometeria esse erro. Isto ainda está extremamente limitado para Spiralist, mas sinto que pelo menos já tenho uma noção de como é que a parte de PR e de chegar lá fora funciona, minimamente. Sei que eventualmente terei de trabalhar com uma agência de PR maior para um trabalho futuro, sei que trabalhar com editoras tem vantagens e desvantagens e sei mais ou menos como elas são, vou lendo artigos sobre como é que essas coisas funcionam e vou-me mantendo informado acerca dessas coisas. Mas foi muito tentativa erro nos primeiros anos. Spiralist para mim é importante porque me salvou de não ter o que fazer antes e é importante porque todos os meus impulsos criativos agora são colocados nisto e é importante porque é a minha maneira de estabelecer uma espécie de legado e não quero que tenha um impacto residual. Eu quero criar um corpo de trabalho em que eu acredito e goste, para que as pessoas sintam que há uma maneira de sobreviveres à tua morte, mesmo que isso seja muito difícil.

Tu editaste o álbum pela Microfome que é portuguesa. Chegaste a mandar o disco a editoras internacionais? 

Spiralist – Claro que sim! Eu contactei montes de sítios, devo ter recebido cinco respostas, todas não. 

Eu achava que era bem mais fácil! 

Spiralist – Não é assim tão fácil. Quer dizer, se tu tiveres essa facilidade, ótimo, mas para alguns de nós não é assim tão fácil. Nós mandamos os álbuns a montes de editoras e a grande maioria não responde, diz que não, ou então metem a política de receber demos no website e depois não respondem a nada. Está-me sempre a acontecer. Eu vou-te dar uma cronologia: Eu comecei a trabalhar no álbum em agosto de 2016, acabei os instrumentais mais ou menos nessa altura, criei demos das partes instrumentais até dezembro, escrevi as letras em dezembro, gravei as vozes em janeiro de 2017, no Entreparedes, e acabei tudo em março de 2017. E decidi, vou mandar isto por email a montes de editoras e depois comecei a receber os nãos e acima de tudo as faltas de resposta. E cheguei à conclusão de que decidi fazer sozinho e lançar pela Microfome.




Voltando ao festival de sonho? 

Spiralist – Roadburn! Eu sei que é cliché, mas que se lixe. Eu nunca lá fui, mas só de ver o cartaz e fotografias penso sempre que adorava ir lá, e nunca tenho a oportunidade. Nós cá temos o Amplifest, que é fixe e uma série de festivais interessantes, mas eu gostava efetivamente daqui a uns anos poder tocar lá e poder dizer “fixe, patamar preenchido. A seguir, o que é que vamos fazer maior?”, percebes? Porque eu quero sempre crescer mais e mais. 

Estamos mesmo a terminar. Qual foi o último concerto que viste e o último disco que ouviste? 

Spiralist – Estou definitivamente com falta de concertos. Eu acho que no ano passado vi o Ricardo Remédio no Passos Manuel. Eu já não sei se o meu último concerto terá sido Ricardo Remédio no Passos Manuel ou se terá sido o Herbie Hancock, que deu um concertão de free jazz. Já não me lembro do sítio onde o vi, mas foi no verão do ano passado e lembro-me muito bem do concerto. Estes foram os últimos Quanto ao álbum, a caminho da entrevista vinha a ouvir uma série de músicas dos Nine Inch Nails, mas o último disco que ouvi de início ao fim, até porque estava a fazer review dele para a Music&Riots, foi o The Sciences dos Sleep, que está muito fixe, curti bastante, é porreiro. 

Pronto está feito, obrigada. Alguma coisa mais que queiras acrescentar?

Spiralist – Não, acho que basicamente é isso.



Entrevista por: Sónia Felizardo
Fotografias: David Madeira 


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