Raquel Ralha e Pedro Renato em entrevista: “É um misto de prazer imenso e respeito desmedido dar corpo a estas canções “

Raquel Ralha e Pedro Renato em entrevista: “É um misto de prazer imenso e respeito desmedido dar corpo a estas canções “

| Junho 6, 2018 1:54 am

Raquel Ralha e Pedro Renato em entrevista: “É um misto de prazer imenso e respeito desmedido dar corpo a estas canções “

| Junho 6, 2018 1:54 am

Trabalham juntos desde muito cedo. Não tão cedo ou quase tanto quanto a adolescência. Raquel Ralha e Pedro Renato, sentiram na pele outros projectos: Belle Chase Hotel, Azembla’s Quartet, Ellas e Mancines. E se o tempo conta? 

Conta. 

Em 2017 trazem pela Lux Records uma primeira edição em CD de The Devil’s Choice Vol. 1, um disco de versões e, arriscamos dizer de recriações de canções que terão marcado as suas adolescências. 

É um disco elegante, com uma produção cuidada e onde o universo adolescente veste os trajes da maturidade sem perder a rebeldia, revestindo de elegância estas canções que de antigas, se fazem novas. E soam mesmo a novas e retêm aquele gosto especial de que o “diabo” aprova. Dito isto no sentido questionável do que afinal, o que é o diabo?. Terá isto a ver com o ditado popular do “venha o diabo e escolha?” – Tudo tem a ver com escolhas e não é por isso de estranhar, que sejam estas as canções. Afinal, são mesmo as escolhas de Raquel Ralha e de Pedro Renato. Não é por acaso por isso, que agora vemos vir à luz do dia, um CD, e uma semelhante edição em vinil que se adivinha vir com alguns extras.
Leiam aqui a entrevista completa com o duo.

Tendo em conta o quanto pode ser variado o universo sonoro da adolescência e do que ouviam então, que julgo saber são a inspiração das vossas escolhas, como chegaram ao alinhamento final deste The Devils Choice Vol. 1?

Raquel Ralha e Pedro Renato – Como nos deparámos com um número infindável de possibilidades e tínhamos que tomar decisões para podermos começar a trabalhar nos temas, optámos por fazer a triagem com base numa escolha por temática, que permitisse dar uma coesão ao alinhamento do disco. 
Foi penoso deixar tantas músicas de fora da lista, mas foi o alinhamento decidido naquele momento e segundo os parâmetros que escolhemos. Noutra situação, a escolha poderia ter sido radicalmente diferente, mas o céu é o limite e, por isso mesmo, haverá seguramente um Vol.2, para podermos continuar o desafio, que corre sérios riscos de se tornar viciante.

Ao ouvir o vosso disco, é notável como apesar de juntar versões de artistas alguns até cronologicamente mais distantes uns dos outros, as canções como por magia parecem ser todas do mesmo autor. Como obtiveram essa sonoridade própria que percorre o disco?

Raquel Ralha e Pedro Renato – As influências musicais de ambos, têm imensos pontos em comum e mesmo as partes que divergem, deram o seu contributo. Inocentemente ou não, ainda acreditamos que temos uma visão diferente e própria, com algo a dizer ao mundo, em geral, e com algum contributo para a música, em particular. A sonoridade própria de que falas é só uma consequência de vários anos a trabalhar na música conjuntamente.

São recriações, ou versões? há distinção entre uma e outra, ou não…?


Raquel Ralha e Pedro Renato – No fundo, o foco foi dar algo de profundamente nosso ao disco e a cada tema em particular, homenageando ao mesmo tempo artistas que nos influenciaram e que, se calhar inconscientemente, nos fizeram querer fazer música. Este disco dá-nos uma sensação de fecho de círculo pessoal, de cumprimento de dívida de gratidão para com o universo musical e artistas que admiramos.


Foi editado em CD, e vai haver ainda lugar para um vinil. Há então algo no alinhamento que distinga uma da outra edição? Podem falar-me um pouco sobre isso?

Raquel Ralha e Pedro Renato – O CD single tem “Nerves” (Bauhaus), que não está nem no CD, nem no vinil. A edição em CD tem “Strange Days” (The Doors), “The Future” (Leonard Cohen) e “Nine Million Rainy Days” (The Jesus & Mary Chain) que não estão no vinil. A edição em vinil tem “A Question of Lust” (Depeche Mode) e “People Are Strange”, que não estão no CD. De fora ficou ainda uma das primeiras versões gravadas (“Right Now” – The Creatures), que será editada na compilação Cover de Bruxelas Sessions com o selo da Lux Records.

A vosso ver e como músicos, entre David Bowie, Siouxsie & The Banshees, Leonard Cohen e John Lennon, apenas para nomear alguns… qual foi a versão neste disco que foi mais difícil de conseguir?

Raquel Ralha e Pedro Renato – Talvez a versão do David Bowie – “I’m Deranged” – facto que se revelou ainda mais gratificante após o nosso agrado com o resultado final.

Há harmónios, mellotrons, toy pianos, – esta recriação retrocede no vosso tempo, um tempo muito mais além e até anterior da vossa adolescência. Quiseram manter esse lado mais vintage da escolha dos arranjos misturado com a modernidade?

Raquel Ralha e Pedro Renato – Quando chegámos ao estúdio Blue House, dos nossos amigos Jorri e João Rui (A Jigsaw), deparámo-nos com uma grande variedade de instrumentos. Sobretudo teclados, alguns que estamos habituados a usar e outros menos, o que, à partida, nos motivou a seguir um caminho com mais teclados do que seria normal, embora a utilização desses instrumentos vintage seja uma característica que nos tem acompanhado ao longo da carreira, por isso não é um território de todo desconhecido para nós.

Há também um lado certamente mais diabólico na escolha do título do disco e nos temas escolhidos apesar de alguns serem musicalmente mais ensolarados do que outros.  O que têm a vosso ver estes artistas em comum? Será esse lado mais negro?

Raquel Ralha e Pedro Renato – Os pólos do Bem e do Mal, são as grandes forças que nos regem nesta vida. Não há volta a dar. E ao escolhermos estes temas, pelos temas em si e pela temática obscura ou atormentada que os caracteriza, homenageamos esse lado mais negro que todos os artistas, em alguma fase das suas vidas, precisaram de exorcizar, e ainda bem. Porque há muita coisa de bom a aprender com o “Mal” e dele emana uma força incrível que se (em)presta à criação. Andrei Tarkovsky dizia: “(…) O horrível e o belo estão contidos um no outro. Em todo o seu absurdo, este prodigioso paradoxo alimenta a própria vida, e, na arte, cria aquela unidade ao mesmo tempo harmónica e dramática.”


Têm canções já em aberto para uma nova incursão? Uma vez que The Devils Choice Vol. 1 nos deixa na expectativa de uma continuação.

Raquel Ralha & Pedro Renato – Temos uma (ainda) pequena lista de temas para um Vol.2, sim, e esperamos começar a trabalhar no próximo disco em breve.

Ao vivo, depois do trabalho de estúdio, como é transportar estas canções, estes clássicos, para o palco?

Raquel Ralha & Pedro Renato – É um misto de prazer imenso e respeito desmedido dar corpo a estas canções e poder, através delas, exteriorizar um pouco de nós também. É de referir que uma das razões que levou à realização deste projecto foi a nossa necessidade de criar uma estrutura mais pequena que nos permitisse andar na estrada e, como tal, para além de nós os dois, tentamos sempre ter um outro músico connosco, mas não mais que isso, o que leva a que tenhamos sempre em palco um computador que dispara parte dos instrumentais que a logística não permite recriar ao vivo.

E, já agora quando os vamos poder escutar e ver ao vivo. Estão planeadas datas próximas para colocar nas nossas agendas?

Raquel Ralha & Pedro Renato – A próxima data será em Coimbra, no Teatrão, no dia 9 de Junho, para celebrar a recente edição de The Devils Choice Vol. 1 em formato vinil . Estão mais datas por confirmar, mas, posteriormente, iremos actualizando essa informação na nossa página do Facebook.


Entrevista por: Lucinda Sebastião
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